Creio que não
é segredo de ninguém que a Igreja Evangélica brasileira atravessa uma de suas
maiores crises doutrinária, teológica, administrativa etc.
Quem nunca
se deparou com problemas dessa natureza dentro de suas igrejas locais? Acredito
que ninguém em sã consciência tem a coragem de atirar a “primeira pedra”.
Se fôssemos
citar aqui os problemas verificados e o nível de insatisfação de milhares de
crentes com suas igrejas, acredito que vinte ou trinta páginas não seriam o
suficiente. Basta lembrar apenas de relance alguns dos problemas gritantes da
atualidade, para que se tenha uma noção do que eu estou falando.
·
A questão doutrinária – Essa palavra “doutrina” nem mais
é citada em muitos templos de nossas igrejas Brasil afora, visto que alguns têm
nela uma conotação pejorativa. Quando se fala em doutrina, logo muita gente tem
asco, pois se lembra de legalismo religioso, falso moralismo etc. Mas não
obstante o que pensa a maioria; vejamos o que diz a Bíblia sobre a doutrina na
Igreja:
a. Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Tito 2.1
b. Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com
as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade,
1 Timóteo 6:3
c. Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha,
mas daquele que me enviou.
Joao 7.16
d. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas,
tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas
próprias concupiscências; 2 Timóteo 4:3
e. Tem cuidado de ti
mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás
tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes (1 Tm
4.16)
Estes
versículos que citei servem apenas para que se tenha uma ideia da importância
da doutrina bíblica para a vida do crente em particular e também da comunidade
(IGREJA).
·
A pregação da Santa Palavra de Deus – Quero dizer que não tenho nada
contra o louvor, louvor este que bem administrado por músicos cristãos
comprometidos com a santidade e a pureza; é uma ferramenta indispensável ao bom
andamento do culto. Porém, o que venho observando é que gradativamente o louvor
está suprimindo o tempo que deveria ser dedicado à ministração da Palavra.
Já
é normal em algumas igrejas deixar-se dez ou quinze minutos para a pregação da
Bíblia no culto. Será essa uma atitude sadia da igreja? Vejamos o que diz a
Bíblia sobre a primazia da PREGAÇÃO
DA PALAVRA:
a. Prega a palavra, insta,
quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina (1 Tm 4.2)
c. Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de
Cristo, e abrindo-se-me uma porta no Senhor, 2 Coríntios 2:12
d. E nos mandou pregar
ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos
(Atos 10.42)
e. E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus. Atos 9.20
Será que
podemos relegar a pregação da Palavra de Deus a um plano secundário na Igreja?
Creio que não. Um dos pilares dos reformadores (Lutero, Calvino e Zwinglio) era
exatamente recolocar a pregação como centro do culto, mas parece que estamos a
desfazer toda obre dos reformadores!
·
Exacerbação nas mensagens de autoajuda
e teologia da prosperidade
– Bem eu particularmente não sou contra uma bela mensagem de autoajuda e muito
menos contra a prosperidade honesta de ninguém. Mas, uma coisa que me deixa
revoltado é ver supostos pregadores usar o púlpito da igreja para pregar
mensagens de autoajuda dizendo que estão pregando a Palavra de Deus. Faça-me um
favor!
·
Outra
coisa nojenta é essa ênfase hiper-exagerada à TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, que de
prosperidade bíblica não tem nada, está mais para TEOLOGIA DA GANÂNCIA E DA
AVAREZA.
É
só observar a vida das pessoas iludidas com essa falsa teologia e ver que
geralmente são pessoas que não pensam em salvação, santidade, vida consagrada,
temor de Deus etc. em contraste, o que as domina é um sentimento de cobiça e
ganancia, visto serem pessoas que vivem uma luta desenfreada para crescer
materialmente cada dia mais, sem ao menos se preocupar com sua própria família,
saúde e muito menos com Deus.
·
Exageros e ameaças quando o assunto
é DÍZIMO – Talvez
você ache pesada a palavra “ameaças”, mas infelizmente é o que tenho
presenciado em muitas Igrejas.
Já
disse que não sou totalmente contra o ensino acerca do dízimo para manutenção
da Igreja e sustento de missionários. Mas o que está acontecendo é uma POUCA VERGONHA ESCANCARADA E ABERTA.
Certa feita eu ouvi de um determinado pastor, e pasmem os senhores, que o
crente que não dá o dízimo não vai ser salvo. PELO AMOR DE DEUS o que tem haver
dízimo com salvação? Salvação é uma obra consumada e completada por Cristo no
Calvário enquanto que dízimo é apenas a forma judaizada que a igreja arrumou
para retirar o seu sustento financeiro.
Se
dízimo salvasse alguém então eu lhes pergunto por que Jesus morreu na cruz? Era
necessário apenas o cristão ser dizimista e pronto, estava salvo.
QUE ABSURDO!
- Isso sem falar em
promessas mirabolantes aos dizimistas e ameaças de maldição aos que não são
dizimistas, como por exemplo: Àquele que dizima Deus lhe acrescentará tanto e
tanto que nunca lhe faltará nada no celeiro. Porém, aos que não são dizimistas
o demônio DEVORADOR lhes
rouba as finanças e lhes joga na miséria. O pior de tudo é que eles usam a
Bíblia para tentar provar esse disparate. Mas será que eles têm razão? Vamos
examinar alguns textos da Bíblia:
a. Malaquias 3.10 - Trazei
todos os dízimos
à casa do Tesouro, para
que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se
eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre
vós bênção sem medida.
Bem,
observando esse texto parece que os pregadores do dízimo estão com a razão. Mas
não esqueça que essa pregação foi feita por Malaquias a JUDEUS QUE ESTAVAM DEBAIXO DO JUGO DA LEI MOSAICA E NÃO AOS CRISTÃOS
DA NOVA ALIANÇA.
Aonde no Novo Testamento lemos tal promessa se repetindo ainda que subtendida?
Em lugar nenhum!
A Única
ocorrência ao dízimo no período neotestamentário está em Mateus 23.23. E nessa
passagem Jesus não incentiva a prática do dízimo, mas chama a atenção dos
fariseus por causa dessa mesma prática. Essa passagem não pode ser usada como
sustentação doutrinária para o dízimo no Novo testamento.
Eu lhes
pergunto Jesus dizimou? Pedro ensinou sobre o dízimo? João tocou nesse assunto?
Paulo o maior de todos os apóstolos, o homem que escreveu treze epístolas não
faz a mínima alusão a esse assunto, porque será?
b. Malaquias
3.11 -
Por vossa causa, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o
fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril,
diz o SENHOR dos Exércitos.
Olha o devorador
ai minha gente. Mas, não é bom esquecer que esse DEVORADOR não é o demônio, mas
gafanhotos, lacusta e pulgão que nessa época estavam devorando a lavoura de
Israel por causa da desobediência a uma determinação de Deus na lei mosaica, o
dízimo para sustento dos sacerdotes e manutenção da casa de Deus.
Agora eu lhes pergunto o que esse versículo tem haver com cristãos da Nova
Aliança e com esse tal de DEMÔMIO
DEVORADOR? Não será forçar a Bíblia a dizer o que ela não diz?
E tem mais!
Os que não são dizimistas geralmente são tratados com desprezo e tidos como
amaldiçoados por Deus em algumas igrejas. Há pastores que proíbem até que se dê
oportunidade àqueles que não dizimam regularmente.
Volto a
dizer-lhes: Se a igreja quer retornar a cobrança judaica do DÍZIMO como forma
de arrecadação da sua manutenção, então que o faça, mas pelo menos seja honesta
em usar os argumentos corretos.
Oriente seus membros a entregar os dízimos por
amor à obra e a Deus, por gratidão e desapego as coisas materiais; e não usando
e abusando da simbologia bíblica para pôr sobre os ombros dos fiéis um jugo que
JESUS JÁ QUEBROU NA CRUZ que
foi o jugo da MALDIÇAO DA LEI.
Enfim
poderia eu citar aqui vários problemas que precisam ser corrigidos e sanados
para que a Igreja brasileira possa caminhar com saúde espiritual, enquanto
aguarda a volta de Jesus para busca-la, mas por hora ficam estes aqui.
No entanto
mesmo diante de tantos problemas eu ainda acredito na Igreja de Cristo como a
única instituição capaz de levar o homem ao conhecimento de Deus e de evitar a
deterioração completa desse mundo que jaz em trevas.
Acredito
que como proprietário único da igreja, o Senhor Jesus vai encontrar um jeito de
sanar todos esses problemas e muitos outros que surgirão pela frente. Também
quem quer uma igreja perfeita? Essa não existe aqui na terra. Visto que ele é
composta de homens falhos e pecadores. Já dizia com verdade certo pregador: “A
Igreja é a história do amor e da misericórdia de Deus, em meio aos erros e
fracassos humanos”.
Lembremo-nos das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo
que diz: Pois também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela; Mateus 16.18
Sinta-se a
vontade para ler, refletir, criticar, reproduzir em seu site ou blog. Peço
apenas que sejam citadas a fonte e o autor.
Paz a
todos,
João Augusto de Oliveira
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