Iniciando o terceiro bloco de nosso trimestre, passaremos a estudar a Segunda Epístola de Paulo a Timóteo. No primeiro capítulo desta carta, vemos como a fé é necessária para que não nos abalemos nas dificuldades desta vida terrena.
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
3º Trimestre de 2015 - CPAD
A IGREJA E O SEU TESTEMUNHO – as ordenanças de Cristo nas cartas pastorais
Comentários da revista da CPAD: Elinaldo Renovato de Lima
LIÇÃO Nº 7 – EU SEI EM QUEM TENHO CRIDO
A fé é necessária para que não nos abalemos nas dificuldades desta vida terrena.
INTRODUÇÃO
- Iniciando o terceiro bloco de nosso trimestre, passaremos a estudar a Segunda Epístola de Paulo a Timóteo.
- No primeiro capítulo desta carta, vemos como a fé é necessária para que não nos abalemos nas dificuldades desta vida terrena.
I – SAUDAÇÕES INICIAIS DA SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO A TIMÓTEO
- Na sequência do estudo deste trimestre, em que estamos a analisar as chamadas “cartas pastorais” de Paulo, passaremos a estudar, neste terceiro bloco deste trimestre, a Segunda Epístola de Paulo a Timóteo, que, na verdade, foi a última epístola escrita pelo apóstolo, quando já se encontrava na sua segunda prisão em Roma, prisão que resultou na sua condenação à morte, sendo um dos muitos cristãos martirizados na primeira grande perseguição romana contra a Igreja, ocorrida durante o reinado de Nero.
- Paulo havia sido absolvido e saído da prisão em Roma, como lhe fora revelado pelo Espírito Santo e dito na carta que escreveu aos filipenses (Fp.1:24-26; 2:24). Naquela ocasião, as acusações contra ele eram religiosas, promovidas que foram pelos judeus (At.24:2-22) e o governo romano entendeu não haver qualquer delito contra o Império. Paulo, então, como temos visto neste trimestre, partiu para Filipos e mandou Timóteo para assumir a igreja em Éfeso (I Tm.1:3).
- Muito provavelmente, Paulo, depois de ir a Filipos, foi para a Espanha, como era seu intento desde antes de ser preso a Jerusalém (Rm.15:24), devendo ter retornado à Ásia, mais precisamente a Trôade (Cf. II Tm.4:13), onde, possivelmente, foi novamente preso, por ter sido acusado por Alexandre, o latoeiro (Cf. II Tm.4:14), acusação que já era de natureza política, já que Nero iniciara perseguição contra os cristãos, que se recusavam a adorar o Imperador, sendo, então, levado novamente a Roma.
- Paulo, conhecedor que era do direito romano, bem percebeu que não teria sucesso desta feita, que a condenação era certa. Já havia participado da primeira audiência e sentira que sua sorte estava determinada. O próprio Espírito Santo revelou a Paulo que ele morreria por causa da fé (Cf. II Tm.4:6-8).
- Diante desta circunstância, Paulo sentiu a necessidade de escrever uma nova carta a seu filho na fé, Timóteo, a fim de lhe dar as últimas orientações a respeito do ministério pastoral, como também para pedir que viesse visita-lo, pois o apóstolo, que muito amava aquele jovem pastor, queria despedir-se dele, ter novamente a sua companhia.
- Paulo, então, inicia sua carta reafirmando a sua autoridade apostólica, lembrando que era apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus (II Tm.1:1).
- Esta apresentação que Paulo faz de si mesmo mostra-nos, de pronto, que o apóstolo, apesar das circunstâncias extremamente adversas que estava a passar, não estava espiritualmente abalado, embora, logicamente, do ponto de vista sentimental e emocional, estivesse abatido, já que prenunciava a sua condenação à morte, estando, ademais, em uma prisão, sofrendo a solidão, abatimento que fica bem nítido ao longo desta epístola.
- Ao dizer que era apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, Paulo demonstrava a convicção de sua chamada divina e reconhecia que, como apóstolo de Jesus, tinha, mesmo, de ter o mesmo destino que tinha tido o seu próprio Senhor. Esta convicção era, sem dúvida alguma, uma rememoração das palavras de Cristo aos Seus discípulos de que, se Ele, que era o Senhor, havia sido aborrecido dos homens, não podiam os discípulos aguardar outra reação por parte do mundo (Jo.15:18-20), se mataram o madeiro verde (Jesus), fariam o mesmo com o madeiro seco (os discípulos) (Lc.23:31).
- Precisamos, também, ter esta convicção que tinha o apóstolo Paulo. Precisamos ter consciência de nosso chamado não só à salvação, como também ao ministério, e tal convicção nos permitirá passar pelas tribulações da vida sem abalarmos a nossa fé, não permitindo que as adversidades nos impeçam de continuar caminhando para o céu.
- Mas, ao mesmo tempo em que o apóstolo tinha convicção de sua chamada, num olhar para o passado que o mantinha firme na sua caminhada para o céu, também tinha um olhar para o futuro, porquanto dizia que havia uma “promessa da vida que está em Cristo Jesus”. Como afirma Tomás de Aquino: “…O fruto desta dignidade não é algo terreno, mas, sim, ‘segundo a promessa de vida’, isto é, para conseguir a vida eterna prometida por Cristo. Este deve ser o objetivo de todos os prelados. ‘aqueles (os que hão de lutar na arena), para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível (I Co.9:25)…” (Comentário à Segunda Epístola de Paulo a Timóteo. Cit. II Tm.1:1-3, n.2. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 02 jun. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).
- O comentarista bíblico Matthew Henry, ao comentar esta passagem, diz: “…O evangelho é a promessa de vida em Cristo Jesus. A vida é o alvo; e Cristo, o caminho (Jo.14:6). A vida é colocada na promessa; e ambas estão seguras em Cristo Jesus, a testemunha fiel. Porque todas quantas promessas há de Deus são nele sim; e por ele o Amém (II Co.1:20).…” (Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p. 705).
- Como afirma William Hendriksen: “…É muito oportuno que Paulo, o prisioneiro que se defronta com a morte, tenha firmado sua atenção na promessa de vida indestrutível. Esta é, naturalmente, a vida que se centra (implícito) ou está ‘em Cristo Jesus’, porque sem Sua expiação ou intercessão ninguém jamais entraria na posse desta vida, dessa salvação…” (Comentários I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, p. 276) (destaques originais).Ou, como afirma Hans Bürki: “…Diante da iminente morte seu olhar contempla a promessa da vida. Essa sucinta asserção também pode conter o grato conhecimento de que ele foi chamado como apóstolo para ser, até a última hora, um mensageiro da vida, que se manifestou e pode ser encontrada no Messias Jesus. Não de forma abrandada, mas particularmente enfática e frequente, Paulo emprega essa síntese mais característica de sua teologia e seu serviço, uma síntese de toda a revelação, todos os pensamentos e experiências: no Messias Jesus.…” (Cartas a Timóteo Comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p. 20).
- Paulo, assim como fizera na sua primeira epístola, chama Timóteo de seu filho, mas aqui, em vez de chama-lo de “verdadeiro filho”, chama-o de “amado filho”, revelando, assim, toda a sua estima àquele jovem pasto r, de cuja companhia estava precisando nestes últimos instantes de sua vida terrena. Uma vez mais, fala da graça misericórdia e paz de Deus Pai e da de Cristo Jesus, Senhor nosso, uma nota característica de suas cartas pastorais, lembrando que o ministro precisa ser misericordioso, porquanto é alvo e objeto da misericórdia de Deus.
- Paulo mostra, ainda, que, apesar das circunstâncias adversas, não tinha tido a sua fé abalada, tanto que dava graças a Deus, a quem servia desde os seus antepassados com uma consciência pura, de quem sem cessar fazia memória de Timóteo em suas orações noite e dia (II Tm.1:3).
- Paulo podia se manter firme apesar das adversidades e continuar a ter a esperança da vida eterna porque tinha uma consciência pura, porque tinha comunhão com o Senhor, porque servia a Deus e fazia a Sua vontade. Este é o segredo para podermos enfrentar as aflições deste mundo, de termos o necessário bom ânimo para passarmos por esta peregrinação terrena (Jo.16:33): servir a Deus, ter uma consciência pura.
OBS: “…É a consciência que temos de nós mesmos em todos os relacionamentos da vida, especialmente relacionamentos éticos. Temos ideia do que é certo e errado; e quando percebemos essa realidade e seus direitos sobre nós, e não obedecemos, nossas almas estão em guerra consigo e com a lei de Deus, conforme descrito em Romanos 7. Ter uma consciência boa ou pura não significa que nunca pecamos ou que não cometemos pecado nenhum. Antes, significa que a orientação e motivação fundamental da vida é obedecer e agradar a Deus, de modo que os pecados são habitualmente reconhecidos como tais e apresentados a Deus (I Jo. 1:9).…” (HARRISON, Everett F. II Timóteo Comentário Moody, p.4).
- “…Ora, devemos considerar a situação da seguinte maneira: assentado em sua sombria masmorra e já encarando a morte, Paulo, longe de queixar-se, como muitos teriam feito em condições semelhantes, medita sobre as bênçãos passadas e presentes, e deseja sinceramente expressar sua gratidão. Este é o cenário das palavras.…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., p.278).
- Paulo, ademais, mostra que, diante de situação tão difícil, estava a interceder por Timóteo, orando noite e dia por ele. Suas dificuldades não o impediam de amar o próximo, de buscar, por meio da oração, o bem dos outros. O apóstolo não era egoísta, mas, como um homem de oração, orava incessantemente por Timóteo.
- Este é o verdadeiro papel do pai espiritual: interceder pelos seus filhos dia e noite. Pai espiritual não é, como ensinam equivocadamente os falsos mestres do movimento celular, alguém que tenha domínio sobre outros crentes, mas, sim, pessoas que amam os seus filhos na fé e por ele intercedem, noite e dia.
- Paulo, também, com esta afirmação, mostra-nos que o verdadeiro e genuíno ministro, aquele que tem convicção de sua chamada, é um homem de oração. Na sua primeira carta, Paulo havia dito que se deveria orar sem cessar (I Ts.5:17); na sua última carta, o apóstolo mostra que era um homem que orava sem cessar. Paulo tinha uma fé inabalável porque vivia em contínua oração.
OBS: “…Quando nos sentimos movidos a orar, ainda que seja em favor de outrem, o espírito de oração é essencialmente o mesmo, seja qual for seu objeto — nós devemos ser gratos quando nos sentimos continuamente aptos a orar por um amigo…” (SPURGEON, Charles H.. Exposição de II Tm.1:1-18. Sermão ‘Aquele dia” e suas divulgações, pregado na noite de quinta-feira dia 15 de fevereiro de 1872 no Tabernáculo Metropolitano de Newington, p.6. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols61-63/chs3531.pdf Acesso em 02 jun. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).
- O apóstolo, então, expressa a sua saudade de seu filho na fé. Diz que desejava muito ver Timóteo. Paulo sabia que iria morrer e, com esta certeza, queria, uma vez mais, ter a companhia daquele seu tão estimado cooperador, seu filho na fé, que tanto bem já lhe havia feito durante o seu ministério (Cf. Fp.2:19-23).
- Paulo diz que se lembrava das lágrimas de Timóteo. Hendriksen entende que “…é inteiramente provável que quando Paulo e Timóteo se separaram pela última vez, Timóteo tenha derramado lágrimas. Sem dúvida, Paulo também fizera o mesmo, mas agora não faz referência a suas lágrimas, mas às de Timóteo. Essa separação não era a mencionada em I Timóteo 1:3, mas uma muito posterior que, com toda a probabilidade, ocorreu depois do regresso do apóstolo de Espanha.…” (op.cit., p.280).
- Estas lágrimas de Timóteo enchiam o apóstolo Paulo de gozo, porque ele sabia que seu filho na fé tinha uma vida espiritual bem alicerçada, tinham uma fé não fingida, que havia se desenvolvido desde os tempos da sua infância, pelo exemplo e ensino que tinha tido seja de sua avó Loide, seja de sua mãe Eunice (II Tm.1:4,5).
- Paulo ressalta a importância da educação doutrinária no lar. Timóteo havia sido formado desde o berço na Palavra de Deus e, por isso, o apóstolo podia se regozijar com seu filho na fé, pois era ele arraigado na sã doutrina e isto era a garantia de que poderia passar pelas intempéries da vida e chegar vitorioso ao final da jornada. O apóstolo sabia que seus dias se findavam e que iria alcançar a sua salvação, mas também se alegrava em ver que Timóteo estava caminhando na mesma direção.
- Este reconhecimento da fé não fingida de Timóteo por Paulo também é mais um desmentido dos falsos ensinos do movimento celular. Paulo era o pai espiritual de Timóteo, mas reconhecia que não fora ele o iniciador da formação espiritual de Timóteo, mas, sim, que aquele jovem pastor havia aprendido com sua avó e sua mãe, que eram dotadas de uma fé não fingida. Paulo não se considerava o mediador, o único responsável pela vida espiritual de seu cooperador, de seu filho na fé, algo bem diferente do que se vê, hoje em dia, em líderes de células…
- “…A fé é necessária ao prelado, que é o guardião da fé, porque ‘sem fé é impossível agradar a Deus’ (Hb.11:6). E diz: não fingida, senão sincera, porque a verdadeira se mostra pelas boas obras, como diz Tiago 2. Esta fé não é de neófito, mas a de um filho de uma mulher judia (At.16:1).…” (AQUINO, Tomás de. Cit. II Tm.1:1-3. n.3. end, cit.) (tradução nossa de texto em espanhol).
- Por ser alguém alicerçado na fé, por ter uma fé genuína, Timóteo não poderia deixar de despertar o dom de Deus que nele havia, que lhe havia sido imposto pelas mãos do próprio apóstolo. Timóteo não poderia se deixar abalar pelas circunstâncias adversas por que passava Paulo, e deveria aperfeiçoar a sua fé cumprindo o ministério que lhe fora dado por Deus.
- O ministro de Jesus Cristo não terá condições de desenvolver a sua fé, não poderá fazer a vontade de Deus se abandonar o ministério, se deixar de lado o dom recebido pelo Senhor, se enterrar o seu talento. Muitos, em nossos dias, em virtude das incompreensões, das dificuldades, das adversidades, deixam de lado o ministério e preferem, como Dema, amar o presente século (Cf. II Tm.4:10), desprezando aquilo que receberam de Deus.
- Talvez, diante da situação aflitiva por que passava não só Paulo mas toda a Igreja, que sofria a primeira grande perseguição romana, muitos fossem tentados a abandonar o ministério, para não serem também presos e mortos. No entanto, o apóstolo deixa bem claro que o dom ministerial recebida deve ser exercido, sob pena de se pôr em risco a própria salvação, como o Senhor Jesus deixa claro nas parábolas dos dez talentos (Mt.25:14-30) e dos dez servos e das dez minas (Lc.19:11-27).
- O apóstolo também nos ensina aqui que o ministério vem de Deus embora seja reconhecido solenemente pelos homens. Paulo impôs as mãos sobre Timóteo, consagrando-o ao ministério, mas o dom que tinha era “dom de Deus”. Por isso, é assaz necessário que o ministério seja exercido tão somente após o reconhecimento da igreja local.
- Não há, portanto, qualquer respaldo bíblico para que alguém que se diga chamado por Deus, diante da incompreensão dos homens, se autoconsagre e passe a agir como “pastor”, abrindo uma igreja. Tal não é uma atitude correta. O dom, sem dúvida, vem de Deus, mas tem de haver o reconhecimento da igreja local, pois Deus é um Deus de ordem e criou um governo na Igreja, que é o Seu povo.
- O mesmo Deus que escolheu Timóteo para o ministério era o Deus que lhe havia dado também o espírito de fortaleza, amor e moderação (II Tm.1:7). Timóteo não deveria ter medo diante da prisão de Paulo e da perseguição que se fazia à Igreja, mas deveria continuar confiando em Deus e agir com destemor, coragem, amor e moderação, desempenhando o seu ministério pastoral.
- Timóteo não poderia se envergonhar do testemunho de Nosso Senhor, nem mesmo do próprio Paulo, mas deveria participar das aflições do evangelho segundo o poder de Deus. Em meio à perseguição, Timóteo tinha de continuar a pregar o Evangelho, não temendo as autoridades e não se envergonhando de Jesus Cristo. A prisão de Paulo não era motivo para se calar. As perseguições não podem nos intimidar na realização da suprema tarefa da Igreja que é levar Jesus Cristo a todos os homens.
OBS: “…quem os recebe à proporção dos dons há de trabalhar; logo temos de servir a Deus condicionados a esses divinos dons. Há dois espíritos: o do mundo e de Deus, que se distinguem entre si (…). O espírito do mundo faz os bens do mundo e temer os males temporais. Por isso diz: ‘porque não nos tem dado o espírito de temor’, a saber, mundano, que Deus nos deixa. ‘Não temais os que matam o corpo’ (Mt.10:28). Há outro espírito de temor do Senhor, que é santo e faz temer o Senhor, espírito sem pena nem ofensa, como de Deus…” (AQUINO, Tomás de. end,cit.) (tradução nossa de texto em espanhol).
- Paulo diz que Timóteo não deveria se intimidar com as perseguições, porque fomos salvos e chamados não pelas nossas obras, mas segundo o propósito e graça de Deus que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos e que é manifesta agora de Nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho para o que Paulo for constituído pregador, apóstolo e doutor dos gentios (II Tm.1:9-11).
- “…O fim do argumento de Paulo, pois, parece ser o seguinte: ‘Meu querido filho, Timóteo, combata essa tendência de demonstrar temor. O Espírito Santo que lhe foi dado, a você e a mim, bem como a todos os crentes, não é o Espírito de timidez, mas de poder, amor e autodisciplina. Beneficie-se desse poder (…) sem limites, que nunca falha, e você proclamará a verdade de Deus; desse amor inteligente, poderoso (…), e você ministrará consolo aos filhos de Deus ao ponto de visitar-me no cárcere romano; além disso, beneficie-se da sempre indispensável disciplina pessoal ou autocontrole (…) você deflagará batalha de Deus contra a covardia, tomando você a iniciativa…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., pp.283-4) (destaques originais).
II – ORIENTAÇÕES A TIMÓTEO SOBRE A FIRMEZA E CONSTÂNCIA NO MINISTÉRIO
- Paulo mostra a Timóteo que vale a pena estar preso por causa de Cristo Jesus. Ele havia sido chamado por Deus para ser pregador, apóstolo e doutor dos gentios porque o poder de Deus o havia salvado e o chamado com uma santa vocação.
- Paulo, ademais, mostra que sua chamada se dera não por causa dos seus méritos, mas pela graça de Deus, por um favor não merecido, que se manifestou na pessoa de Jesus Cristo, embora fosse já existente antes da própria criação do mundo. Jesus comprova esta graça salvadora pelo fato de ter abolido a morte, ressuscitando dos mortos, trazendo à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho.
- Como afirma Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores britânicos: “…A vontade de Deus é o grande poder que move na Igreja de Deus” (Exposição de II Tm.1:1-18. Sermão ‘Aquele dia” e suas divulgações, pregado na noite de quinta-feira dia 15 de fevereiro de 1872 no Tabernáculo Metropolitano de Newington, p.6. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols61-63/chs3531.pdf Acesso em 02 jun. 2015) (tradução nossa de texto em inglês). Por saber que era apóstolo “pela vontade de Deus”, Paulo podia seguir firme em sua confiança em Deus apesar de estar preso e prestes a ser condenado à morte.
- A graça de Deus manifestara-se em Jesus Cristo e demonstrara toda sua eficiência e eficácia com a ressurreição do Senhor. Paulo estava a sofrer todas as agruras de uma prisão injusta e a própria proximidade da morte, mas isto não o abalava, pois ele sabia que isto era resultado da graça divina, consequência quase que inevitável do fato de ele ter alcançado a salvação, ter se libertado do pecado e, por isso mesmo, ter se tornado um “corpo estranho” num mundo que estava no maligno (I Jo.5:19).
- Quando tomamos consciência do significado de nossa salvação, nós não nos deixamos abalar pelas dificuldades da vida, mesmo as perseguições, precisamente porque sabemos que a salvação nos veio pela graça, é um projeto de Deus para que tenhamos a vida eterna, vida esta que não pode ser impedida por qualquer força humana, por qualquer potestade maligna.
- Assim como Paulo estava inabalável, apesar de preso e quase condenado à morte, Timóteo também não poderia se intimidar, não poderia desanimar, mas teria de ter o espírito de fortaleza, amor e moderação, lembrando que também havia sido chamado por Deus para o ministério, devendo prosseguir no exercício do dom que recebera do Senhor.
- Para vencer as aflições do mundo, temos de ter bom ânimo (Jo.16:33) e este bom ânimo nasce da consciência do que é a salvação que nos é oferecida por Cristo Jesus. Quando percebemos que somos alvo do favor imerecido de Deus, que o Senhor, antes mesmo da criação, quis nos salvar e provou este Seu querer através da encarnação do Filho, dando-nos plena garantia da eficácia desta graça através da Sua ressurreição.
- O apóstolo Paulo, por ter esta consciência, não se envergonhava de Jesus Cristo, mesmo estando preso e sabendo que iria morrer por causa do Senhor. Às dificuldades que sofria, Paulo pôde dizer com toda a convicção de seu coração: “Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” (II Tm.1:12).
- “…(1) A natureza do evangelho pelo qual foi chamado a sofrer, e os desígnios e propósitos gloriosos e graciosos dela. E comum em Paulo, ao mencionar Cristo e Seu evangelho, fazer uma digressão de seu tema e prolongar-se sobre o assunto. O coração dele trasbordava daquilo que é toda nossa salvação e deveria ser todo nosso desejo. Observe: [1] O evangelho almeja a nossa salvação: Ele nos salvou; e não deveríamos nos incomodar em sofrer por aquilo que esperamos poder nos salvar. Ele começou a nossa salvação e a completará no seu devido tempo; porque Deus chama as coisas que não são (que ainda não estão completas) como se já fossem (Rm.4:17). Por isso ele diz: aquele que nos salvou. [2] O evangelho foi designado para a nossa santificação. E nos chamou com uma santa vocação; Ele nos chamou para a santidade. O cristianismo é um chamado, uma santa vocação; esta é a vocação com a qual somos chamados, a vocação para a qual somos chamados, para trabalhar nele. Observe: Todos os que forem salvos no futuro são santificados agora. Onde quer que a vocação do evangelho seja uma chamada eficaz, ela é declarada para ser uma vocação santa, tornando santos os que são de fato chamados. [3] A origem dela é a graça livre e o propósito eterno de Deus em Cristo Jesus. Se a tivéssemos merecido, teria sido difícil sofrer por ela; mas nossa salvação é graça livre e não de acordo com nossas obras, e, portanto, não devemos pensar muito em sofrer por ela. Essa graça nos foi dada antes dos tempos dos séculos, isto é, no propósito e nos desígnios de Deus desde toda a eternidade; em Cristo Jesus, porque todos os dons que vêm de Deus para o pecador vêm em Cristo Jesus e por meio dele. [4] O evangelho é a manifestação desse propósito e graça: pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, que estava no seio do Pai desde a eternidade, e estava perfeitamente ciente de todos os seus propósitos graciosos. Pela sua aparição, esse propósito gracioso foi manifesto a nós. Se Jesus Cristo sofreu por ele, será que não deveríamos estar prontos a sofrer por ele? [5] A morte é abolida pelo evangelho de Cristo: Ele aboliu a morte, não somente a enfraqueceu, mas a tirou do caminho, quebrou
o seu poder sobre nós. Ao tirar o pecado, Ele aboliu a morte (porque o aguilhão da morte é o pecado, I Co.15:56), ao alterar a natureza dela e quebrar o poder dela. De inimiga, a morte tornou-se amiga. Ela é a porta por onde saímos de um mundo difícil, opressivo e pecaminoso, para um mundo de paz e pureza perfeita. E o poder dela foi quebrado, porque a morte não triunfa naqueles que creem no evangelho, mas eles triunfam sobre ela. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? (I Co.15:55). [6] Ele trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho. Ele nos mostrou um outro mundo mais claramente do que era antes de ser descoberto debaixo de qualquer dispensação anterior, e a felicidade daquele mundo, a recompensa certa de nossa obediência pela fé: todos nós, com cara descoberta, refletimos, como um espelho, a glória do Senhor (veja II Co.3:18). Ele a trouxe à luz, não somente a colocou diante de nós, mas a ofereceu, pelo evangelho. Vamos valorizar o evangelho mais do que nunca, porque é por meio dele que a vida e a imortalidade são trazidas à luz, porque dessa forma ele tem a preeminência acima de todas as descobertas anteriores. Ele é o evangelho de vida e imortalidade, à medida que as descobre para nós e nos orienta no caminho preparado que nos leva para lá, bem como propõe os motivos mais convincentes para estimular nossos esforços em buscar a glória, a honra e a imortalidade..…” (HENRY, Matthew. op.cit., p. 707).
- “…Confiança é, algumas vezes, tolice — confiar no homem sempre o é! Quando exorto vocês a pôr sua inteira confiança em Cristo, sou justificado em fazer isto? E quando o apóstolo podia dizer que havia confiado somente em Jesus e se entregado a Ele, foi ele um sábio ou um tolo? Que diz o apóstolo? ‘Não sou um tolo’, diz, ‘mas sei em quem tenho crido. Não tenho confiado num enganador desconhecido e inexperiente. Não tenho dependido de alguém cujo caráter é suspeito. Tenho confiança em Um cujo poder, cuja boa vontade, cujo amor, cuja plenitude de verdade eu conheço. Eu sei em quem tenho crido’…” (SPURGEON, Charles H. Fé ilustrada: sermão pregado na manhã de domingo de 21 de agosto de 1859 no Music Hall, Royal Surrey Gardens, p.5. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols4-6/chs271.pdf Acesso em 02 jun. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).
- Paulo conhecia o Senhor Jesus, tinha intimidade com Ele. Desde que o Senhor lhe aparecera no caminho de Damasco, o apóstolo tinha a plena convicção de quem era o Senhor Jesus e que, portanto, valia a pena fazer-Lhe a vontade, ainda que isto significasse muitos sofrimentos e privações.
- “…Eis aqui o único refúgio para onde os crentes devem fugir quando o mundo os condena como perdidos e infelizes, ou seja, que devem ter por suficiente o fato de poderem contar com a aprovação divina, pois o que seria deles caso depositassem nos homens a sua confiança? Desse fato devemos inferir que há grande diferença entre fé e a mera opinião humana. A fé não depende da autoridade humana, tampouco é uma confiança hesitante e dúbia em Deus; ela tem de estar associada ao conhecimento, do contrário não será bastante forte contra os intermináveis assaltos que Satanás lhe faz. O homem que, como Paulo, possui tal conhecimento saberá de experiência própria que nossa fé é propriamente chamada ‘ vitória que vence o mundo’ (I Jo.5:4) e que Cristo tinha boas razões para dizer ‘que as portas do inferno não prevalecerão contra ela’ (Mt.16:18). Tal homem será capaz de repousar tranquilamente mesmo em meio às tormentas e tempestades deste mundo, visto que alimenta uma confiança inabalável de que Deus, que não pode mentir ou enganou, falou, e o que Ele prometeu, certamente o cumprirá.…” (CALVINO, João. Pastorais. Trad. de Válter Graciano Martins, p.210).
- O apóstolo não estava a temer a morte, não estava impressionado com todo o poderio do Império Romano contra a Igreja. Ele sabia que cria em Jesus e que o Senhor era poderoso para guardar o seu depósito até àquele dia. O mesmo Jesus que começara caminhando com Paulo desde o início de sua jornada de fé seria Aquele quem o acompanharia até o final do processo da salvação, que se daria na glorificação, quando do arrebatamento da Igreja.
- Nos dias em que vivemos, está a rarear entre os que cristãos se dizem ser esta fé inabalável. Muitos já não conseguem prosseguir diante das dificuldades, das aflições inevitáveis deste mundo e, por isso, recuam, acovardam-se, envergonham-se do Evangelho de Cristo, amam o presente século.
- O escritor aos hebreus, que muitos entendem ter sido Paulo, é peremptório ao mostrar a crentes judeus que estavam tentados a abandonar a fé por causa das agruras desta vida que “…se ele [o justo] recuar, a minha alma não tem prazer nele” (Hb.10:38 “in fine”). Comentando esta passagem, o saudoso pastor Severino Pedro da Silva assim se expressou: “…Neste ponto, a ideia é que aquele que é verdadeiramente justo confia inteiramente em Cristo, seja na abundância, seja na necessidade. Em todos os aspectos de sua vida, Cristo ocupa o primeiro lugar (Cf. Fp.4:11-13). A fé deve estar presente em nosso viver, devendo também nos acompanhar quando chegar a hora da partida desta vida para a outra. O sucesso daquelas testemunhas que são mencionadas no capítulo 11 desta epístola [Hebreus, observação nossa] é que todas elas viveram e morreram na ‘fé’ (Hb.11:3)…” (Epístola aos hebreus: as coisas novas e grandes que Deus preparou para você, p.206).
- Assim como os heróis da fé venceram por não terem recuado apesar das aflições de mundo, assim, também, quem recuar perderá a salvação. A primeira classe de pessoas que ficará de fora da cidade celestial é, precisamente, a dos “tímidos” (Ap.21:8), que a Versão Almeida e Atualizada traduz por “covardes”. Tomás de Aquino diz que esta “timidez”, esta “covardia” é pecado na medida em que se contrapõe à fortaleza, que é nos dada pelo Espírito Santo (II Tm.1:7; Is.11:2). Trata-se, portanto, de um sentimento contrário à ação do Espírito Santo em nossas vidas, máxime quando significa um temor de se expor ao perigo de morte. Estes, diz o Senhor, estarão fora da cidade celestial, pois quem se envergonha do Senhor Jesus, quem abandona a fidelidade a Cristo para proteger a sua própria vida terrena, este não é digno do Senhor (Mt.10:32,33,39; 16:25; Mc.8:55; Lc.9:24; 17:33; Jo.12:25).
- Paulo estava preocupado que um certo desânimo em Timóteo pudesse frutificar de tal modo que o jovem pastor abandonasse a fé. O apóstolo não queria que sua prisão e proximidade de morte fosse motivo para que Timóteo diminuísse a sua dedicação ao Evangelho ou, mesmo, deixasse de pregá-lo e de pastorear a igreja em Éfeso. O apóstolo faz questão de mostrar a Timóteo que estava envolvido algo muito mais importante que a própria vida ou integridade física dele: a gratidão pela obra salvífica de Cristo Jesus. Como ensina Calvino: “…Ele [Paulo] apela para o fato de que Deus governa Seus ministros pelo Espírito de poder que é o oposto do espírito de covardia. Daqui se conclui que eles não devem cair na indolência, mas que devem animar-se com profunda segurança e ardorosa atividade, e que exibam com visíveis resultados o poder do Espírito.…” (Pastorais. Trad. de Válter Graciano Martins, p.201) (destaques originais).
- O alvo de Paulo não era as coisas desta vida e, portanto, para ele pouco importava a manutenção da sua vida terrena, pois, como já dissera quando de sua primeira prisão, o morrer para ele era ganho e o viver, Cristo (Fp.1:21). Estar com Cristo era bem melhor (Fp.1:23).
- A proximidade de sua condenação à morte era totalmente insuficiente para impedir que o Senhor Jesus, a quem fora dado o todo o poder no céu e na terra (Mt.28:18), pudesse guardar o apóstolo até o dia do arrebatamento da Igreja. Sua salvação e seu galardão estavam com Cristo e ninguém poderia separar o apóstolo do amor de Deus que estava em Jesus (Rm.8:33-39) nem tampouco poderia arrebatá-lo das mãos do Senhor (Jo.10:28).
- Paulo, apesar de ser um apóstolo, não era diferente dos demais crentes. Nós também precisamos ter esta mesma convicção, sabendo que o Senhor é poderoso para guardar o nosso depósito até àquele dia. Precisamos nos manter firmes em nossa fidelidade a Deus, em cumprir a Sua vontade, apesar de todas as mazelas e agruras que venhamos a sofrer neste mundo por causa desta irresoluta decisão de seguir as pisadas de Cristo. Jesus tem todo o poder e é quem pode nos lançar no inferno e, portanto, é a Ele que devemos temer e não aos que nos perseguem por causa do Evangelho (Lc.12:4,5).
- Por isso, dentro deste espectro, o apóstolo recomenda a Timóteo que conservasse o modelo das sãs palavras que ouvira dele, na fé e na caridade que havia em Cristo Jesus (II Tm.1:13).
- Provamos que temos a fé em Cristo Jesus, que sabemos quem é Jesus em quem temos crido quando conservamos o modelo da Palavra de Deus. Um forte indicador de covardia, de desânimo na jornada da fé é quando se começa a abandonar as Escrituras Sagradas e se inicia o seguimento de filosofias, ideologias e mentalidades humanas, quando se curva ao “politicamente correto”, quando se acolhem pensamentos totalmente contrários ao que nos diz a Bíblia Sagrada, mas que trazem aos seus defensores uma “zona de conforto”, uma trégua para com os inimigos da fé.
- É exatamente isto que temos visto em nossos dias, mais um sinal eloquente da apostasia espiritual que vive a Igreja. Muitos têm abandonado os ensinos bíblicos, procurado distorcê-los única e exclusivamente para não sofrerem perseguições, para não serem tidos como adversários do mundo.
- É lamentável, muito triste mesmo, vermos muitos que cristãos se dizem ser alterando o sentido de textos bíblicos, buscando “contextualizá-los” ou “modernizá-los”, com o único objetivo de acolher pensamentos, filosofias e ideologias que hoje predominam no mundo, que são defendidas pela mídia, mas que são absolutamente opostas ao “modelo das sãs palavras”.
- Paulo diz a Timóteo que deveria guardar o bom depósito pelo Espírito Santo que habita nos crentes. Este bom depósito era a guarda em confiança da sã doutrina, que ele deveria continuar pregando, ainda que em meio a perseguições e a defecções de alguns que cristãos se diziam ser. “…’guarda este rico depósito’ que lhe entreguei, a saber, o ofício da pregação, de sorte que jamais se aparte da verdade, nem por temor nunca deixe de cumprir o ofício de pregador (…) Guarda-o com a boa ajuda que tem, a saber, ‘por meio do Espírito Santo que habita em nós’…” (AQUINO, Tomás de. op.cit. Cit. II Tm.1:9-12. n.5. end. cit.) (tradução nossa de texto em espanhol).
- Outros, como Calvino, entendem que este depósito seria a vida eterna. Diz o reformador: “…É bom observar a forma como ele descreve a vida eterna: o depósito que lhe fora confiado. Daqui aprendemos que a nossa salvação está nas mãos de Deus precisamente como um depositário que conserva em sua guarda a propriedade que lhe fora confiada para a proteger. Se a nossa salvação dependesse de nós, ela seria constantemente exposta a todo tipo de risco, mas, ao ser confiada a um guardião tão capaz, ela fica fora de todo e qualquer perigo.…” (op.cit., pp.211-2).
- O fato é que Deus nos dá condições de superarmos todas as dificuldades desta vida terrena e nos mantermos fiéis, desde que estejamos em comunhão com Ele, desde que estejamos unidos ao Espírito Santo que habita em nós. Com uma vida de santificação, conseguiremos superar todas as adversidades e prosseguir, apesar de todos os males desta vida, em nossa jornada rumo ao céu.
- Paulo estava preocupado com Timóteo, visto que outros cooperadores seus já tinham desertado, já haviam abandonado a fé, como era o caso de Figelo e Hermógenes. William Hendriksen acredita que estas duas pessoas haviam se negado a testemunhar a favor de Paulo em Roma, com receio de serem também incriminados, máxime num período de perseguição. Não há maiores detalhes a respeito destas pessoas, mas o fato é que preferiram esconder a sua fé em Cristo a enfrentar as autoridades romanas, um comportamento que, lamentavelmente, tem se tornado muito comum nos dias de apostasia espiritual em que vivemos.
- Ao contrário, porém, de Figelo e Hermógenes, Paulo faz menção de Onesíforo, que, muito provavelmente sem ter sido solicitado por Paulo, foi até Roma para visitar o apóstolo e recreá-lo, não tendo qualquer receio de ser também preso por sua fé em Cristo Jesus.
- Onesíforo foi até Roma, esforçou-se para achar o apóstolo Paulo, tendo-o encontrado e cumprido o seu propósito de consolar, confortar, fazer companhia ao apóstolo que abatido estava naquele ambiente de solidão na prisão, ante a proximidade da morte (II Tm.1:16).
- É bem provável, como disse o pastor Emanuel Barbosa Martins, presidente das Assembleias de Deus – Ministério do Belém em São José dos Campos/SP, em ensino dado na reunião de obreiros na igreja do Belenzinho em 4 de maio de 2015, que, neste seu gesto, Onesíforo tenha, inclusive, pagado com a própria vida tamanha fidelidade, tanto a Deus quanto a Paulo, uma vez que o apóstolo fala que o Senhor tivesse misericórdia com a casa de Onesíforo, dando a entender que o mesmo já não mais vivia. O fato é que Onesíforo sabia em quem tinha crido e que, a exemplo do apóstolo, não tinha a sua vida por preciosa (At.20:24), sabendo que viver era fazer a vontade de Deus, pois o crente não mais vive para si, mas, sim, na fé do Filho de Deus (Gl.2:20).
- Onesíforo sempre ajudara Paulo em Éfeso e, ao saber da prisão do apóstolo, não descansou enquanto não foi lhe fazer companhia, demonstrar o seu amor para com Paulo, amor que se demonstra, sempre, por atitudes e não por palavras (I Jo.3:18). Pouco se importou se correria risco de vida ao visitar o apóstolo, agora um preso político, considerado de alta periculosidade. Seu intuito era levar a Paulo conforto, mostrando que estava ali para participar das aflições de Cristo Jesus.
- Este deve ser o comportamento de todo crente fiel. Fazer a vontade de Deus independentemente das circunstâncias e de eventuais riscos que possa sofrer por causa de sua fidelidade ao Senhor. Onesíforo, assim como Paulo, sabia em quem tinha crido e que não há o que possa obnubilar a vida eterna que nos aguarda, o galardão que o Senhor nos dará por Lhe termos sido fiéis. Como diz o poeta sacro anônimo: “Junto ao trono de Deus preparado, há cristão um lugar para ti, há perfumes, há gozo exaltado, há delícias profusas ali; sim ali, sim ali, de Seus anjos fiéis rodeado, numa esfera de glória e de luz, junto a Deus nos espera Jesus. Os encantos da terra não podem dar ideia do gozo dali. Se na terra os prazeres acodem, são prazeres que acabam-se aqui. Mas ali, mas ali, as venturas eternas concorrem com a existência perpétua da luz, a tornar-nos felizes com Jesus. Conservemos em nossa lembrança as riquezas do lindo país e guardemos conosco a esperança de uma vida melhor, mais feliz. Pois dali, pois dali, uma voz verdadeira não cansa de oferecer-nos do reino da luz, o amor protetor de Jesus. Se quisermos gozar da ventura que no belo país haverá, é somente pedir de alma pura, que de graça Jesus nos dará. Pois dali, pois dali, todo cheio de amor, de ternura, desse amor que mostrou-nos na cruz, nos escuta, nos ouve Jesus” ( hino 202 da Harpa Cristã). Temos esta mesma disposição de Paulo, Onesíforo e do poeta sacro? Pensemos nisso!
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco
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