Por: Del Fehsenfeld Jr.
Através dos meus estudos das
Escrituras e da história da igreja, só posso concluir que nada menos que um
genuíno avivamento poderá nos poupar do juízo de Deus. Precisamos de verdadeiro
avivamento – não de uma campanha de avivamento, com reuniões devidamente
programadas e divulgadas – porém, de um autêntico mover de Deus em que seu povo
se humilhe, ore, busque sua face e abandone seus caminhos perversos. Precisamos
sentir convicção de pecados, ser purificados e transformados pelo poder do
Espírito Santo. Só assim ele poderá manifestar sua glória através de nós a um
mundo perdido que precisa desesperadamente da sua graça.
Uma igreja apóstata,
centrada em si mesma, não tem interesse em evangelizar os perdidos, nem tem
poder de Deus para convencer as pessoas dos seus pecados. Não podemos
permanecer do jeito que estamos e esperar conquistar o mundo para Cristo. Só
quando adotamos os valores, as prioridades e as preocupações do coração de Deus
é que poderemos ser capacitados pelo seu Espírito para cumprir nosso verdadeiro
chamamento de ser o sal da terra e a luz do mundo.
O avivamento é necessário
para trazer a igreja de volta ao cristianismo do Novo Testamento e liberar o
poder de Deus na nossa geração. Tal avivamento nos santificará e nos
purificará, trazendo maior arrependimento pelo pecado em nossas vidas. Também
nos revestirá com o poder do Espírito Santo, para não termos de usar nossas
engenhosas estratégias, soluções e artimanhas humanas. Levará nossos corações a
correr após Deus com novo vigor e devoção. E, finalmente, tal avivamento nos
dará uma nova visão da obra de Deus nesta terra.
Quando o avivamento vier,
levará embora tudo que não glorifica a Deus, e nos deixará focados nele,
somente nele. Seremos incapazes de nos interessar em qualquer outro objetivo ou
atração. A madeira, o feno e a palha do esforço humano serão consumidos pela
presença de Deus. Somente o ouro, a prata e as pedras preciosas, que são
resultado de atividade sobrenatural, permanecerão. Enquanto Deus forma seu
caráter em nós, a glória da sua presença se manifestará através das nossas
vidas.
O clamor de coração por
avivamento foi expresso pelo salmista quando escreveu: “Porventura, não
tornarás a vivificar- nos, para que em ti se regozije o teu povo?” (SI 85.6).
Quando Deus é glorificado em nossas vidas, experimentamos o verdadeiro
propósito para o qual fomos criados. Então, e somente então, poderemos conhecer
o poder da sua presença e a alegria da nossa salvação.
A glória de Deus é a manifestação
da sua presença. Em todo lugar onde Deus for reconhecido, adorado e obedecido,
ele manifestará sua glória. Os israelitas no Velho Testamento a chamavam
shekinah ou a glória de Jeová. Moisés a viu e seu rosto passou a brilhar, por
ter estado na presença de Deus. Mais tarde, a shekinah pousou sobre a arca da
aliança, no tabernáculo, por quase quinhentos anos. Finalmente, a arca foi
colocada no templo de Salomão em Jerusalém. Lá permaneceu por mais de
quatrocentos anos.
Por quase um milênio, a
glória de Deus habitou com o povo de Israel. Mas chegou um tempo quando Deus
retirou sua glória e partiu, deixando Israel sem esperança contra seus
inimigos. Se nós, hoje, não nos arrependermos dos nossos pecados, receio que o
mesmo ocorrerá conosco. Na verdade, Deus já pode estar se retirando de nós.
Quando a Glória se Afasta
Ezequiel, que era, ao mesmo
tempo, um profeta e um sacerdote, foi levado ao cativeiro pelos babilônios.
Enquanto estava no cativeiro, Deus lhe apareceu do meio de um redemoinho, numa
grande nuvem de glória e fogo, semelhante àquela que guiou os israelitas,
enquanto caminhavam pelo deserto. A visão de Ezequiel nos leva a uma estranha
jornada à terra de Israel, quando foi arrebatado pelo Espírito de Deus e
transportado de volta a Jerusalém.
Os babilônios haviam tomado
o poder naquela região do Oriente e estavam ameaçando o reino de Judá. Profetas
como Jeremias, Daniel e Ezequiel levantavam a voz para advertir o povo do
iminente desastre que viria, se o povo não se arrependesse dos seus pecados –
porém, o povo não deu ouvidos aos avisos.
Jerusalém estava às margens
do desastre. Mais um ato de rebeldia e os babilônios ameaçavam voltar e
destruir a cidade e seu amado templo. Durante os dez anos seguintes, o povo se
recusou a arrepender-se e a buscar o Senhor. Ao invés disso, aprofundaram-se
ainda mais na idolatria e na corrupção do pecado.
Os cativos, como Ezequiel,
esperavam por alguma notícia de avivamento espiritual, lá da sua amada terra
natal. Quem sabe, Jerusalém ainda seria poupada – porém, nenhuma notícia de
avivamento chegou aos seus ouvidos. Pelo contrário, as Escrituras nos dizem:
“Também todos os chefes dos
sacerdotes e o povo aumentavam mais e mais as transgressões, segundo todas as
abominações dos gentios; e contaminaram a casa que o Senhor tinha santificado
em Jerusalém. O Senhor; Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes
por intermédio dos seus mensageiros, porque se compadecera do seu povo e da sua
própria morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras
de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o seu
povo, e não houve remédio algum” (2 Cr 36.14-16).
O que poderia ter acontecido
para chegar a este ponto de não existir mais remédio? Ezequiel iria descobrir
de primeira mão. Deus lhe disse que havia colocado Jerusalém estrategicamente
“no meio das nações” (Ez 5.5). Mas, ao invés de permanecer fiel a Deus como
testemunha àquelas nações, ela mudara as ordens do Senhor em maldade e rebelara
contra suas leis. Por isto, Deus anunciou-lhe: “Eis que eu, eu mesmo, estou
contra ti… por causa de todas as tuas abominações” (Ez 5.8,9).
O Espírito de Deus, então,
levantou Ezequiel e o transportou a Jerusalém, ao templo. O profeta testificou
que a glória de Deus ainda estava lá (Ez 8.4), mas ficou chocado ao ver o que
mais estava naquele lugar sagrado. Primeiro, viu ali um ídolo pagão babilônio
(uma “imagem de ciúmes”), à porta do altar. Depois, Deus cavou um buraco na
parede do santuário, para deixar Ezequiel ver dentro da casa de Deus (Ez 8.7).
Quando o profeta entrou, viu
os ídolos da casa de Israel (o reino do norte), semelhantes a répteis e animais
abomináveis, pintados sobre as paredes (v. 10). Na porta do santuário, viu
mulheres chorando por Tamuz, uma deusa assíria (v. 14). Finalmente, encontrou
vinte e cinco homens, de frente para o oriente, e de costas para o templo,
adorando o deus egípcio do sol (v. 16).
Eu creio que Deus quer
rasgar um buraco na parede da igreja hoje e expor seu pecado. Somos fracos e
impotentes para impedir a maré de humanismo e modernismo, porque não somos um
povo santo de Deus. Se pudéssemos ver o interior das vidas dos pregadores,
líderes e povo de Deus em geral, ficaríamos abismados. Revelações recentes de
corrupção moral e financeira na vida de alguns dos mais proeminentes
representantes cristãos são apenas a ponta do iceberg de decadência espiritual
e moral nas nossas igrejas.
As sociedades ocidentais
estão em apuros hoje porque suas igrejas estão em apuros. Não temos direção
nesta hora de crise porque não temos líderes espirituais. Muitos dos pregadores
mais famosos estão mais interessados em promover a si mesmos do que em promover
a Jesus Cristo.
Estão mais preocupados com
sua própria prosperidade material do que com o bem-estar espiritual da igreja.
Abra um buraco na parede de hipocrisia da igreja atual e certamente verá as
pessoas se inclinando aos ídolos deste século também.
Tudo isto deve ter parecido
inacreditável ao profeta Ezequiel. Como o povo de Jerusalém poderia se abaixar
a tal corrupção e ainda esperar o favor de Deus? Talvez estivessem apenas
achando que seu favor era um privilégio automático. Muitos acreditavam que Deus
nunca permitiria que seu templo fosse destruído; assim, tinham um falso senso
de segurança. Estavam confiando no edifício e não no Senhor.
Outros sabiam que a glória
shekinah repousava sobre a arca da aliança no Santo dos Santos. Tão poderosa
era a glória de Deus que ninguém ousava olhar dentro da arca, nem se aproximar
dela. Mesmo o sumo sacerdote só podia entrar no Santo dos Santos uma vez por
ano no Dia da Expiação.
Certamente, Ezequiel deve
ter se perguntado como Deus podia permanecer com seu povo, quando este havia
violado seu templo de forma tão severa. Foi então que algo aconteceu que
Ezequiel pensou que nunca presenciaria – a glória de Deus partiu! Em três
estágios distintos, a glória de Deus se levantou do querubim onde estava
(10.4), saiu da entrada da casa (10.18), e finalmente subiu da cidade, indo
para o monte ao oriente (11.23).
Posso apenas imaginar a
glória shekinah começando a sair da arca pela primeira vez em mil anos. Oh,
como Deus devia estar entristecido! Aos poucos, a nuvem de glória saiu das asas
do querubim e começou a levantar-se acima da arca da aliança. Mais e mais alto
subia, até que a nuvem encheu o átrio exterior, e depois começou a se afastar
do templo, deixando-o vazio, escuro e sem vida.
Ninguém Notou Que Deus Foi
Embora
Aos poucos, e com pesar,
Deus foi embora de Jerusalém, e ninguém notou, com exceção de Ezequiel. Todos
estavam ocupados demais com suas rotinas diárias, agendas cheias e rituais
religiosos, para observar que Deus os havia abandonado. Só podemos presumir
que, durante os anos seguintes, continuaram brincando de religião sem Deus.
Talvez o sumo sacerdote mentiu ao povo, quando entrou no Santo dos Santos
aquele ano e descobriu que estava escuro, e que a glória de Deus não estava
mais lá. Afinal, não daria para contar ao povo que a glória de Deus
desaparecera. O que pensariam? Por isso, provavelmente ficou quieto e não
confessou que a glória já tinha partido.
Estou profundamente
incomodado com a situação das nossas igrejas hoje. Estão cheias dos ídolos da
civilização moderna. Achamos que podemos ter tudo que este mundo tem para
oferecer e, de alguma forma, ficar com Deus também. A profecia de Ezequiel foi
dirigida à nação de Israel, que tinha um relacionamento especial de aliança com
Deus. Porém, há uma semelhança marcante com a igreja no mundo ocidental hoje.
As acusações do profeta de Deus não foram direcionadas aos babilônios pagãos,
mas ao povo de Deus.
Há gente demais fazendo os
atos exteriores da religião, porém sem a presença de Deus. Temos cultos,
programas, projetos, casamentos, funerais, e comunhão; porém não temos a
presença e o poder de Deus. Billy Graham disse uma vez que se o Espírito Santo
fosse embora da igreja, 90% de todas as atividades continuariam sem qualquer
alteração!
Grande parte do que acontece
nas nossas igrejas pode ser explicada por esforço próprio, diligência e
manipulação psicológica. Nunca me esquecerei do que Adrian Rogers disse, certa
vez, em uma conferência de quatro mil homens: “Não podemos esperar que alguém
acredite em nós enquanto pudermos ser explicados”. Só a intervenção
inexplicável de Deus no coração do seu povo poderá demonstrar seu verdadeiro
poder ao nosso mundo hoje.
O problema é que as coisas
não estão melhorando. Charles Colson disse: “Há uma sensação de que as coisas
estão desmoronando e que, de alguma forma, a liberdade, a justiça e a ordem
estão desvanecendo imperceptivelmente. Nossa grande civilização talvez ainda
não esteja em ruínas fumegantes, mas o inimigo está dentro dos nossos portões.
A época parece lembrar o pôr-do-sol…”
Esta sensação assustadora
das trevas que avançam sobre nós é o que preocupa os líderes cristãos de hoje.
Como crianças que têm medo do escuro, gostaríamos de correr e nos esconder.
Mas, no nosso medo, esquecemo-nos de que nossa maior arma contra as trevas é a
luz da Palavra de Deus e a presença do seu Espírito em nossas vidas. Como
Israel na antigüidade, somos recipientes da glória de Deus, porque ele habita
em nós. E, como naquele tempo, a igreja hoje parece estar perdendo a glória,
embora poucos queiram admiti-lo.
Os problemas que enfrentamos
hoje não são uma questão de apenas alguns elementos corruptos no nosso meio.
Receio que se trata de um mal canceroso que está corroendo a própria fibra do
cristianismo. Nossa condição é profunda e séria, e não vai simplesmente
desaparecer. Deus está se afastando de nós pelas mesmas razões que foi embora
de Israel. Se não nos arrependermos do nosso egocentrismo e maldade, ele também
nos deixará aos nossos próprios recursos, até que não haja mais “remédio”.
Del Fehsenfeld Jr. foi
fundador do ministério Life Action Ministries, que continua até hoje, mesmo
após o seu falecimento em 1989.
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