William J. Seymour nasceu em 2 de maio
de 1870 em Centerville, Louisiana, filho dos ex-escravos Simon e Phillis
Seymour que o criaram como crente Batista. Mais tarde, morando em Cincinnati,
entrou em contato com os ensinamentos de santidade através do Movimento
Reavivalista de Martin Wells Knapp e do Movimento Reformado da Igreja de Deus,
liderado por Daniel S. Warner, também conhecidos como os “Luzeiros santos da
escuridão”[1].
Crendo que estavam vivendo o crepúsculo da história humana, estes cristãos
acreditavam que o derramamento do Espirito precederia o arrebatamento da
igreja. Eles ficaram profundamente impressionados com o jovem
Seymour.
Após se mudar para Houston, Seymour
passou a frequentar uma igreja local de afro-americanos pastoreada por Lucy F.
Farrow, ex-governanta na residência de Charles F. Parham. Parham liderou o
Movimento de Fé Apostólica do meio-oeste, o nome original do Movimento
Pentecostal, que havia iniciado em sua Escola Bíblica Betel na cidade de
Topeka, Kansas, em Janeiro de 1901. Desde 1905 ele havia mudado sua base de
operações para a área de Houston, onde conduziu reavivamentos e iniciou outra
Escola Bíblica. Farrow providenciou para que Seymour assistisse as aulas. No
entanto, por causa da Lei Jim Crow de segregação racial da época, Seymour teve
que ouvir as palestras de Parham separado dos outros alunos. Seymour aceitou a
visão sua visão sobre o batismo no Espírito Santo – a crença de que Deus a
qualquer momento daria linguagens inteligíveis – falar em línguas aos crentes
para o evangelismo missionário.
Neeley Terry, uma afro-americana e
membro da nova congregação liderada por Hutchinson em Los Angeles, visitou
Houston em 1905 e ficou impressionado quando ouviu Seymour pregar. Voltando
para casa ela o recomendou para Hutchinson, uma vez que a igreja estava à
procura de um pastor. Como resultado, Seymour aceitou o convite para pastorear
o pequeno rebanho. Com alguma ajuda financeira de Parham, ele viajou de trem
para o oeste e desembarcou em Los Angeles em Fevereiro de 1906.
Reavivamento da Rua Azusa
Seymour imediatamente encontrou
resistência quando, apenas dois dias após sua chegada, começou a pregar para
sua nova congregação que o falar em línguas é a evidência bíblica do batismo no
Espírito Santo. No domingo seguinte, 4 de março, ele voltou para a missão e
descobriu que Hutchinson havia trancado a porta. A condenação também veio da
Associação da Igreja Holiness do Sul da Califórnia, da qual a igreja local era
afiliada. No entanto, nem todos da congregação estavam incomodados com o ensino
de Seymour. Destemido, Seymour, ficando na residência de um membro da igreja,
Edward S. Lee, aceitou o convite de Lee para ministrar estudos bíblicos e
reuniões de oração ali. Depois disso, ele foi para a casa de Richard e Ruth
Asberry, na rua Bonnie Brae Norte, 214. Cinco semanas depois, Lee veio a ser o
primeiro a falar em línguas. Seymour então compartilhou o testemunho de Lee
numa reunião na Bonnie Brae Norte e então muitos outros também começaram a
falar em línguas.
A notícia desses eventos se espalhou
rapidamente tanto nas comunidades afro-americanas quanto nas comunidades
brancas. Durante várias noites, oradores pregavam da varanda para a multidão
rua abaixo. Crentes da Missão de Hutchinson, Primeira Igreja do Novo
Testamento, e várias congregações de santidade, começaram então a orar pelo
batismo Pentecostal. (Hutchinson mesmo foi batizado no Espírito como foi
o próprio Seymour). Finalmente, após a varanda frontal desabar, o grupo alugou
o antigo prédio da Igreja Episcopal Metodista Africana (Stevens African
Methodist Episcopal – A.M.E), na rua Azusa, 312 no início de abril. Um jornal
de Los Angeles se referiu a isso como um “barraco desabado”. Recentemente tendo
sido usado como estábulo e estalagem. Madeira de demolição e gesso espalhados
pelo local, mais parecendo um celeiro.
As reuniões da Missão da Fé Apostólica
rapidamente chamaram a atenção da imprensa, devido à natureza incomum dos
cultos. Entre 300 e 350 pessoas podiam entrar na estrutura de madeira pintada
de branco que media 12 metros por 18, enquanto muitas outras, às vezes, ficavam
do lado de fora. Os cultos eram realizados no primeiro andar, onde os bancos
foram dispostos de maneira retangular. Alguns eram simplesmente tábuas pregadas
sobre barris vazios. Não havia plataforma elevada e não havia púlpito no início
do reavivamento.
Apesar de muitos poderem ser
considerados líderes, o mais conhecido foi o modesto William J. Seymour. Frank
Bartleman, um dos primeiros participantes, recorda que o “Irmão Seymour
geralmente sentava atrás de duas caixas de sapato vazias, uma sobre a outra[2].
Ele geralmente mantinha a cabeça elevada durante a reunião, em oração. Não
havia orgulho lá… Naquela velha construção, com suas vigas baixas e piso bruto,
Deus quebrou homens e mulheres fortes em pedaços, e os juntou novamente, para
Sua Glória… O ego religioso rapidamente pregou seu próprio sermão fúnebre.”[3]
O segundo andar serviu como escritório
da Missão e residência para várias pessoas, incluindo Seymour e sua esposa
Jenny. Também tinha uma grande sala de oração para acomodar o excedente de
pessoas do culto do andar inferior. Um observador descreveu o espaço: “Lá em
cima é uma grande sala mobiliada com cadeiras e três pranchas de madeira
colocadas de fora a fora sobre cadeiras sem encosto. É o cenáculo Pentecostal,
onde almas santificadas buscam a plenitude Pentecostal e saem falando novas
línguas”.[4]
Ainda assim, o reavivamento avançava
lentamente durante os meses de verão, com apenas 150 pessoas recebendo o
“Batismo com o Espírito Santo e a evidência bíblica”. Mas isso mudou no outono,
quando o reavivamento ganhou ímpeto e pessoas de toda a parte começaram a
participar. O missionário Bernt Bernsten viajou desde o norte da China para
investigar os acontecimentos após ouvir que a prometida chuva serôdia havia
sido derramada.
Histórias do reavivamento rapidamente
se espalharam pela América do Norte, Europa e outras partes do mundo por onde
os participantes viajaram, testemunharam e publicaram artigos em publicações
simpatizantes à santidade. O Periódico “A Fé Apostólica” foi
particularmente influente através dos trabalhos editados por Seymour e Clara
Lum, publicados entre setembro de 1906 e maio de 1908. Distribuídas
gratuitamente, milhares de ministros e leigos receberam cópias, tantos nos EUA
como no exterior: 5.000 cópias foram impressas na primeira edição (setembro de
1906), e em 1907 a tiragem chegou a 40.000 exemplares.
A maioria dos que visitaram a Missão
receberam o revestimento do Batismo no Espírito Santo e foram capacitados com
dom de línguas para pregação do evangelho por toda a parte. Isto lhes permitia
ignorar o incômodo do estudo formal da língua. A Fé Apostólica relatou: “Deus
está resolvendo o problema missionário, enviando missionários com novas línguas
no modelo de fé apostólica, sem bolsa nem alforje, e o Senhor ia adiante deles,
preparando o caminho”. Missionários alojados no local, de passagem para outra
Missão também participavam e falavam em línguas e, em alguns casos eram
identificadas as línguas faladas. Os ouvintes, no entanto, geralmente dependiam
do Senhor para identificar as línguas que ouviam.
Afro-americanos, latinos, brancos e
outros tantos oravam e cantavam juntos, criando uma dimensão de unidade
espiritual e igualdade quase sem precedentes para a época. Isto permitiu a
homens, mulheres e crianças participar e celebrar sua unidade em Cristo guiados
pelo Espírito. Na verdade, foi tão incomum essa mistura de negros e brancos que
Bartleman entusiasmadamente exclamou: “A linha da cor foi apagada pelo
sangue”[5]. Ele
quis dizer que na obra santificadora do Espírito Santo, o pecado do preconceito
racial foi removido pelo sangue purificador de Jesus Cristo.
Enquanto isso, no final do verão de
1906, Chales Parham iniciou outro reavivamento Pentecostal em Zion City,
Illinois, entre os seguidores do curandeiro nacionalmente conhecido John
Alexander Dowie. Só em outubro Parham foi para a Califórnia, na esperança de
consolidar os fiéis de Los Angeles dentro de uma rede mais ampla de crentes da
Fé Apostólica e, segundo, para aproveitar o que considerava ser um desenfreado
entusiasmo religioso. Como isso aconteceu, a adoração emocional e,
particularmente a mistura de brancos e negros ofendeu profundamente a Dowie.
Parham colocou a culpa em Seymour.
A maioria dos fiéis da Azusa permaneceu
leal a Seymour depois que Parham designou algumas pessoas para estabelecer uma
missão rival. Após poucos anos do seu início, a Missão de Fé Apostólica
tornou-se predominantemente negra com Seymour ainda como pastor. Anos mais
tarde, o preconceito aflorou também lá, quando o próprio Seymour destituiu
pessoas brancas dos cargos de liderança, reservando-os para os negros.
O legado de Seymour
Numa escala mundial, o reavivamento da
rua Azusa contribuiu para uma nova diáspora de missionários antecipando que a
evangelização mundial seria alcançada pela pregação do evangelho acompanhada de
sinais e maravilhas (Atos 5.12). Embora apenas um pequeno número de
missionários viajaram da Azusa para ministrar em outras partes, isto impactou
muitos outros que iniciaram movimentos Pentecostais surgidos como resultado de
ouvirem notícias do derramamento do Espírito em Los Angeles. Para muitos o
reavivamento da rua Azusa finalmente inaugurou o grande reavivamento do fim dos
tempos.
Muito mais poderia ser dito sobre a
influência a longo prazo do reavivamento e do “Bispo” William J. Seymour (um
título honorário que recebeu mais tarde, provavelmente de sua congregação). As
limitações deste artigo, contudo, impossibilitam uma discussão mais longa.
Vamos olhar especificamente o legado de Seymour.
Para começar, devemos notar que ele
modelou uma genuína humildade, que muitos aclamaram. Ele desejava promover a
unidade entre os seguidores do Espírito Santo na Azusa e encorajava-os a serem
sensíveis à direção do Espírito para os serviços ali. Fotografias retratam-no
como uma pessoa calorosa, amigavelmente sorridente e de estatura mediana. A
luta de Seymour contra a varíola o deixou cego do olho esquerdo.
No entanto, o ministério de Seymour não
veio sem um preço. Ele pessoalmente suportou duras críticas de seus oponentes –
líderes do movimento de santidade não simpáticos ao pentecostalismo, bem como o
desprezo de Parham e mais tarde de Frank Bartleman. Como as denominações
pentecostais de brancos registram e contam suas histórias, Seymour foi
esquecido, em parte porque ele não contribuiu para fundação do movimento, em
parte porque a seu ver foi em Topeka o início de tudo e em parte devido à
prioridade dada por ele ao evangelismo acima da preservação do registro
histórico. Seymour também partia do princípio que o falar em línguas é a
evidência física do Batismo no Espírito Santo. Tudo isso contribuiu para que
Seymour se tornasse uma figura quase esquecida na história Pentecostal.
A grandeza de Seymour hoje pode ser
encontrada na sua preocupação com revestimento espiritual e união. O foco em
Topeka e outros reavivamentos pentecostais está na necessidade dos Cristãos em
receber o Batismo no Espírito Santo para ganhar almas para Cristo. A dinâmica
inter-racial e intercultural sem precedentes na Azusa, no entanto, acentuam
tanto a santidade de caráter e poder para testemunhar em uma demonstração
incomum do amor e igualdade no corpo de Cristo. A este respeito, isto
poderosamente nos lembra que a plenitude do poder Pentecostal iludirá aqueles
que buscam por poder em seus ministérios acima do caráter cristão.
A expansão missionária da igreja
primitiva como registrada no livro de Atos, destaca o fato de o derramamento
Pentecostal abraçou pessoas que eram consideradas impuras pelos padrões
judaicos. O derramamento do Espírito em Samaria (Atos 8) e entre os gentios
(Atos 10) ensinou aos primeiros cristãos que a obra redentora de Deus supera as
barreiras raciais e culturais. A humanidade caída sempre atribuiu a tais
diferenças mais importância que Deus designou e assim acabam tiranizando a obra
criadora de Suas mãos. Porque eles já tinham sido “batizados em Cristo” e
“revestido de Cristo” Paulo alerta os Cristãos Gálatas, “Nisto não há judeu nem
grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um
em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28)
No dia de pentecostes, judeus vindos de
todas as nações ficaram maravilhados ao ouvirem louvores a Deus em seu próprio
idioma (Atos 2.5-13). Alguns seriamente perguntaram: “O que isto significa?”
Outros zombaram e não deram importância à ocasião. No entanto, Pedro colocando
as coisas numa perspectiva divina, referiu-se às palavras de Joel: “Nos últimos
dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos” (Atos 2.17,
NVI).
Em setembro de 1906, a primeira edição
da Fé Apostólica relatou: “Em pouco tempo, Deus começou a manifestar seu poder
e logo o prédio não poderia conter as pessoas. Orgulhosos pregadores
bem-vestidos têm vindo para nos ‘investigar’. Em pouco tempo, seus olhares
altivos são substituídos por admiração, então a convicção vem e muito
frequentemente você vai encontrá-los chafurdando no chão sujo, pedindo a Deus
que os perdoe e os faça como crianças.”
O reavivamento da rua Azusa ilustrou a
verdade fundamental sobre a aquisição de poder espiritual: o desejo de amar ao
próximo e ganhar o mundo para Cristo começa com quebrantamento, arrependimento
e humildade.
Título original: William
Seymour and the Azusa Street Revival
Tradução: Gabriel Wilges
[1] Eles
ficaram conhecidos assim em razão dos horários das reuniões que se davam ao
entardecer ou à noite.
[2] Talvez
um gazofilácio improvisado para recolher dízimos e ofertas.
[3] Bartleman,
p. 58
[4] STANLEY
H. Frodsham, With Signs Following. Springfield:
Gospel Publishing House, 1941, p. 34
[5] Bartleman,
xviii
FONTE: teologiacarismatica.com.br/william-seymour-e-o-reavivamento-da-rua-azusa/



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