Encanto-me com a peregrinação de Atanásio (295-373dC) em prol da verdade bíblica. Vivendo num século em que a pureza doutrinal do Cristianismo era constantemente ameaçada, aprumou-se ele bravamente contra o arianismo. No concílio de Nicéia, realizado em 325, defendeu a doutrina da Santíssima Trindade de conformidade com o padrão das Sagradas Escrituras. Atanásio, reverenciado tanto no Oriente como no Ocidente, pode ser considerado o principal articulador do símbolo niceno.
Vivesse Atanásio em nossos dias, muitas dificuldades haveria de enfrentar com os proponentes do chamado “Teísmo Aberto”. Não se trata, como veremos de uma novidade; é algo tão antigo e confuso como aquelas heresias que conturbavam a Igreja de Cristo em seu nascedouro. Como definir esse desvio teológico?
O que é Teísmo Aberto?
No cristianismo nascente, não foram poucos os filósofos que, influenciados pela mensagem dos santos apóstolos, convertiam-se a Cristo. Haja vista Justino, o Mártir. Hoje, porém, deixam-se os teólogos se arrastar pela filosofia vã e extravagante, como se, diante dos inquiridores deste mundo, não tivesse o Evangelho poder algum. Antes, os filósofos faziam-se teólogos; agora, os teólogos convertem-se em filósofos, supondo estar fazendo teologia.
No que tange ao Teísmo Aberto, descobriremos não propriamente uma teologia, mas uma especulação doentiamente relativista.
1) Definição: Originando-se da Teologia do Processo, formulada pelo Inglês Alfred North Whitehead, o Teísmo Aberto é uma doutrina, segundo a qual o Universo é governado pelo processo de mudança, determinado pelos agentes do livre-arbítrio. Logo, a autodeterminação caracteriza inclusive a Deus que, neste contexto, acha-se despojado de sua soberania, limitando-se a exercer o seu livre-arbítrio na criação de novas possibilidades.
Conhecido também como Teologia Relacional e Teologia Neoclássica, o Teísmo Aberto ensina também que, pelo fato de Deus conter o Universo, Ele também muda tanto quanto este.
2) Princípios ideológicos – Charles Hartshorne, John Cobb e David Ray Griffin são considerados os principais formuladores do Teísmo Aberto. No Brasil, foi este introduzido por escritores oriundos de diversas vertentes denominacionais. Entre os teólogos judeus que o assumiram, encontra-se o rabino Samuel Alexander.
Objetivos do Teísmo Aberto
De acordo com Martinho Lutero, “a teologia consiste principalmente no seu uso e prática, e não na sua especulação”. Infelizmente, muitos teólogos modernos, esquecendo-se de sua vocação primacial – a glorificação do nome de Deus – transviam-se pelas trilhas da filosofia e erraram pelas veredas do relativismo moral. Buscando, agora, justificar o injustificável esforçam-se por criar um deus teologicamente correto; um deus à sua própria imagem e semelhança.
1) A criação de um deus teologicamente correto: As Sagradas Escrituras jamais se amoldarão às absurdas demandas do Teísmo Aberto. De um lado, o Deus dos profetas e dos santos apóstolos; do outro um deus plasmado segundo as conveniências de um mundo que jaz no maligno. Se o Deus dos cristãos é exclusivista e não admite compartilhar sua glória com nenhuma outra criatura. O deus dos teístas abertos é escandalosamente inclusivista: cabe em todos os credos; adequa-se a todas as religiões e assimila todas as crenças. Esse Deus tolerante e ecumênico somente não tolera a Bíblia Sagrada e os credos ortodoxos.
O deus do Teísmo Aberto, sempre teologicamente correto, embora todo-poderoso, não pode evitar um terremoto ou um inesperado tsunami; apesar de onipresente, não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo; não obstante onisciente, ignora o que se esconde sobre o livre-arbítrio humano; é soberano, mas acha-se sob o império da liberdade libertária com que dotou suas criaturas.
É paradoxal e ilógico o Teísmo Aberto, como ilógicos e paradoxais são os seus proponentes. Aliás, como entender um deus todo-poderoso que não detém o poder todo? Neste caso, como leciona o professor Regis Jolivet, não temos uma negação; deparamo-nos com um vazio de ideias. É justamente em tais limbos que vem atuando o Diabo, levando os sábios o presente século a desvanecerem-se em seus discursos. Não assim o Deus da Bíblia; embora se encontre infinitamente acima da razão humana, não a contradiz. Se a Escritura afirma que Ele é o Deus Único e Verdadeiro, podemos ter certeza: além dEle não há outro deus.
2) O estabelecimento de um cristianismo ideologicamente inclusivo: Foi o Cristianismo ferozmente perseguido por Roma, por causa do caráter exclusivista da sã doutrina. O Teísmo Aberto, porém, embaído por uma hermenêutica viciada e simplista, intenta incluir, em seu condescendente corpo de doutrinas, todos os credos e crenças. Tal cristianismo não é apenas ecumênico; é secular e místico como aquelas religiões que, nascidas da Índia, desaguam no Ocidente, levando nosso mundo a reviver a idolatria e mitos.
3) A construção de uma moral pós-cristã: O que mais incomoda o Teísmo Aberto é o problema do mal. Voltando aos rudimentos da fé, problematizam: Se Deus é bom, como pode Ele permitir que sobre os inocentes se abatam tragédias como os terremotos, pragas e fomes? Terá Deus suficiente poder a fim de evitar semelhantes males?
Deus é bom; não pode ser melhor do que é, pois infinitamente perfeito. Sendo também amor, enviou Ele o seu Unigênito para morrer a mais vergonhosa das mortes, para outorgar-nos a sua vida num mundo que jazia morto em delitos e pecados. Então, por que os males? Vêm-nos estes em consequência dos pecados de Adão e de seus descendentes. Por conseguinte, não devemos nós ser demasiados simplistas não questão do mal; sejamos, simples, entretanto, para compreender, aceitar e submeter-nos à soberana vontade de Deus.
Diante de um cego de nascença, perguntaram os discípulos a Jesus: “Quem pecou para que este nascesse cego? Ele ou seus pais?” Respondeu-lhes Jesus: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3). Tudo o que Deus faz é para que o seu nome seja glorificado; e, assim, venha à humanidade a converter-se de seus maus caminhos.
Os ataques do Teísmo Aberto
Reconstrução é o verbo que mais confecciona os adeptos do Teísmo Aberto. Intentam eles reconstruir a Igreja de Cristo, como se esta não tivesse por fundamento os profetas e apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, ainda, não satisfeitos, insurgem-se contra a sã doutrina, numa tentativa desvairada de se criar um aleijão teológico que, em nada, difere das mitologias gentílicas; “um deus sem divindade.”.
O que mais esperar do Teísmo Aberto? Tencionam, também, reconstruir a salvação? Que sucedâneo terão eles para o Calvário? Que substituto, para o sacrifício vicário do Cordeiro? E para o sangue de Cristo? Que Deus nos guarde dessas teologias e doutrinas loucas.
Á semelhança dos atenienses, encontram-se os sectários do Teísmo Aberto sempre ávidos por novidades e modismos. Consomem, passiva e servilmente a má teologia produzida nos Estados Unidos e na Europa. Depois, qual joio entre o trigo, saem por nossos seminários, presumindo-se como porta-vozes da verdade cristã. E quando assumem o púlpito com aquela verbosidade incontida? Até parecem o Loquaz pintado por Bunyan em O Peregrino.
O Teísmo Aberto criou um deus segundo a sua imagem e semelhança; disforme e vazio. Um deus destituído de bondade e grandezas; um arremedo grotesco do Deus Único e Verdadeiro. Um deus que pode, mas não sabe; que sabe, porém nada faz, por achar-se submetido a uma infame liberdade arbitrária. Um deus que se assusta com um tsunami. O nosso Deus, porém, é o criador dos céus, da terra e dos mares. Somente Ele pode repreender os mares: “Aquietai-vos”. Se não o fizer, deixemo-lo por conta de sua soberania.
Este artigo foi escrito pelo Pastor Claudionor de Andrade – digitado para este blog, pelo vosso conservo em Cristo,
João Augusto de Oliveira
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