"Com gritos estranhos e pronunciando coisas que aparentemente nenhum
mortal em seu juízo normal pudesse entender, teve início, em Los Angeles, a
mais recente seita religiosa." Foi isso o que disse a edição de 18
de abril de 1906 do Los Angeles Times. ‘As
reuniões acontecem em um prédio decadente da Rua Azusa, e os devotos de
doutrinas estranhas praticam os ritos mais fanáticos, pregam as mais
extravagantes teorias e se colocam em um estado de louca euforia quando se
ao entregar ao fervor pessoal."
A
publicidade negativa realmente ajudou a trazer mais pessoas. Alguma coisa
sobrenatural acontecia naquele prédio antigo. William J. Seymour, pregador
batista negro, recém-chegado de Houston, chamava os crentes a dar um passo a
mais. Na verdade, dois passos: ele queria que eles se "santificassem"
e que fossem "batizados no Espírito Santo". O batismo, dizia ele,
seria acompanhado pelo falar em línguas.
Houve
outras irrupções do falar em línguas ao redor dos EUA e da Europa nos anos
anteriores, mas o acontecimento da Rua Azusa foi a grande explosão. As reuniões
continuaram naquele "prédio decadente" por vários anos. Muitas
pessoas viajaram para lá simplesmente para ver o que estava acontecendo.
O
mundo estava pronto para o avivamento. O final do século XIX assistiu à grande
revolução industrial. As pessoas se tornavam engrenagens da máquina social. A
lacuna entre os ricos e os pobres aumentava. Infelizmente, a igreja, com
frequência, pendia mais para os ricos. Até mesmo grupos "comuns" e
tradicionais, como os batistas e os metodistas, enfatizavam mais os bens
materiais do que a energia espiritual. Graças aos precursores avivalistas, como
Finney e Moody, as igrejas estavam cheias. Porém, muitos que professavam o
cristianismo ainda careciam de alguma coisa.
O
movimento Holiness [Santidade] foi o primeiro passo na direção do avivamento.
Essas agitações, especialmente na Igreja Metodista, buscavam uma "segunda
bênção" de Deus, na qual os crentes seriam "santificados" para
viver uma vida santa. Os ensinamentos de Keswick também tiveram seu impacto,
tanto na Europa quanto nos EUA. Criados nas convenções anuais de Keswick, na
Grã-Bretanha, os mestres de Keswick imploravam aos cristãos: "Caminhem no
poder da ressurreição de Cristo"; "Deixe Cristo reinar em sua
alma". Não aconteceu nada muito radical ali, a não ser a vontade de uma
experiência cristã mais plena, para utilizar a linguagem que os pentecostais
usariam mais tarde.
Outra
corrente de pensamento que apressou o surgimento do incipiente movimento
pentecostal foi o pré-milenarismo, popularizado por J. N. Darby e a Irmandade
de Plymouth. A virada do século fez com que as posições pré-milenaristas e
pós-milenaristas ficassem conhecidas. Muitos começaram a propagar a ideia de um
"século cristão", no qual a igreja e a tecnologia prenunciariam o
Reino de Deus. Os pré-milenaristas, no entanto, afirmavam que o fim dos tempos
estava próximo, pois seria caracterizado, como era profetizado, pelo irromper
de uma atividade espiritual.
É
possível encontrar base para o movimento pentecostal em 1896. William F. Bryant
liderou o avivamento no condado de Cherokee, na Carolina do Norte, que incluía
o falar em línguas. Como essas manifestações continuaram, as pessoas foram
expulsas das igrejas, edifícios religiosos foram queimados e o próprio Bryant
foi atingido por um tiro. Falar em línguas não era uma atividade popular no
condado de Cherokee.
O
avivamento no País de Gales, entre 1904 e 1906, teve, certamente, impacto no
clima religioso de sua época. Evan Roberts, ex-mineiro, viajou por todo o país
de Gales e, mais tarde, pelo mundo, proclamando o ministério do grande
avivamento do Espírito. O falar em línguas não era enfatizado de maneira
específica, mas sim o poder espiritual. Um pequeno grupo de pastores da área de
Los Angeles visitou o País de Gales e tentou trazer o avivamento para suas
igrejas, mas obtiveram sucesso limitado. Contudo, as sementes da restauração
estavam sendo lançadas em Los Angeles.
Se
preferir, você pode observar o movimento de restauração da virada do século XIX
que apelava para um retorno aos dons e às práticas da igreja apostólica, especialmente
o dom de cura. John Alexander Dowie afirmava que era Elias, o restaurador, e
estabeleceu uma comunidade cristã (que mais tarde se tornou a cidade de Zion
[Sião], no Estado de Illinois). No Estado do Maine, Franck Sandford também
afirmava ser Elias, o restaurador, que viera estabelecer uma comunidade em
Shiloh [Silo].
Em
1900, Charles Fox Parham passou cerca de seis semanas em Shiloh. Ele era um
pregador metodista da linha Holiness, do Kansas, que procurava a "fé
apostólica". Ele e sua esposa fundaram uma "casa de cura" em
Topeka, onde as pessoas poderiam permanecer gratuitamente enquanto oravam por
sua cura. Em Shiloh, Parham ficou impressionado com a escola bíblica fundada
por Sandford, O Espírito Santo e Nós, cuja abordagem era claramente antiacadêmica.
A Bíblia era o único texto usado, e o único professor era o Espírito Santo.
Parham fundou uma escola similar, quando voltou para sua casa. Cerca de
quarenta estudantes se matricularam.
Em
dezembro daquele ano, Parham pediu a seus alunos que procurassem nas
Escrituras, para ver se havia algum sinal que supostamente indicaria a
existência do batismo no Espírito Santo. Quando se reuniram no culto de vigília
do Ano-Novo, eles já tinham a resposta: o batismo no Espírito Santo seria
manifestado pelo dom de línguas. Agnes Ozman orou para receber o Espírito Santo
e "a glória caiu sobre ela", como disse Parham. "Um halo parecia
cercar sua cabeça e seu rosto, e ela começou a falar o idioma chinês. Ela não
foi capaz de falar inglês por três dias." No mês seguinte, a maioria dos
alunos teve experiência similar.
Os
esforços de Parham para espalhar esse avivamento para as cidades de Kansas City
e Lawrence fracassaram. As igrejas se opuseram, e os jornais zombaram desse
fato. Em 1903, uma mulher do Texas foi curada depois de uma oração de Parham, o
que levou a convidá-lo a promover um avivamento na cidade de Galena, no Texas.
Esse empreendimento foi bem-sucedido. Em 1905, essas reuniões
"pentecostais" ou do "evangelho pleno" aconteciam no Mis-souri,
no Kansas e no Texas, e eram frequentadas por cerca de 25 mil pessoas.
Depois
da campanha de Houston, em 1905, Parham fundou outra escola bíblica ali. Um dos
alunos mais promissores foi William J. Seymour. Uma mulher de Los Angeles
visitou a escola de Houston e teve uma experiência de batismo no Espírito
Santo. Quando retornou para sua casa, ela insistiu em que a congregação do
Nazareno convidasse Seymour para ser pastor auxiliar daquela comunidade.
Ironicamente,
a igreja que trouxera o avivamento pentecostal para Los Angeles não queria ter
participação alguma nesse avivamento. A ênfase que Seymour dava ao ato de falar
em línguas ofendeu alguns membros, e ele ficou proibido de participar da
igreja. Por fim, ele começou a realizar cultos na casa de alguns amigos. Os
cultos duraram três dias e três noites, atraindo muito mais pessoas do que a
casa comportava. As pessoas se organizaram para mudar para um prédio na Rua
Azusa, ocupado anteriormente por uma Igreja Metodista. Ali, sentadas (e em pé!)
nos bancos de tábua, entre materiais de construção, as pessoas continuaram seu
culto de adoração cheias do Espírito. A igreja passou a se chamar Missão
Evangélica da Fé Apostólica.
Todas
as linhas da renovação espiritual pareciam convergir para esse prédio. Ele foi
a Meca pentecostal. Por vários anos, serviu como centro de um movimento
pentecostal crescente. As pessoas visitavam o local e tentavam levar de volta
para suas casas o que encontravam ali.
A
despeito desse foco geográfico, o movimento pentecostal foi extremamente
diversificado. Havia um grande número de líderes carismáticos, incluindo
Seymour e Parham, que reuniam seguidores, bem como disputavam uns com os
outros. O movimento também foi intencionalmente desvinculado de organização e
de denominações, pois se preocupava apenas em seguir a orientação do Espírito.
Isso pode explicar a abundância de pequenas denominações pentecostais que
existem hoje.
A
Assembleia de Deus, a maior denominação pentecostal hoje em dia, começou como
uma tentativa de alcançar alguma coesão — assim como alguma regulamentação —
dentro do movimento. Havia muitas acusações de conduta inadequada nas áreas
financeira e sexual por parte dos principais pregadores. Havia também várias
disputas doutrinárias.
Um
grupo de pentecostais do sul dos EUA, liderado por Eudorus N. Bell, passou a se
autodenominar Fé Apostólica e começou a buscar união dentro do movimento. À
medida que outras pessoas se juntaram a eles, o nome mudou para Igreja de Deus
em Cristo. Em 1913, essa igreja era composta por 352 ministros em uma associação
bastante livre, sem qualquer autoridade que os unisse. Em abril de 1914, o
grupo convocou todos os pentecostais para uma reunião em Hot Springs, no
Arkansas. O propósito era: união, estabilidade, credibilidade do movimento e
criação de um programa de missões e de institutos bíblicos. Foi assim que
nasceu a denominação chamada Assembleia de Deus.
Apesar
de as questões pentecostais se tornaram a razão pela qual houve divisão de
muitas igrejas não-pentecostais, o pentecostalismo provavelmente foi a arma
mais poderosa do cristianismo no século XX. Sua ênfase em missões e no
evangelismo resultou em um crescimento fenomenal do movimento, tanto nos EUA
quanto por todo o mundo.
Por
A. Kenneth Curtis
J. Stephen Lang
Randy Petersen
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