Dr. Paulo Romeiro
tecnológico das últimas décadas abriu
largas avenidas para a pregação do Evangelho por meio da mídia, principalmente
pelo rádio e pela televisão, dando assim acentuada visibilidade a um fenômeno
muito antigo e nada recomendável: o culto à personalidade.
Isso acontece porque o ser humano é
um adorador por natureza e cultuar é uma de suas atividades essenciais.
Entretanto, no seu afã de adorar ele tomou, ao longo da história, caminhos
espiritual e socialmente tortuosos. Desde jangais da África, desertos da
Arábia, até ao frenesi das grandes metrópoles, adoradores podem ser encontrados
aos bilhões, ora prostrando-se diante de uma vaca sagrada, de algum amuleto, ou
altar, ora diante de algum líder religioso ou guru. O interessante é que, quando
o ser humano não adora em espírito e em verdade (Jo 4.23, 24), ele corre o
risco de procurar ser adorado.
Não faz muito tempo, a revista Isto É
publicou um artigo sobre o comportamento dos famosos da música e do cinema com
seus fãs. Isso aconteceu durante a visita dos Rolling Stones ao Brasil:
Sol
inclemente ou chuva constante. Horas e horas parados diante de um edifício.
Para um fã não existe limite. Vale tudo para estar perto do seu ídolo. Esta é a
única razão para justificar por que a publicitária Rita de Cássia Gemignani, 26
anos, e a secretária Michele Lopes, 25, abandonaram seus empregos e
se entregaram à empreitada de chegar o mais próximo possível dos Rolling
Stones. Acompanharam os três shows da banda em São Paulo, os dois no Rio de
Janeiro e, não satisfeitas, bandearam-se para Buenos Aires, escala seguinte da
megaturnê ( ….) A rotina de fãs apaixonadas como Rita de Cássia e Michele, que
também adoram os Beatles, é toda organizada em função da vida dos mitos
idolatrados. Eles mergulham num mundo paralelo e, por causa disso, à vezes
perdem a identidade. Este culto às celebridades costuma chegar à beira da
irracionalidade nos Estados Unidos (…) Esta devoção não raramente se transforma
em casos patológicos, capazes de ofuscar até mesmo o senso de ridículo (…) A
passagem dos Stones pelo Brasil confirmou a modernidade na adoração dos mitos.
(Revista Isto É -15 de fevereiro de 1995, p. 42-3.)
Nem os mortos escapam a esse culto,
como, por exemplo, Elvis Presley e Raul Seixas.
O
fator carisma
Certamente que essa atração, domínio
e, muitas vezes, manipulação do ídolo exercidos sobre o fã têm muito a ver com
um fator denominado carisma. O dicionário Aurélio define carisma da seguinte
maneira: “uma força divina conferida a uma pessoa ou a atribuição a outrem de
qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica,
diabólica, ou apenas de individualidade excepcional” (p. 354).
Geralmente, a pessoa dotada de um
forte carisma é conhecida por seu magnetismo irresistível, sua aparência de
vencedor e pelo entusiasmo com que defende uma causa, ou apresenta um produto.
Tal entusiasmo pode ser visto freqüentemente nos executivos ou no pessoal de
liderança da Amway, uma rede internacional de distribuição de produtos que tem
atraído muitos evangélicos atualmente, e ainda nos cursos de Lair Ribeiro.
Max Weber, sociólogo alemão, fez uma
excelente análise, no livro Ensaios de Sociologia, sobre o papel do carisma no
relacionamento do ídolo com seu fã:
A expressão “carisma” deve ser
compreendida como referindo-se a uma qualidade extraordinária de uma pessoa,
quer seja tal qualidade real, pretensa ou presumida. “Autoridade carismática”,
portanto, refere-se a um domínio sobre os homens, seja predominantemente
externo ou interno, a que os governados se submetem devido à sua crença na
qualidade extraordinária da pessoa específica. O feiticeiro mágico, o profeta…
o chefe guerreiro… o chefe pessoal de um partido são desses tipos de
governantes para os seus discípulos, seguidores, soldados, partidários, etc. A
legitimidade de seu domínio se baseia na crença e na devoção ao extraordinário,
desejado porque ultrapassa as qualidades humanas normais e originalmente
considerado como sobrenatural. Alegitimidade do domínio carismático baseia-se,
assim, na crença nos poderes mágicos, revelações e culto do herói. (Max Weber,
Ensaios de Sociologia, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1982, 5. ed.,
p. 340.)
O
culto político
O culto à personalidade tem-se
repetido também ao longo da história no relacionamento entre os senhores
feudais e seus vassalos, entre políticos e povo, e entre ditadores e seus
seguidores. Michael Green faz uma relevante observação quanto a esse fenômeno:
Os fiéis, na verdade, endeusam o
líder: ele é supremo e a sua vontade tem que ser obedecida. De fato, sua
posição corresponde quase que exatamente àquela do imperador romano que exercia
completo poder político sobre o mundo conhecido e era adorado por seus
subjugados. Da mesma forma Hitler declarou ser o emissário do Todo-Poderoso e o
fundador do reino de mil anos. Os nazistas morriam invocando o seu nome, e sua
personalidade era considerada transcendente. O mesmo aconteceu com Mao. Ele não
era apenas um líder; ele era divindade. Ele foi adorado. As pessoas se
ajoelhavam diante dele. Elas recitavam seus pensamentos. Elas acreditavam que
ele as curava através das mãos de um cirurgião. Ele tomou o lugar de
Deus.(Michael Green, I Believe in Satan’s Down fall – Creio na queda de
Satanás, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., William B. Eerdmans Publishing
Company, 1981, p. 158.)
É impressionante como o homo sapiens
do final do século vinte, que vive rodeado de uma tecnologia avançada, de um
saber multiplicado, ainda se comporta de forma tão ingênua, permitindo que outros
o explorem espiritualmente. A seguir, alguns relatos bíblicos do culto à
personalidade.
Exemplos
bíblicos
A moda não é de hoje. No Sermão da
Montanha, Jesus alertou várias vezes sobre aqueles que davam esmolas, oravam e
jejuavam tocando trombeta a fim de serem vistos pelos homens. Ele chamou tais
pessoas de hipócritas (Mt 6:1-18). Assim eram os escribas e fariseus, que
buscavam sempre o louvor do próximo. Eram eles que praticavam todas as suas
boas obras e se vestiam alargando seus filactérios e alongando a franja de suas
roupas com o fim de serem vistos pelos homens. Amavam também o primeiro lugar
nos banquetes, as primeiras cadeiras nas sinagogas, gostavam de ser saudados e
chamados de mestres pelos seus semelhantes (Mt 23.5-7).
Jesus não poupou adjetivos ao
repreendê-los por tal atitude, chamando-os de hipócritas, guias cegos,
insensatos, serpentes, raça de víboras e sepulcros caiados, que por fora se
mostram belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a
imundícia (Mt 23.13, 16, 27, 33). O Senhor alertou ainda que, ao fazer o bem, a
mão esquerda não venha a saber o que fez a direita (Mt 6.3), bastando apenas ao
Pai ficar sabendo, pois é ele quem vai dar a recompensa (Mt 6.4).
Sem dúvida, todo cristão deve se
envolver em obras sociais a fim de promover o bem-estar do seu próximo. Por
outro lado, foge completamente aos ensinos da Bíblia quando um grupo desenvolve
uma obra social, como distribuição de cestas básicas ou qualquer outro tipo de
socorro humanitário, e fica o tempo todo mostrando isso no seu próprio canal de
televisão. É o comportamento dos escribas e fariseus, condenado por Jesus,
repetindo-se atualmente. Por isso, admiro o Exército da Salvação, que tem, já
por décadas, desenvolvido o seu ministério de socorrer os necessitados sem
chamar a mídia para alardear o que faz.
Um outro exemplo de culto à
personalidade pode ser observado nos eventos que precederam a morte de Herodes.
A Bíblia diz que ele foi aclamado pelo povo e comido de vermes (At 12.21-24). O
historiador Flávio Josefo relata que Herodes programou um festival na cidade de
Cesaréia em homenagem a César. No segundo dia do festival, Herodes apareceu de
manhã no teatro vestido de prata, refletindo um brilho intenso devido aos raios
do Sol. O povo começou então a clamar-lhe:
- Seja misericordioso para conosco;
pois embora até hoje tenhamos te reverenciado apenas como homem, te
consideraremos de agora em diante como superior à natureza mortal.
Diante disso, o rei não os repreendeu
nem rejeitou tal ímpia adulação. No mesmo instante, ele sentiu uma dor muito
forte no abdome e foi levado para o palácio, onde morreu cinco dias depois.
(Flávio Josefo, Josephus, Antiguidade dos Judeus, Grand Rapids, Michigan,
E.U.A., Kregel Publications, 1960, Livro 19, capítulo 8.2, p. 412.)
Outro exemplo claro é o de Paulo e
Barnabé em Listra. Ali, um homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento,
foi curado depois de ouvir a pregação de Paulo. Quando a multidão viu o que
aconteceu, começou a gritar:
- Os deuses, em forma de homens,
baixaram até nós.
A Barnabé chamaram Júpiter, e a
Paulo, Mercúrio, deuses mitológicos. O sacerdote de Júpiter, que tinha um
templo em frente da cidade, trouxe para junto das portas da cidade touros e
grinaldas para, junto com a multidão, fazer um sacrifício em homenagem aos dois
apóstolos (At 14.6-13). Paulo e Barnabé recusaram de imediato e com veemência a
oferta ou qualquer reconhecimento quanto ao milagre que acabara de acontecer,
pois eram verdadeiros homens de Deus, desprovidos de qualquer ambição. Mas fico
pensando em muitos hoje que não hesitariam em receber as homenagens, e
certamente iriam até mais longe. Aproveitariam o evento para manipular e
explorar ainda mais a massa.
Há muitos outros relatos bíblicos que
mostram o relacionamento doentio entre uma personalidade e aqueles que lhe
prestam adoração, e o espaço não nos permite expandir mais este assunto.
Entretanto, vale lembrar aqui as palavras de Moisés usadas mais tarde por Jesus
quando foi tentado por Satanás: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás
culto” (Dt 6.13 e Mt 4.10).
Nas
seitas
O culto à personalidade pode ser
amplamente observado no relacionamento entre líderes de seitas e seus adeptos.
A igreja mórmon, por exemplo, rende louvores ao seu fundador, Joseph Smith, com
o hino 108 do seu hinário oficial, intitulado: Hoje, ao profeta louvemos.
Os adeptos da seita Moon carregam
consigo uma foto do líder, reverendo Moon, para garantir a proteção dos anjos e
do bom mundo espiritual (revista Mundo Unificado, maio/ junho de 1984, p. 8).
As orações no grupo são feitas em nome dos verdadeiros pais, isto é, reverendo
Moon e sua esposa. Já a Palavra de Deus ensina que as orações devem ser feitas
em nome de Jesus (Jo 14.13, 14). Moon é considerado dentro da seita como o
Senhor do Segundo Advento, o Messias vivo na Terra. Quanta heresia!
Os adeptos do Tabernáculo da Fé
seguem os ensinos de William Marrion Branham, um controvertido pregador de cura
divina nos Estados Unidos, já falecido. Branham declarou ser o anjo de
Apocalipse 3:14 e 10:7 e que o arrebatamento da Igreja e a destruição do mundo
aconteceriam em 1977. Seus seguidores gostam de exibir uma foto de Branham
tirada em Houston, Texas, em 1950, em que aparece uma auréola (que mais parece
uma mancha) de luz sobre a sua cabeça, enquanto falava do púlpito. Depois de
falecer, em 1965, seus seguidores acreditavam que ele ressuscitaria. Alguns de
seus discípulos criam ser ele o próprio Deus, enquanto outros afirmavam que ele
havia nascido através de uma virgem (nascimento virginal). Alguns oravam a ele
e outros batizavam em seu nome.
Branham recebeu muito apoio da Full
Gospel Business Men’s Fellowship International (Associação Internacional dos
Homens de Negócios do Evangelho Pleno-Adhonep norte-americana), mas tal apoio
foi se reduzindo à medida que Branham se tornava cada vez mais controvertido,
nos anos 60. Uma das controvérsias foi o seu ensino conhecido como “a semente
da serpente”, onde afirmou que Eva se envolveu sexualmente com a serpente no Jardim
do Éden. (Patrick H.Alexander, Editor, Dictionary of Pentecostal And
Charismatic Movement – Dicionário dos Movimentos Pentecostal e Carismático,
Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1988, p. 95-6.)
(Tal ensino antibíblico é defendido também pela seita do reverendo Moon.).
Diante de tudo isso, é de se estranhar que alguns líderes pentecostais e
carismáticos, como Kenneth Hagin, Oral Roberts, Benny Hinn e Marilyn Hickey,
ainda hoje considerem ter sido William Branham um grande homem de Deus só por
causa dos milagres em torno de seu ministério.
O culto à personalidade pode ser
notado também na igreja Adventista do Sétimo Dia, onde os ensinos giram em
torno das interpretações bíblicas de sua profetisa, Ellen Gould White. Uma das
provas disso é que todo o candidato ao batismo deve preencher e assinar um
formulário em que declara crer no espírito de profecia e já ter lido alguns
livros da senhora White. Para os adventistas, ela possui o espírito de
profecia, sendo assim a única capaz de interpretar as Escrituras de forma
correta e confiável. Se alguém recusar a autoridade de Ellen White não poderá
ser um adventista do Sétimo Dia. Tanto na igreja do Tabernáculo da Fé quanto na
igreja Adventista do Sétimo Dia, os livros de William Branham e de Ellen White
são colocados numa posição de igualdade com a Bíblia Sagrada.
Um dos exemplos mais chocantes dos
perigos que cercam o culto à personalidade pôde ser verificado no grupo chamado
Ramo Davidiano, de David Koresh, em Waco, Texas, Estados Unidos. Em abril de
1993, o FBI cercou por vários dias o rancho onde Koresh e seu grupo estavam
reunidos, enquan
to a sociedade acompanhava apreensiva
os fatos pela mídia e aguardava com ansiedade um final feliz. Infelizmente, tal
não aconteceu. Depois de perceberem que a polícia estava prestes a fazer uma
invasão, Koresh e seu grupo preferiram transformar em chamas o rancho da seita
e morrer do que entregar-se ao FBI. No dia 19 de abril de 1993, entre 75 e 85
pessoas morreram, incluindo aproximadamente 25 crianças. Nove pessoas
sobreviveram.
Por que isso aconteceu? O que ou
quais cincunstâncias levaram um grupo de homens e mulheres a obedecer cegamente
um líder, mesmo até a morte? Naturalmente são muitos fatores, que, por falta de
espaço, não serão tratados aqui. Entretanto, seria interessante conferir o
relato de dois autores sobre o caráter megalomaníaco de Koresh, algo
relacionado com o assunto do nosso capítulo:
No seu cartão pessoal estava impresso
“Messias” e ele é citado como tendo declarado em inúmeras ocasiões: “Se a
Bíblia é verdade, então eu sou o Cristo”. Alguns acreditaram nele. Ele foi
capaz de convencer os maridos a entregar-lhe suas esposas, famílias a
entregar-lhe dinheiro e filhos. Seu estilo de vida paradisíaco permitiu-lhe
viver da renda dos outros. Em 19 de abril de 1993, havia quase cem pessoas
dispostas a morrer com ele pela promessa de uma vida no céu após a mortes.
(Tobias, L. Madeleine & Lalich, Janja, Captive Hearts, Captive Minds –
Corações Cativos, mentes Cativas, Alameda, CA, E.U.A., Hunter House, 1994, p.
81.)
As lições duras e amargas, não apenas
de David Koresh e Jim Jones (que no fim de 1978 levou mais de 900 pessoas ao
suicídio coletivo, na Guiana), estão aí para quem delas quiser tirar proveito.
E quem dera que tragédias como essas nunca mais se repetissem!
Na
Igreja
O culto à personalidade pode ser
encontrado também onde menos se deveria: na Igreja cristã. É óbvio que não
estou insinuando que tal fenômeno acontece na Igreja com a mesma intensidade e
impiedade que nas seitas, como nos exemplos citados acima. Por outro lado,
mesmo com uma intensidade menor, e provavelmente sem o perigo de levar ao
extermínio de pessoas, ele não deveria ocorrer de modo algum. Estou ciente
também de que todos os citados aqui negarão veementemente tal procedimento e
afirmarão que não existe em seu grupos qualquer exaltação do ser humano, que
seu alvo é glorificar apenas a Deus. Lamentavelmente, as práticas de muitos
grupos demonstram o contrário. Muitos estão pegando carona no louvor e adoração
a Deus.
Esse é o caso de Jorge Tadeu,
fundador e líder das igrejas Maná em Portugal e que já esteve várias vezes no
Brasil. Ele se autodenomina Apóstolo e escreve cartas semanais aos seus
pastores com o título de “St.” (São) Jorge Tadeu. Um dos pastores dissidentes garante:
“Hoje, a palavra de Jorge Tadeu na igreja Maná é equiparada à Palavra de Deus”.
(Revista Visão, Lisboa, Portugal, 10 de fevereiro de 1994, p. 56.)
O culto à personalidade aparece
também na igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo. Tenho
verificado pessoalmente que quase todos os pastores da Universal, tanto os que
pregam nas igrejas quanto os que aparecem na televisão, são fiéis imitadores de
Macedo. Os mesmos gestos, as mesmas entonações de voz, e muitas vezes, as
mesmas expressões, tais como: “Sim ou não, pessoal?”, “É ou não é, pessoal?” e
“Amém, pessoal?”.
Muitas vezes, o fato de ser imitado
não é culpa do líder. Muitos de nós gostamos de ter os nossos heróis, de ter um
modelo a seguir, e até um certo ponto isso é bom. O apóstolo Paulo até
aconselhou: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Co 11.1). O
escritor aos Hebreus também admoestou: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais
vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida,
imitai a fé que tiveram” (Hb 13.7). Assim, somos encorajados a imitar,
principalmente, a fé desses irmãos, e não sua entonação de voz ou gestos.
Tenho observado que muitos irmãos
tornam-se fãs tão ardorosos dos líderes evangélicos mais conhecidos que começam
a idolatrá-los, passando a imitar-lhes a voz, as expressões peculiares, os
mesmos chavões e os gestos. Muitas vezes, isso pode revelar o resultado de um
crescimento espiritual nada saudável de alguns crentes. Mesmo o rev. Caio Fábio
ou o Dr. Russell Shedd, que estão longe de promover tal comportamento ou buscar
tal tipo de reação dos seus ouvintes, têm sido cultuados por vários dos que os
acompanham ao longo dos anos. Creio que esses homens de Deus ficariam
constrangidos se chegassem a constatar tais fatos.
É incrível também a pressa com que
alguns líderes evangélicos, ministérios e igrejas tratam de explorar a fama de
algum astro do futebol ou do mundo artístico. Basta alguém acenar com uma
conversão e o novo convertido (se é que houve uma conversão genuína) já estará
diante de um grande auditório num ginásio, num estádio ou numa igreja. A pessoa
ainda nem conhece o básico da fé cristã, ainda não abandonou por completo a
velha vida (em muitas igrejas isso já nem é mais preciso), nem teve qualquer
crescimento espiritual e já é promovido à posição de pregador e ungido do
Senhor. Infelizmente o que tem acontecido é que, logo depois dos testemunhos e de
todo o barulho provocado por tal celebridade, surgem fracassos e fatos
embaraçosos, trazendo vergonha e desonra para o Evangelho. É preciso mais
cuidado.
Exemplos
saudáveis
Quando Naamã, comandante do exército
do rei da Síria, foi a Israel em busca de Eliseu para ser curado de sua lepra,
esperava ser bajulado pelo profeta de Deus. Para garantir uma recepção honrosa
pelo homem de Deus, Naamã levou consigo dinheiro e presentes. O plano falhou.
Eliseu nem saiu de casa para cumprimentá-lo. Enviou-lhe um mensageiro dizendo:
“Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás
limpo” (2 Rs 5.10). Contrariado, Naamã foi, lavou-se no Jordão e foi curado de
sua lepra. Em gratidão, voltou à casa do profeta e, com insistência,
ofereceu-lhe presentes. Eliseu recusou, mostrando assim que um verdadeiro homem
de Deus não busca a glória humana e não faz comércio com o poder e a Palavra do
Senhor (2 Rs 5). Ao contrário de Eliseu, lamentavelmente, muitos líderes
evangélicos hoje não hesitam em bajular políticos na busca de favores e de
explorar, para benefício próprio, qualquer oportunidade que se lhes apresenta.
João Batista é um outro exemplo a ser
seguido. Ele poderia ter bajulado a realeza, mas não o fez. Depois de anunciar
a vinda do Messias, denunciou o pecado de Herodes e Herodias, e foi por isso
preso e decapitado (Mc 6.17-29). Em lugar de buscar seu bem-estar e
autopromoção, ele declarou a respeito de Jesus: “Convém que ele cresça e que eu
diminua” (Jo 3.30). Que Deus nos dê a mesma atitude de coração de João Batista
e o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fp 2.5).
Quando Pedro dirigiu-se à casa de
Cornélio para anunciar-lhe a Palavra de Deus, foi recebido com muita pompa. A
Bíblia diz que Cornélio recebeu o apóstolo e, prostrando-se aos seus pés, o
adorou. Mas Pedro recusou a adoração e, levantando Cornélio, disse-lhe:
“Ergue-te, que eu também sou homem” (At 10.26). Até mesmo um anjo recusou ser
adorado por João na sua visão de Patmos (Ap 19.10 e 22:8). Na segunda vez, o
anjo disse-lhe: “Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os
profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap 22.9).
Seria ridículo o jumento que carregou
Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém pensar (isto é, se ele pudesse
pensar) que as pessoas que estendiam suas vestes e ramos no caminho, por onde
ele passava, o faziam por causa dele, e não por causa de Jesus. Seria ridículo
ele pensar que toda aquela aclamação fosse por causa dele, e não por causa do
Senhor. Da mesma forma, seria totalmente impróprio achar que, por causa do
nosso carisma e habilidade, as coisas acontecem no Reino de Deus. Por esta
razão, a Palavra de Deus nos exorta: “…porque Deus resiste aos soberbos,
contudo aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a
poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1 Pe 5.5,
6). O profeta Miquéias acrescenta ainda: “Ele te declarou, ó homem, o que é
bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a
misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6.8).
Meu professor de Evangelismo e
Missões no seminário, Dr. Christy Wilson, contou certa vez que Sadu Sundar
Singh, o místico da índia, o apóstolo dos pés sangrentos, chegou um dia a uma
vila e alguém lhe perguntou:
- Você é Jesus?
Sadu respondeu:
- Não, é claro que não. Eu sou apenas
o jumento de Jesus.
Eu levo Jesus a todo o lugar que
vou. Que Deus nos ajude a fazer o mesmo!
Não escrevi este capítulo como alguém
isento de tais problemas ou livre de todas as tentações nessa área. Por esta
razão, preciso ser continuamente lembrado pelo Espírito Santo que, por mais que
o vaso seja usado, ele continua sendo de barro. Bem escreveu o apóstolo Paulo
ao comentar sobre o ministério cristão: “Temos, porém, este tesouro em vasos de
barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7). A
Deus toda a glória!
Extraído do livro “Evangélicos em
Crise” do Pr. Paulo Romeiro
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