O artigo que segue, é um artigo longo. Mas pode ter certeza que vale a pena ler até o fim. É uma bela leitura.
O biólogoRaúl Leguizamón é argentino, de Córdoba. Este artigo seu foi publicado, em português, no número especial de verão (54) do ano de 2001 da revista SEMPER, periódico editado pela FSSPX.
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Raúl Leguizamón
Introdução
Os dogmas de fé são muito difíceis – se não impossíveis – de refutar com argumentos científicos. A história da humanidade sobejamente o testemunha.
O nosso tempo não escapa, decerto, a esta regra, já que na atualidade, como em todas as épocas, uma boa quantidade de pessoas segue obstinadamente crendo coisas não só desprovidas de todo o fundamento científico, mas, além do mais, em franca contradição com o conhecimento científico que hoje possuímos.
Para dar um exemplo, entre centos, do atrás dito, referir-me-ei à insólita crença atual de muita gente – curiosamente, muitos deles cientistas – de que o homem descende do macaco. Sim, senhor! Assim, tal e qual.
Porque tem de saber-se que o tal pensado e manipulado “antecessor comum” do homem e do macaco, de que falam muitos cientistas e divulgadores, não é nem pode ser outra coisa senão um macaco. O suposto “antecessor comum” seria certamente chamado macaco por alguém que o visse, afirmava o ilustre paleontólogo da Universidade de Harvard, George G. Simpson. É pusilânime, senão desonesto, dizer outra coisa, acrescentava Simpson. E desonesto, acrescento eu.
De maneira que todos os esforços dos antropólogos e investigadores deste tema, não se dirigem, de modo algum, a dilucidar, objetivamente e sem preconceitos, de que modo se originou o homem, mas de que macaco veio.
Por outras palavras: o postulado da nossa origem simiesca é uma convicção da qual se parte, e não uma conclusão a que se chega.
Ora bem, esta convicção, que muitos cientistas e divulgadores sustentam encarniçadamente (até ao ponto de mostrá-la ao mundo como um fato científico e demonstrado!), é – por definição – algo que está fora do campo da ciência experimental, que se baseia, precisamente na observação e reprodução experimental do fenômeno sob estudo. Coisas evidentemente impossíveis neste caso.
De maneira que, e com risco de não respeitar o significado das palavras, esta crença na origem do homem a partir do macaco é só uma hipótese de trabalho, uma suposição, uma conjectura, mais ou menos razoável, mais ou menos coerente, mais ou menos disparatada, mas sempre de caráter hipotético. Não só não demonstrada, mas, ainda mais – por definição – indemonstrável. E a ciência é demonstração.
O que a ciência pode legitimamente fazer a este respeito, é abordar o tema de forma indireta, isto é, examinar a suposta evidência científica que demonstraria a transformação do macaco em homem e, sobretudo, o mecanismo que se propõe para explicar essa transformação, para ver se dito mecanismo está em coerência ou em contradição com leis científicas bem estabelecidas; ou, ao menos, com a sensatez.
Por outras palavras, se bem que a ciência não possa dizer-nos como foi realmente a origem do homem – por tal ser metodologicamente impossível – pode dizer-nos, em troca, como não pôde ter sido essa origem.
Esclarecido este ponto, digamos que o que hoje vemos (base primeira do método cientifico), é que os homens originam-se de homens, e que os macacos engendram macacos. Por conseguinte, e em razão do princípio científico da uniformidade metodológica, segundo o qual o presente explica o passado, legítimo é supor que os homens sempre se originaram de homens e nunca de macacos. São os cientistas que sustentam o contrário (isto é, que alguma vez os macacos engendraram homens, ou se transformaram em tais) que tem o ônus da prova. Quer dizer, os que deviam carregá-los, se este tema fosse tratado com um mínimo de rigor e honestidade científica.
Como não é, resulta que, paradoxalmente, se aceita como dogma de fé (em nome da ciência – imagine-se!) que o homem descende do macaco; e a partir deste dogma interpretam-se e manipulam-se os dados científicos.
Mas, por que – tem de se perguntar – esta convicção tão categórica sobre a nossa origem? Quais são os fundamentos científicos de tamanha certeza? Bom, como disse atrás, fundamentos propriamente científicos não os há. A razão determinante e fundamental pela qual muitos autores crêem que o homem se originou a partir do macaco, é porque aceitam cegamente a hipótese evolucionista-darwinista que tal afirma. E ponto.
Não obstante, como numerosos cientistas, divulgadores, “charlatães cósmicos” da TV, revistas “muito interessantes”, livros de texto e trovadores diversos nos saturam diariamente com as “evidências científicas” que “demonstram” a origem simiesca do homem, vale a pena analisarmos sucintamente estas supostas evidências “indubitáveis”, segundo os mais fervorosos crentes na hipótese evolucionista-darwinista.
Semelhanças
Pois bem, ainda que o leitor, como bom profano no tema – tal como eu – nunca se tenha dado conta ou, o que é mais provável, nunca lhe tenha outorgado a menor importância, o fato é que entre os macacos e os homem … há semelhanças!
De acordo com esta sensacional descoberta – de cortar a respiração, realmente – existem sem lugar a dúvidas, semelhanças entre os macacos e o homem. Efetivamente: temos olhos como os macacos, quatro extremidades, estômago, fígado, pulmões, coração com quatro cavidades, sangue quente (depende …), etc.
Se o leitor continua acreditando, obstinada e cepticamente, que tudo isto não significa absolutamente nada, e que existe – apesar das semelhanças – um abismo entre o macaco e o homem, creia que está em muito boa companhia, já que milhares de cientistas no mundo (e cada vez mais) opinam exactamente o mesmo.
E milhares são, estimado leitor. O que sucede é que a sua opinião não chega ao público, pois que neste assunto existe uma censura feroz. Outra qual Inquisição e Santo Ofício! Os cientistas que não aceitam o “dogma darwinista” são, inexoravelmente, excluídos dos âmbitos acadêmicos e dos meios de difusão.
Mas os crentes na hipótese da origem simiesca do homem, que são, ademais – tenhamos isto bem presente – os que “têm a manivela” política, financeira e acadêmica, insistem com místico fervor nas semelhanças.
O Elo Perdido
Insistem, pois, não só nas semelhanças atuais, que demonstrariam, em todo o caso, que os macacos são, de acordo com a hipótese darwinista, nossos “primos”; mas também, e sobretudo, nas semelhanças fósseis, que certificariam a existência do assim designado “antecessor comum”, isto é, um macaco em vias de se fazer homem: o célebre “elo perdido”, que já não existe, segundo dizem, mas que houve um tempo, vai para muitos anos, que parece que sim.
Este mítico “elo perdido”, logo após engendrar o homem, teria desaparecido; ninguém tem a mais remota idéia de porquê. Mas muito temo que o teria feito para não arcar com a tremenda responsabilidade de ter gerado algo tão perigoso e inadaptado como o que acusam de ter gerado: a ovelha negra da família, realmente …
De todos os modos, a excelsa dignidade desta sublime relíquia (o “elo perdido”) suscitou grande fervor entre muitos cientistas que desde há mais de um século empreenderam inumeráveis expedições para o achar.
A busca do “elo perdido” foi, e é, o alfa e o ômega da antropologia. Algo assim como os cavaleiros do Rei Artur em relação ao Santo Graal.
E qual e o critério para decidir se um fóssil é o famoso “elo perdido”? Muito fácil: todo o fóssil de macaco que tenha semelhanças com o homem é – até que se demonstre o contrário – o “antecessor comum”.
Fósseis
E ainda que o leitor não acredite, existem, definitivamente, fósseis de macacos que mostram semelhanças com o homem. Assim é. Acontece que alguns restos fósseis de macaco têm incisivos e caninos mais pequenos que outros macacos, em forma semelhante aos do homem. Isto constitui, para muitos investigadores, uma “demonstração” de que estes macacos teriam sido nossos antepassados, sem ter em conta – ao que parece – que existem macacos vivos (o Babuíno Gelada, por exemplo) que também têm incisivos e caninos pequenos – como os do homem – sem deixarem por isso de ser menos macacos que os seus congêneres.
Inclusivamente, o antropólogo Clifford Lolly assinalou, há mais de vinte anos, que as ínfimas variações no tamanho e forma dos dentes de um animal são simplesmente o produto de uma adaptação a um tipo especial de dieta e que carecem de qualquer significação genealógica.
Outros restos fósseis de macaco parecem indicar que os ditos seres caminhavam de forma aproximadamente ereta (bípede), com o que se conclui, triunfalmente, que esses macacos estavam fazendo-se homens.
O que, geralmente, muitos autores se esquecem de esclarecer o público, é que vários macacos atualmente (Hilobates moloch, Pan paniscus, entre outros) caminham de forma aproximadamente ereta. Mas, que eu saiba, nenhum destes simpáticos primatas manifestou o mínimo sentimento de assombro, nem de júbilo, nem sequer de horror (que seria muito mais lógico), ante a apaixonante aventura de se estarem transformando em seres humanos.
Mas, perguntará algum leitor, que se passa com o famoso Homem de Neanderthal, oPitecanthropus erectus, os Australopithecus africanos? Não são estes verdadeiros “hominídeos”, antepassados do homem?
Vamos por partes. Para começar, digamos que o Homem de Neanderthal não é certamente um “hominídeo”. Apesar da “difamação antropológica” darwinista (a expressão é do famoso antropólogo americano Ashley Montagu), que o mostrou durante cem anos (e ainda hoje!) como um bruto semicurvado, de aspecto feroz e estúpido, cacete ao ombro e escondido na sua caverna, hoje é fato universalmente aceite que o Homem de Neanderthal era completamente sapiens, ainda que com algumas degenerescências produzidas por enfermidades (artrite e raquitismo) e por circunstâncias ambientais adversas.
Apesar do carácter plenamente humano do Homem de Neanderthal ser conhecido desde 1957, é freqüente ainda hoje, todavia, encontrar a sua representação semibestial; e não só em livros e revistas de divulgação. Não! Por exemplo, o modelo recente semibestial do Homem de Neanderthal foi retirado do Museu Field de História Natural de Chicago em 1975. Foi lançado ao lixo, lugar que lhe correspondia? Não senhor, foi retirado do primeiro piso (origens do homem) e colocado no segundo piso, junto aos dinossauros, com uma legenda que diz: “modelo alternativo, do Homem de Neanderthal” (!). É de sublinhar que a secção dos dinossauros é a mais visitada, em especial por crianças e jovens das escolas e colégios… Este é um exemplo acabado de “honestidade científica”.
A respeito dos assim chamados “Homo erectus” (Pitecanthropus e Sinanthropus), haveria muito que dizer. Dos achados originais que deram lugar a este grupo taxonômico, um deles, o Homem de Java (Pitecanthropus erectus), teria sido – segundo o seu próprio descobridor, E. Dubois – simples e unicamente um macaco (gibão) de grande tamanho. O outro, o Homem de Pequim, tem todas as aparências de ter sido outra de tantas fraudes que se cometeram neste assunto. Os supostos “Homo erectus” descobertos mais recentemente em África (Leakey e Walker, 1984) parece que, pelas descrições, seriam Neanderthales isto é, sapiens.
Em relação aos tão falados Australopithecus de África (incluindo Lucy) desde já esclareço, leitor, que estes são seres definitivamente macacos, não há discussão a tal respeito: um metro de estatura; capacidade craniana entre 500 e 600 c.c. (como o chimpanzé, por exemplo; a do homem é de cerca de 1.500 c.c.); forma do crânio “caracteristicamente simiesca” (Lord Zuckerman); capacidade para deslocar-se pelos ramos como ou melhor que o orangotango (Charles Oxnard), etc.
Todos esses outros nomes que se lêem ou escutam (Ramapiteco, Dryopiteco, Kenyapiteco, Sivapiteco, etc.) são todos, sem excepção, “macacopitecos”.
O problema está em que o termo “hominídeo” designa, precisamente, qualquer macaco que caminhasse mais ou menos como bípede, ou que o seu descobridor sustenta que caminhava, e que tenha dentes mais pequenos que os outros macacos. Isso já é bastante para graduar-se como “hominídeo” e para que o seu descobridor (ou inventor) se transforme, da noite para o dia, num Júlio César da antropologia.
Com respeito a estes critérios, tampouco se duvida que sejam demasiado exagerados, já que com apenas um dente, um pedacinho de mandíbula ou um bocado de crânio, um antropólogo pode reclamar o estatuto de “hominídeo” para o seu achado.
Em última instância, um “hominídeo” é qualquer coisa que um antropólogo batize como tal… Inclusivamente um Homo sapiens, como sucedeu ao Homem de Neanderthal!
Ainda que haja logo retratações ou refutações, o fato é que na história da Antropologia abundam os exemplos de “hominídeos” criados desta maneira. Basta recordar, por exemplo, o famoso Homem de Nebrasca, “criado” em 1922 com base num molar, que logo se descobriu pertencer a um pecari.
Nas ilustrações da época apareciam o senhor e a senhora Homem de Nebrasca com os seus dois filhos, varão e nina – decerto a família tipo, digamos; indumentária: tanga, naturalmente; habitação: caverna, claro está; ele de cacete ao ombro, ela amamentando, etc. Tudo isto, repito, com base num molar de pecari, espécie de porco selvagem americano.
A partir de 1960 e durante vinte anos, o antropólogo David Pilbeam sustentou que o Ramapiteco era um “hominídeo”, baseado num par de dentes e nuns bocadinhos de mandíbula. Em 1984 mudou de opinião e agora crê que é um macaco qualquer. Mas, entretanto, o seu publicitado Ramapiteco valeu a Pilbeam passar de professor de Antropologia da Universidade de Yale para a de Harvard (nada menos!). Isto, se não demonstra a evolução do Ramapiteco, pelo menos prova a “evolução” de Pilbeam.
Em 1980, famoso o antropólogo americano Noel Boaz chamou clavícula de um “hominídeo” ao que logo se viu ser a costela de um golfinho! Segundo este antropólogo, a forma da clavícula sugeria que o ser em questão era um chimpanzé que caminhava ereto. Como haveria de ser batizado este “hominídeo”? “Blooperpithecus”, talvez? (“Blooper” é o termo inglês que designa um engano embaraçoso – N. T.) Em 1984 teve que cancelar-se apressadamente um congresso internacional de antropologia em Espanha, durante o qual ia ser apresentado à sociedade o recentemente achado Homem de Orce (Andaluzia), por se descobrir que o fragmento de crânio encontrado pertencia, na realidade, a um burrico.
Enfim, a lista é longa. E é talvez por isso que Sir Solly Zuckerman, uma das máximas autoridades mundiais em anatomia, no seu livro Beyond the lvory Tower nega o caráter científico de todas estas especulações sobre fósseis, comparando o estudo dos supostos antepassados fósseis do homem com a percepção extra-sensorial(!), no sentido de estarem ambas as atividades fora do registo da verdade objetiva, e onde qualquer coisa é possível para o crente nas ditas atividades.
Moléculas
Moléculas
Como todo este assunto dos fósseis era tão débil que não resistia, nem resiste, ao menor exame crítico, os crentes na hipótese da origem simiesca do homem decidiram buscar novos horizontes hermenêuticos para poderem demonstrar a hipótese. E assim apareceu o argumento das semelhanças moleculares.
Antes de prosseguir, acho conveniente dar um esclarecimento categórico: todos estes argumentos, baseados em semelhanças, para estabelecer parentescos, são apenas sofismas, pois parecido e parentesco são duas coisas perfeitamente distintas. O fato de que indivíduos aparentados tenham, geralmente, semelhanças, não autoriza, de maneira nenhuma, concluir que indivíduos (ou espécies) com semelhanças sejam, necessariamente, aparentados.
Sustentar o contrário, isto é, que a semelhança por si mesma constitui uma prova de parentesco, é uma proposição que, estou certo, nenhum biólogo aceitaria defender, já que pelo bem conhecido fenômeno da convergência biológica, estruturas e funções praticamente idênticas podem desenvolver-se em indivíduos ou espécies não relacionados geneticamente. De modo que toda a argumentação baseada em semelhanças, para provar parentescos, carece de fundamento científico.
Mas voltemos ás semelhanças moleculares. Já há vários anos, alguns cientistas, num tom deliciosamente jubiloso, demonstraram que existem algumas moléculas (proteínas e ácidos nucléicos) semelhantes no homem e no chimpanzé. Com o que ficava “demonstrado” que o homem era parente próximo deste antropóide. E o alvoroço foi indescritível. Mas durou pouco. E em breve se transformou numa verdadeira catástrofe, entre outras coisas, porque as árvores genealógicas entre o macaco e o homem propostas pelos biólogos moleculares estavam em franca contradição com as árvores genealógicas propostas, com base nos fósseis, pelos paleontólogos.
Ó céus! Claro, os novos exegetas não imaginavam, sequer remotamente, no que se metiam. Com ingenuidade própria de crianças – ao cabo e ao resto, delas é o Reino – abalançaram-se, exultantes de regozijo, a buscar semelhanças moleculares para demonstrar, desta vez sim, “cientificamente”, como tinha sido o percurso do macaco ao homem.
Quando começaram a compreender, já era tarde. Porque o que encontraram derrubava todas as supostas árvores genealógicas construídas pacientemente pelos antropólogos, durante anos e anos de esforçado e imaginativo labor. Uma verdadeira tragédia evolutiva.
Tantos anos a colecionar um ossinho aqui, outro ali, alguns dentes acolá, para montar a “evidência” da nossa origem; tantos anos a fabricar modelos em plástico (totalmente imaginários) dos nossos “antepassados” (vestuário, corte de cabelo, cor da pele e hábitos laborais e matrimoniais incluídos); tantos anos a manipular dados radiométricos, a fazer desaparecer os fósseis “heréticos”, quer dizer, que “não encaixavam” na hipótese; tantos anos a dizer ao mundo, desde a cátedra eminente ao livro de divulgação, como e quando o macaco se havia transformado em homem e agora … tinha que se mudar tudo! Não há direito!
E não era para menos. Para começar, segundo os antropólogos moleculares (sobretudo Vincent Sarich e Allan Wilson) o macaco e o homem ter-se-iam separado do “antecessor comum” há apenas uns cinco milhões de anos; enquanto os antropólogos fósseis (quer dizer, que se dedicam ao estudo dos restos fósseis, claro) tinham demonstrado à saciedade que a separação teria ocorrido há uns vinte ou trinta milhões de anos (!).
Esclareço o leitor que isto de milhões de anos são apenas especulações baseadas na hipótese darwinista. Não há nenhuma evidência científica séria de que estes milhões de anos tenham realmente existido. Menciono-os, simplesmente, para mostrar as grosseiras incoerências desta hipótese, a partir dos dados dos seus próprios aderentes.
Alguns, sobretudo entre os antropólogos fósseis, exclamaram: heresia! – e começaram a brandir ameaçadoramente os seus ossos. Os moleculares, entrincheirados nas suas provetas, ameaçavam com represálias a cargo de mutantes.
O problema é que, para saber o que é heresia, é imprescindível conhecer primeiro o que é a ortodoxia. O mesmo é dizer que deve, necessariamente, existir uma teoria solidamente estruturada e uma autoridade que a proclame. Mas, se cada antropólogo fabrica a sua própria árvore genealógica, segundo a sua própria imaginação – com base em que dentes vai censurar a imaginação de outro antropólogo? Se qualquer coisa é “ortodoxia”, nada é heresia.
De qualquer modo, os moleculares ganharam a primeira batalha, e a maioria dos antropólogos fósseis terminou aceitando as cifras propostas por Sarich. Como a hipótese darwinista – por não ser científica – é tão plástica que permite “explicar” qualquer coisa, o sangue chegou ao rio.
Mas seja o que for das moléculas, os mais insólitos achados começaram a aparecer.
A hemoglobina (proteína dos glóbulos vermelhos do sangue), por exemplo, apresentou, logo após a sua entrada em cena, um enigmático problema. Certo é que está presente no homem e nos macacos, o que provocou um júbilo enorme e grande transe místico (parece que alguns chegaram à “visão unitiva” com Darwin). O problema é que também está presente em todos os vertebrados. Aqui os aplausos começaram a rarear, e até algumas vozes aconselharam prudência.
Mas não faltaram os imprudentes, seja por excesso de fervor e falta de adequada direção espiritual, ou talvez por algum resto de espírito científico que os impeliu a ser coerentes; não faltaram, digo, os que prosseguissem as investigações e descobrissem que a sobredita hemoglobina – exatamente a mesma classe de molécula – aparecia nas minhocas da terra, nas amêijoas, nalguns insetos e, inclusivamente, nalgumas bactérias (!).
Que horror! E não era para menos: a hemoglobina não aparecia de forma gradual e progressiva, aperfeiçoando-se cada vez mais à medida em que ascendia na escala zoológica – como seria de esperar se a hipótese evolucionista tosse certa – mas aparecia já perfeita em algumas bactérias, logo desaparecia e voltava a aparecer nas amêijoas, depois nas minhocas, etc., sem experimentar nenhuma mudança evolutiva.
Não havia, absolutamente, a mais remota possibilidade de encaixar estes achados em nenhuma árvore genealógica que imaginar se possa. Apesar da imaginação ser a faculdade mais desenvolvida dos cientistas evolucionistas.
Praticamente obtiveram-se os mesmos resultados com base nos estudos realizados com a proteína citocromo C. Não existem diferenças “evolutivas”, isto é, aumento da sua complexidade, entre o citocromo C das bactérias e o do resto dos seres vivos (!).
Mas a coisa não terminou aí. Ocorreu a um investigador fazer o mesmo com outra molécula de proteína humana, fascinante, que se chama lisozima e que está presente nas lágrimas, para defender o olho das infecções. Pobre homem! Creio que sofreu uma grave crise de fé (darwinista), que só pôde superar graças a prolongados jejuns, flagelações e cilícios.
E com justa razão: pois de acordo com os seus brilhantes trabalhos com a lisozima, este cientista (Richard Dickerson) demonstrou que o parente mais próximo do homem é… a galinha!
E, assim, todos os estudos efetuados sobre diversas moléculas (insulina, mioglobina, fator liberador do hormônio uteinizante, relaxina, etc.) produziram árvores genealógicas totalmente diferentes e contraditórias.
Não existem, sequer, dois estudos efetuados com base em moléculas que tenham produzido árvores genealógicas semelhantes!
Isto representa o colapso total da hipótese evolucionista, afirmou valentemente o brilhante biólogo molecular australiano, também evolucionista, esclareço – Michael Denton, em seu assombroso livro Evolution: A Theory In Crisis.
E a catástrofe continua, ampliando-se. Com base nos estudos efetuados sobre a composição química do leite (um líquido tão complexo e fundamental como o sangue), o animal mais próximo do homem é o burro.
Já gosto mais disto, pois vendo o que escrevem muitos investigadores sobre este tema, dá-me a impressão não só que viemos do burro, mas que há pouquíssimo tempo nos separamos dele. Ainda que, pensando melhor, sou injusto com o burro, pois, se pudesse falar, estou certo que não diria disparates deste calibre. Uma coisa é a ignorância, outra a insensatez.
Por outro lado, o nosso parente mais próximo, com base no estudo dos níveis de colesterol, seria uma variedade de cobra (gartner snake) e, com base no antigênio A do sangue, seria … uma variedade de feijão! (butterbean).
Todos estes resultados só confirmam o que expressei mais acima: a semelhança – óssea ou molecular – não prova absolutamente nada relativamente ao parentesco.
Ao cabo e ao resto, todos os seres vivos são constituídos basicamente pelas mesmas – ou semelhantes – moléculas, pela muito simples razão de que os mecanismos vitais assim o exigem; com a óbvia excepção de que não podem ser exatamente as mesmas moléculas as de um peixe, por exemplo – que vive na água – e as de um ser que viva na terra.
Por isso é que o mundo dos seres vivos não tem nada a ver com árvores genealógicas: isto é pura fantasia; o mundo dos seres vivos é um mosaico no qual elementos semelhantes (moléculas, estruturas, funções, etc.) se entremisturam para formar os distintos gêneros ou espécies, sem que tal signifique que derivem uns dos outros. Ao modo de um quadro, no qual o artista não necessita de utilizar uma cor diferente para cada figura, mas, variando as proporções e as formas, pode, com relativamente poucas cores, representar muitas figuras.
Assim, no mundo dos seres vivos, as moléculas (estruturas, funções) dispõem-se num padrão mosaico ou modular e não num padrão arbóreo.
O modelo mosaico limita-se a manifestar que os elementos materiais se repetem em muitos seres vivos, sem intentar estabelecer supostos parentescos despropositados. O modelo genealógico pretende estabelecer parentescos, com base em determinadas semelhanças, e termina, fatalmente, no absurdo. O padrão mosaico é ciência; as árvores genealógicas são fantasias.
Por isso é que na natureza vivem multidões de seres vivos com relativamente poucos elementos materiais. Mas pela proporção e forma em que estão dispostos, originam seres essencialmente distintos, apesar das semelhanças.
Por isso – repito – é que a semelhança não prova parentesco.
Comportamentos
Mas os autores evolucionistas, que parecem não entender esta coisa simples, insistem nas semelhanças. E lançando-se na sua busca, alguns antropólogos puseram-se a comparar padrões de comportamento (que é, sem dúvida, tão “válido” como comparar ossos ou moléculas).
O assunto tem os seus antecedentes ali pela década de 20, quando um biólogo (Crookshank, por certo darwinista) sugeriu que os negros (não os nossos, mas os de África) descendiam do gorila porque se sentam no solo da mesma maneira que o faz esse antropóide. Que tal o raciocínio, leitor? Os mongóis – e pela mesma razão – descenderiam do orangotango.
Desnecessário é dizer que este argumento já não é aceite pelos antropólogos; entre outras razões, porque os negros e os mongóis têm, agora, cadeiras para se sentarem.
Mas não creia, leitor, que estas especulações pertencem à “pré-história” da antropologia. Na realidade, e digam o que disserem, a época de ouro do darwinismo foram aqueles ditosos anos; não só porque não se tinha a menor idéia da genética, biologia molecular e todos estes malditos progressos científicos que foram, pouco a pouco, afogando o vôo imaginativo dos investigadores darwinistas, mas também porque naquela época os darwinistas eram sinceros e tinham coragem para dizer o que pensavam, gostassem ou não gostassem.
Assim, o biólogo Klaatch dizia que os negros descendiam do gorila, os mongóis do orangotango (coincidindo nisto com Crookshank) e os caucasianos do chimpanzé; como o leitor vê, nada de “antecessor comum”.
Mais ainda, ó formosas épocas em que se exibia – segundo a ordem evolutiva – o crânio dum gorila, logo o do Homem de Neanderthal (que por essa época era considerado pouco mais que um macaco erguido), logo o dum negro, logo o dum irlandês (!) e logo, há que dizer-se… o dum inglês. A evolução chegava, assim, à perfeição…
Parece que todos os seres dos povos submetidos ao domínio colonial britânico eram sub-homens, comentava com a sua habitual ironia o já desaparecido antropólogo americano Loren Eiseley.
David Pilbeam, atual professor da Universidade de Harvard, crê ver na conduta dos chimpanzés suficientes semelhanças com a do homem, como a sugerir que estes primatas são os seres mais estreitamente relacionados conosco. Jeffrey Schwartz, professor da Universidade de Pittsburg, vê essas semelhanças no orangotango.
Isto de encontrar semelhanças na conduta dos símios e dos homens causou profunda indignação entre os primeiros, que se sentem torpemente caluniados por semelhantes comparações. “Nós cumprimos fielmente a lei natural, ao contrário do que fazem os humanos”, dizem os símios, justamente indignados.
Com efeito, acho que se vai realizar um congresso internacional de macacos – sem diferença de sexo, raça ou religião – com o fim de negar explícita e formalmente qualquer parentesco conosco. Muito temo que as conclusões dos antropóides sejam mais sensatas que as dos antropólogos.
Entretanto, uma obscura personagem da cidade de Córdoba, Argentina (se bem que não passe de diletante, e bastante desequilibrado, decerto) crê ver notáveis semelhanças no comportamento de muitos seres humanos com certas espécies de répteis; sobretudo com as serpentes.
A Linguagem
Relacionada com a conduta, há outra linha de investigação que, se bem que não goze de muitos partidários, suscitou há alguns anos grande entusiasmo entre os investigadores deste tema. Refiro-me ao problema da linguagem, essa capacidade maravilhosa, única, exclusiva do ser humano, de expressar o seu pensamento de forma articulada e simbólica, o que marca uma distância abismal entre ele e os animais.
Os pensadores (cientistas e não cientistas) de todas as épocas sensatas entenderam que havia aqui um mistério inabordável, um prodígio sem precedentes, e limitaram-se a aceitar o fato que confirmava, mais uma vez, que o homem é um ser único na natureza.
Mas apareceu a hipótese darwinista, que transformou o mundo científico na cidadela da estupidez e da cegueira (se levarmos a sério o que dizia Bernard Shaw), e logo não faltaram investigadores que, coerentes com a hipótese, disseram: sim, descendemos dos macacos e somos capazes de falar, logo os macacos também devem ter essa capacidade, ao menos em potência. Então, se nos dermos ao trabalho de os ensinar, também serão capazes de falar.
Dito e feito. Realizaram-se experiências: Lana (uma chimpanzé), Washoe (um chimpanzé), Koko (um gorila) e Sara (chimpanzé ).
A mais famosa foi a realizada pelo casal Lachman com Lana. Durante vários anos, estes investigadores encerraram-se diariamente na jaula com Lana, tratando, com abnegado e fervoroso afinco, de ensinar-lhe as ”primeiras letras”.
Francamente, desconheço se estes cientistas aprenderam a grunhir corretamente; certo é que, dia a dia, aumentava o seu repertório de grunhidos, mas como poderemos saber se esses grunhidos, segundo os macacos, estão corretos? O que se sabe é que Lana, apesar dos esforços, não logrou articular uma única palavra. Que digo, palavra? Nem sequer alguma forma de comunicação simbólica que fosse além de uma simples resposta condicionada, tais como as que se podem obter de pássaros, ratos ou vermes, como sentenciou categoricamente J. E. Skinner, o “chefe” destes temas.
Agora digo eu, por que estes investigadores, em vez de tratar tão esforçada como esterilmente de ensinar a falar um macaco, não empreenderam a muitíssimo mais fácil e imensamente mais frutífera tarefa de ensinar a falar o único animal que é capaz de fazê-Io? E em vários idiomas! Sim, leitor, por que não escolheram o papagaio? Eis aqui outro rotundo exemplo do padrão mosaico ou modular de que falamos. Um animal que, inclusivamente nas imaginárias árvores genealógicas evolucionistas, não tem nada que ver com o homem, compartilha com ele esta singularíssima capacidade de emitir sons articulados.
Por que não escolheram o papagaio? Muito simples: porque o papagaio, de acordo com a hipótese darwinista, não é, nem remotamente, antepassado do homem. Ainda que alguns humoristas sustentem que, não sendo o papagaio bem antepassado do homem, seria com certeza da mulher. Mas tal afirmação não tem suficiente apoio científico.Continuam as semelhanças
Isto demonstra-nos, mais uma vez, que as semelhanças entre o macaco e o homem, nas quais tanto se insiste, são semelhanças selecionadas de acordo com a hipótese evolucionista. As semelhanças que não encaixam na hipótese, silenciam-se.
Deste modo, como acabamos de ver, na capacidade de emitir sons articulados, característica altissimamente peculiar do homem, somos semelhantes ao papagaio. Quanto à forma, tamanho relativo e posição dos órgãos internos (as vísceras), o animal mais parecido com o homem não é certamente o macaco, mas o porco (noutros aspectos também…). De acordo com a estrutura do pé, o animal mais parecido com o homem é o urso polar. De acordo com o tamanho e forma do cérebro (não apenas maior, mas com um grau de cefalização – isto é, franco predomínio do lóbulo frontal, sede das atividades psíquicas superiores – muitíssimo mais avançado que os símios), o animal mais parecido com o homem é o golfinho. Nos nossos hábitos alimentares (omnívoros), somos muito mais semelhantes, novamente, ao porco e à rata (sem suspicácias, por favor) do que aos macacos, a maioria dos quais são frugívoros. E poderia continuar com uma larga lista de etc. Tudo isto não faz mais do que corroborar o que venho dizendo: semelhança não prova parentesco.
Mas há ainda mais. Os cientistas que insistem no tema do parentesco entre o macaco e o homem – baseado nas semelhanças, que não provam absolutamente nada, como vimos – equiparam, devido à sua fé darwinista, parente com antepassado. Mas isto, insisto, em razão da fé darwinista, que nos revela que descendemos do macaco.
Mas, inclusivamente aceitando, para os fins do argumento, que somos parentes do macaco, não poderiam os macacos ser nossos descendentes?
Se ao leitor isto soa a disparate, esclareço que compartilho a sua opinião; mas creia que é muito menos disparatado que o contrário. De fato, o feto do macaco e o macaco recém-nascido têm muitas mais semelhanças com o feto e o recém nascido humano do que com os macacos adultos. Quer dizer, os traços típicos do macaco vão-se acentuando com o tempo. Desde logo que isto tampouco prova nada; mas, se damos importância ao argumento do parecido, sejamos ao menos coerentes e apliquemo-lo sempre, e não unicamente quando favorece a hipótese que queremos demonstrar.
Não fique o leitor com a menor dúvida de que, se o feto e o recém-nascido humano tivessem traços simiescos, tal seria proclamado clamorosamente como demonstração “contundente” da nossa origem a partir do macaco.
Que o macaco seja nosso descendente é, como disse, um disparate; mas muitíssimo menor que sustentar que é nosso antecessor. Pela simples razão que é infinitamente mais lógico e científico fazer descender o inferior do superior do que o inverso.
De fato, houve e há destacados antropólogos e primatólogos (Otto Schindewolf, Van der Horst, Westenhöfer, de Snoo, Wood Jones, Geoffrey Bourne, e vários mais) que sustentam aproximadamente essa posição; isto é, que o “antecessor comum” teria sido um ser muito mais parecido com o homem que com o macaco e que dele teria derivado, mais ou menos horizontalmente, o homem e, por degenerescência, os macacos atuais. Quer dizer que a “evolução” produziria “involução”.
Por certo que estes antropólogos não têm a mais remota idéia a respeito da origem desse suposto “antecessor comum” – quase idêntico ao homem – mas neste sentido, estão em melhor posição os antropólogos darwinistas? Acaso têm eles a mais remota noção donde se originou o macaco ancestral? Absolutamente, não.
Ainda que as especulações abundem, o certo é que ninguém tem a mais pálida idéia donde se originaram os macacos! O que certamente chama a atenção; pois, como pode acontecer que todos os pesquisadores de fósseis que vivem encontrando restos de macacos, supostamente antecessores do homem, nunca encontrem antecessores do macaco?! Originou-se este por geração espontânea? Ou veio de outro planeta? Como pode ser que qualquer resto de macaco encontrado seja antepassado do homem? O macaco não tem antepassados?
Não, leitor. Não tem; o mesmo com o homem. Quando aparecem os macacos, são isso, perfeitos macacos. Quando aparece o homem, é homem como nós. Isto é o que mostra o estudo sério e sem preconceitos dos restos fósseis: aparição súbita e com plena perfeição do homem, do macaco e de todas as espécies animais e vegetais.
Esclareço o leitor que o consenso é unânime neste sentido. Nenhum paleontólogo sério no mundo pode mostrar um só exemplo do “elo perdido” das centenas ou milhares que seriam necessários para dar forma às imaginárias árvores genealógicas evolucionistas. No máximo limitam-se a expressar a sua convicção (darwinista) de que serão encontrados no futuro (o mesmo que Darwin disse há mais de um século). É uma questão de continuar a cavar…
A Seleção Natural
Analisemos agora algo sumamente importante em relação a este tema: o mecanismo que explicaria a transição do macaco para o homem. Porque se não há um mecanismo que explique mais ou menos racionalmente esta transição, adeus hipótese darwinista (Darwin dixit).
Pois bem, há expressões que adquirem um poder de sugestão tão grande que anulam a razão e possibilitam a captação mística da realidade: os “mantras” dos budistas, por exemplo. A fé darwinista tem, naturalmente, os seus “mantras”, e talvez o mais importante deles seja a famosa e todo-poderosa “Seleção Natural”.
Esta “explica” não só a transição do macaco para o homem (isto é apenas uma ninharia), mas também a origem de todas as espécies animais e vegetais do nosso planeta. Sim, senhor. Mas com uma condição: que ninguém pergunte o que é. Quer dizer, qual é a sua natureza. A Seleção Natural explica tudo, sob condição de que não se pretenda defini-la racionalmente. Em questões de fé, é impossível racionalizar o mistério.
Se o leitor, como recalcitrante homem de pouca fé darwinista, pretende buscar uma definição mais ou menos coerente do que é a Seleção Natural, não vai encontrá-la. O que encontrará a esse respeito são uma vintena de balbuciações incoerentes. Cada cientistas “define- a” como quer. Na realidade, quase nunca a definem; limitam-se, simplesmente, a invocá-la.
Quando tentam dar uma definição, falam – mais ou menos ex cathedra – de reprodução diferencial, isto é, alguns indivíduos (os mais “aptos”) têm maior descendência, e estes são os favorecidos pela Seleção Natural; enquanto outros (os menos “aptos”) têm menor descendência e são eliminados.
O problema é que – ao não existir um critério de aptidão – o acima expresso converte-se, automaticamente, numa tautologia; quer dizer, um raciocínio circular que não explica nem define nada, e confunde tudo.
Dito de outra forma: os indivíduos mais “aptos” têm maior descendência. E … por que têm maior descendência? Porque são mais “aptos”… A tautologia é óbvia. Tão óbvia que até alguns darwinistas (Waddington, por exemplo) se deram conta dela. Como será!
E a razão pela qual a Seleção Natural darwinista não se pode definir com um mínimo de rigor (nem definir, nem observar, nem determinar a intensidade da sua ação, nem predizer os seus efeitos) é que ela, na realidade, não existe. Trata-se apenas de uma metáfora para dizer que alguns indivíduos vivem mais que outros (olha a novidade!) e, supostamente, têm maior descendência.
Como? A Seleção Natural é uma metáfora? Mas, quem se atreve a proferir semelhante blasfêmia? Pois, o próprio Darwin, caramba! Em “A Origem das Espécies”, capítulo quarto. E ali mesmo acrescenta o seguinte: “no sentido literal da palavra, a Seleção Natural é uma expressão falsa”.
Como se vê, Darwin não era tão “darwinista” como os seus seguidores. O que se passa é que os darwinistas crêem em Darwin, mas não o lêem. Isto não constitui de nenhuma maneira uma excepção, meu caro leitor. Isto é um costume do ser humano. Quantos marxistas lêem Marx? Quantos liberais Rousseau? Quantos cristãos a Bíblia? São os cientistas antidarwinistas que lêem atentamente Darwin. Os darwinistas simplesmente crêem nele.
Mas ainda que tomando a expressão Seleção Natural em sentido metafórico, como uma “coisa” (que na realidade não existe) que explicaria “a sobrevivência dos mais aptos”, repare, leitor, que o resultado é exatamente o contrário do que supõem os evolucionistas. Porque, a ser assim, a Seleção Natural favoreceria, por exemplo, a sobrevivência dos “melhores” macacos; isto é, faria com que os macacos fossem cada dia mais macacos, mas não menos macacos e mais homens! Isto é um disparate.
O que creio que sucede em relação a este ponto, é que em muitos investigadores subjaz, talvez de forma inconsciente, a íntima convicção – produto de antigas crenças – de que o homem é um ser superior ao macaco; quer dizer, mais “evoluído”, mais “perfeito”. Mas do ponto de vista meramente biológico, isto não é certo. Em nada!
O macaco não é um primata imperfeito, que chegará à perfeição quando “evolua” até homem. De maneira nenhuma; o macaco, enquanto macaco, é perfeito. Todos os seres vivos são perfeitos no seu plano. Mais ainda, do ponto de vista estritamente biológico, e, mais precisamente, do ponto de vista darwinista, o macaco é francamente superior ao homem (as ratazanas ainda muito mais). A demonstração é muito simples, leitor: abandonemos um homem e um macaco no meio da selva e vejamos quem tem maior capacIdade de sobrevivência. A lenda do Tarzan, ainda que divertida, é pura novela. Exatamente igual à hipótese darwinista, de quem é filha.
O homem não pode trepar as árvores como o macaco, não pode defender-se do sol nem do frio sem roupas, nem das inclemências do tempo sem teto; necessita de cozinhar os seus alimentos, etc., etc. Decerto que o homem é infinitamente superior ao macaco pela sua inteligência; mas esta não pertence, em sentido estrito, à biologia. O que pertence a esta ciência é o cérebro, mas não a inteligência, que se exprime através do cérebro, mas não se identifica com ele, como assinalaram já Bergson, W. Penfield, R. Sperry, C. D. Broad e Sir John Eccles, entre outros.
Inclusivamente, isto da inteligência é muito, mas muito relativo, leitor; pois quando ela supera o nível mínimo de astúcia indispensável para agredir impunemente o próximo, transforma-se, decididamente, num fator anti-sobrevivência. Quem sobrevive melhor, um trapaceiro ou um pensador, um prestamista ou um artista, um vigarista ou um trabalhador, especialmente no “primeiro mundo”?
Isto, falando dos humanos. O que seria no mundo animal! Imaginemos por um instante que, graças a algum milagre darwinista, um pobre macaco começasse a desenvolver certas características humanas; que começasse, por exemplo, a emocionar-se perante um pôr-do-sol; a enternecer-se – como Pascal – contemplando as estrelas; a escrever poemas à macaca dona do seu coração (e que certamente lhe teria dado tampa); a interrogar-se sobre a sua origem e o seu destino… O macaco que tivesse a singular desgraça de desenvolver qualquer destas características, seria inexoravelmente aniquilado pela Seleção Natural.
Tem muitas mais probabilidades de sobreviver – de fazer bom dinheiro – um homem fazendo de macaco, que um macaco fazendo de homem … como vemos todos os dias (ora não!) neste grande circo em que estamos imersos.
A Seleção Natural, ainda que usada em sentido metafórico, faria que os seres vivos se mantivessem sempre fiéis ao tipo, eliminando os que se desviassem dele. Este seria o sentido correto da expressão Seleção Natural; expressão que, com certeza, não foi criada por Darwin – como muitos acreditam, e como ele mesmo se encarregou de fazer crer – mas, vinte e quatro anos mais tarde pelo naturalista inglês Edward Blyth, que a usava no sentido que atrás assinalei.
Para o leitor interessado em ver como Darwin ocultou deliberadamente qualquer menção a E. Blyth, depois de se apoderar do seu conceito e de mudar-lhe o sentido, permito-me recomendar-lhe o excelente livro do já desaparecido e famoso antropólogo americano Loren Eiseley, Darwin and the Mysterious Mr. X”
A chamada Seleção Natural é uma metáfora que indica a ação (imprecisa, aleatória, impossível de determinar e quantificar) de um conjunto de fatores na natureza, que faz com que os seres vivos permaneçam sempre fiéis ao tipo: os peixes, peixes; os anfíbios, anfíbios; os répteis, répteis; os macacos, macacos; e os homens, homens. A respeito dos homens, a Seleção Natural parece não estar ultimamente muito ativa…
Apresso-me a esclarecer que este efeito da Seleção Natural (estabilizador ou conservador do tipo) já foi reconhecido ainda que arreganhando os dentes – por vários cientistas darwinistas (Simpson, Maynard Smith, G. Willams, R. Lewotin e R. Leakey, entre outros). Usada em sentido contrário, isto é, como “algo” capaz de transformar uma espécie noutra, é um conceito absolutamente errôneo.
E isto é assim, leitor, porque as características de todo o ser vivo estão rigorosamente programadas – até ao último detalhe- no código genético; isto é, no conjunto da informação hereditária que se transmite dos progenitores à sua descendência e que faz que cada ser vivo só possa gerar – de forma inexorável –- outro ser vivo da sua mesma espécie, e absolutamente nenhuma outra coisa.
Para que um ser vivo pudesse gerar outro ser vivo essencialmente distinto, teria que mudar totalmente o seu código genético (!). E a Seleção Natural nunca pode fazer isto, pela simples razão que ela “atua” (metaforicamente, entenda-se) sobre o organismo já formado e não sobre os seus genes; ou, como dizem os biólogos, ela atua sobre o fenótipo e não sobre o genótipo.
As Mutações
Mas – e as mutações? perguntar-me-á algum leitor. Não podem as mutações mudar o código genético?
Ah! As mutações… Este é outro dos sagrados “mantras” do darwinismo (na realidade, do neodarwinismo ). Este “mantra”, junto com a Seleção Natural, explica também a origem de todos os seres vivos; mas sob a mesma condição: a de não ser analisado cientificamente.
Do ponto de vista científico, as mutações são alterações casuais na composição química dos genes, isto é, na complexíssima molécula do DNA – ácido desoxiribonucleico, onde está codificada a informação hereditária.
Ora bem, numa estrutura altamente complexa, uma mudança ao acaso tende inevitavelmente a deteriorá-la. Para a melhorar, teria de ser capaz de aumentar essa ordem. E o acaso – por definição – não pode nem melhorar nem criar ordem. Só uma inteligência pode fazer isso.
Por isso é que 99% das centenas de milhares de mutações estudadas foram danosas, prejudiciais, deteriorantes ou letais. No melhor dos casos, foram neutras, ou porque o gene “alelo”, quer dizer, o que veio do outro progenitor, supre a função do gene deteriorado pela mutação, ou porque a mudança foi insignificante e não afetou a vitalidade do organismo.
As supostas mutações “favoráveis” de que falam alguns cientistas, não são quase nunca verdadeiras mutações; são somente uma manifestação da vitalidade genética que todos os organismos têm, que faz com que, em determinadas circunstâncias, se expressem genes que já estavam presentes – ainda que reprimidos – porque o seu funcionamento não era necessário.
Mas, ainda no caso de que existissem mutações favoráveis, com isso não fazemos absolutamente nada. Pois a hipótese evolucionista necessita, imprescindivelmente, não de mutações favoráveis, mas transmutações (!), quer dizer, mutações criativas, capazes de produzir novidades biológicas (olhos, penas, sangue quente, etc.), que expliquem a aparição das distintas espécies biológicas, desde a ameba ao homem. E isto, sim, e pura fantasia; e fantasia disparatada, irracional e anticientífica.
A impossibilidade de que as mutações (atuando ao acaso) possam produzir sequer um órgão novo, deriva fundamentalmente do seu carácter prejudicial e da sua escassa freqüência. Ademais, para poder transmitir-se à descendência, têm que afetar as células germinativas e ser dominantes, quer dizer, prevalecer sobre o gene alelo, para ter algum efeito. Tudo isto diminui ainda mais a sua freqüência.
Mas há outro problema: para que aparecesse um órgão novo, as mutações “criativas” (que são, como vimos, puramente imaginárias; as que a ciência conhece são todas deteriorantes ou, no máximo, neutras) teriam que encadear-se e integrar-se num mesmo segmento do cromossoma para poderem somar-se e dar origem, assim, a um órgão novo, que não se produziria pela ação de uma mutação, mas de milhares delas.
Para produzir um olho, por exemplo, todas as mutações teriam que afetar o conjunto de genes que regem esta função. Ora bem, isto apresenta uma impossibilidade estatística absoluta, que foi exaustivamente analisada por autores da dimensão de E. Borel, C. Guye, Lecomte du Nouy, G. Salet e outros.
Até aqui desenvolvi o argumento das mutações seguindo o esquema da hipótese evolucionista, para demonstrar que, ainda assim, é totalmente impossível que as mesmas possam criar novidades biológicas e transformar, desse modo, as espécies.
Mas a questão é, ainda, muitíssimo mais grave. E aqui há que abandonar o dogma darwinista e passar à realidade; quer dizer, abandonar o terreno da fantasia e passar ao da ciência.
Porque a pseudociência darwinista não tem lugar, nos seus esquemas, para o conceito de organismo, quer dizer, um conjunto de estruturas integradas que funcionam como um todo. Herdeira, ao cabo e ao resto, do mecanismo cartesiano, a hipótese evolucionista pensa em termos de partes. E assim os darwinistas crêem possível que um organismo se possa ir modificando por partes que, ao somar-se, produziriam a sua transformação noutro organismo. Mas isto é puro desatino. Ignora a grande lei biológica do “tudo ou nada”.
De que serviria a um macaco, por exemplo, desenvolver pernas de homem, sem desenvolver, simultaneamente, pélvis de homem? De que lhe serviria uma pélvis de homem, sem coluna vertebral de homem? Como pode ter mão de homem, com braço, antebraço e ombro de macaco? Como pode ter coluna vertebral de homem, sem crânio de homem e vice-versa?
Todas estas estruturas, ou aparecem simultaneamente e em estado de plena perfeição, ou não servem para nada; pelo contrário, são um estorvo para a sobrevivência. Isto aplica-se, por certo, a todos os organismos vivos.
E para que isto suceda, tem que mudar todo o código genético, de forma simultânea e sem um só erro. Para isso devia ocorrer uma mutação gigantesca, um reordenamento radical de todo o código genético, dirigido e especificado até aos mínimos detalhes, para produzir um ser vivo capaz de funcionar, isto é, de viver. O que constitui um milagre maior do que ressuscitar um morto.
Isto, que já havia sido apresentado na década de 30 pelo insigne biólogo e paleontólogo alemão Otto Schindewolf, teve o seu mais completo expositor em Richard Goldschmidt, um dos três ou quatro geneticistas mais eminentes deste século.
Aí pela década de 40, R. Goldschmidt, fervente evolucionista que foi, depois de haver dedicado praticamente toda a sua vida ao estudo das mutações, apesar de crer na transformação de uma espécie noutra, conclui dizendo que é absolutamente impossível explicá-la mediante o mecanismo das mutações.
Publicou um livro (The Material Basis of Evolution) e um artigo (American Science, 40:97, 1952) de um rigor científico exemplar, onde demonstra de forma convincente o caráter totalmente anticientífico de toda esta palração a respeito das mutações.
Ninguém, absolutamente ninguém, foi capaz de refutar as conclusões de Goldschmidt neste sentido.
A comunidade científica, como geralmente sucede, não fez o menor caso das conclusões deste investigador. Prosseguiram e prosseguem impudentemente, dizendo tolices sobre as mutações, sem se darem sequer ao trabalho de analisar os seus escritos, nem os de muitos outros autores que sustentam o mesmo.
Conclusão
Como vê, leitor, nesta sucinta análise do tema, só tratei de esboçar os problemas que apresenta a transformação de um macaco num homem, do ponto de vista meramente biológico.
Não mencionei – salvo de passagem – o problema capital da inteligência do homem, que marca uma diferença com o macaco que não é de grau, como sustentam os darwinistas, mas de natureza, já que este problema não pode, sequer, apresentar-se neste contexto.
Pretender explicar a inteligência humana a partir de mutações de acaso atuando sobre o cérebro de um macaco é simplesmente, não saber do que se está falando. Ou, pelo contrário, sabê-lo demasiado bem…
Em suma: alguns macacos têm incisivos e caninos parecidos com os nossos; outros caminham de forma aproximadamente ereta. Algumas moléculas dos macacos são similares às nossas (e de que pretendem os evolucionistas que fossem feitas? De plástico, talvez?).
A Seleção Natural, seja o que for que isso seja, significa que sobrevivem os indivíduos mais fiéis ao tipo (o qual conserva a espécie, não a transforma). E as mutações são absolutamente incapazes de explicar, sequer, a aparição de um órgão novo (novidade biológica).
Onde está a suposta evidência científica de que o homem teve origem no macaco? Em nenhuma parte, por certo. É apenas um dogma de fé; de fé darwinista…
E já sabemos que, perante a certeza da fé, nenhum argumento é efetivo.
Fonte: http://spessantotomas.blogspot.com/2011/08/teoria-da-evolucao-contra-ciencia-e-fe.html#more acesso em 1/set/2011
Colaboração do Pb. Francikley Vito
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