A VINHA DE NABOTE
Sucedeu, depois
disto, o seguinte: Nabote, o jezreelita, possuía uma vinha ao lado do palácio
que Acabe, rei de Samaria, tinha em Jezreel. Disse Acabe a Nabote: Dá-me a tua
vinha, para que me sirva de horta, pois está perto, ao lado da minha casa.
Dar-te-ei por ela outra, melhor; ou, se for do teu agrado, dar-te-ei em
dinheiro o que ela vale. Porém Nabote disse a Acabe: Guarde-me o SENHOR de que
eu dê a herança de meus pais. Então, Acabe veio desgostoso e indignado para sua
casa, por causa da palavra que Nabote, o jezreelita, lhe falara, quando disse:
Não te darei a herança de meus pais. E deitou-se na sua cama, voltou o rosto e
não comeu pão. Porém, vindo Jezabel, sua mulher, ter com ele, lhe disse: Que é
isso que tens assim desgostoso o teu espírito e não comes pão? Ele lhe
respondeu: Porque falei a Nabote, o jezreelita, e lhe disse: Dá-me a tua vinha
por dinheiro; ou, se te apraz, dar-te-ei outra em seu lugar. Porém ele disse:
Não te darei a minha vinha. Então, Jezabel, sua mulher, lhe disse: Governas tu,
com efeito, sobre Israel? Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te
darei a vinha de Nabote, o jezreelita. (1 Rs 21.1-7)
Sobre a cobiça, em
Êxodo 20.17 o mandamento do Senhor é claro:
Não cobiçarás a
casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo,
nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu
próximo.
Observemos este
mandamento de forma mais detalhada:
- Não
cobiçarás a casa do teu próximo: Na primeira frase do versículo a expressão
“casa” fala da totalidade daquilo que pertence ao próximo no contexto
doméstico, do seu patrimônio familiar, dos seus bens, de suas posses.
- Não
cobiçarás a mulher do teu próximo: O casamento é uma instituição divina.
Quando alguém cobiça a mulher de seu próximo assume uma postura de destruir o
que Deus uniu. Todas as vezes que a Lei de Deus é quebrada, haverá uma
consequência para a vida daquele que a quebrou. As mulheres casadas devem ser
tratadas com respeito, e devem também manter o respeito. Elas não devem ser
cobiçadas, nem provocar ou alimentar a cobiça de quem quer que seja. Grandes
sofrimentos e destruições em vidas, casamentos e famílias podem ser provocados
com a quebra deste mandamento.
- Nem o seu
servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento: Na época,
servo, serva, boi e jumento faziam parte da propriedade de um indivíduo.
A mensagem aqui é que os bens do nosso próximo não devem ser objeto de nossa cobiça.
A casa ou apartamento, os móveis, o carro, as roupas, etc. Infelizmente, há
muitos que nunca estão satisfeitos com o que possuem, querendo sempre mais, ou
achando que o melhor é sempre o que o outro possui.
- Nem coisa
alguma do teu próximo: A carreira e o sucesso profissional, as conquistas
acadêmicas, a posição ou cargo eclesiástico, os dons e talentos, o progresso
ministerial, as realizações, nem coisas alguma que pertence ao nosso próximo
deve ser objeto de nossa cobiça.
A COBIÇA DE ACABE
Em sua conturbada
trajetória na condição de rei de Israel, mais um episódio seria acrescentado na
maculada biografia de Acabe. Tudo começou quando Acabe desejou adquirir a vinha
de Nabote, para transformá-la em sua horta particular (1 Rs 21.2). A
proposta que Acabe fez a Nabote parecia justa, generosa e irrecusável,
pois oferecia em troca uma outra vinha melhor, ou se desejasse, lhe daria em
dinheiro o que ela valia. Acontece que o valor da vinha para Nabote ia para
além das questões mercantilistas. Ele considerava aquela propriedade uma
herança inegociável, e cuja venda implicaria em transgressão ao mandamento do
Senhor (Lv 25.13-28 e Nm 36.7).
Diante da resposta
e posicionamento de Nabote, a reação de Acabe foi de desgosto e indignação,
pois o seu capricho não fora alcançado, o que desencadeou no rei uma crise
emocional (1 Rs 21.4). Fico a pensar aqui na multidão de líderes e irmãos
caprichosos, que não se contentam com aquilo que possuem, e que acham que seus
desejos precisam ser atendidos e satisfeitos por todos. Estão dominados pela
cobiça.
Ao observar o
estado em que se encontrava Acabe, Jezabel, sua mulher, procurou tomar
conhecimento do que havia acontecido, o que lhe foi relatado pelo rei (1 Rs
21.5-6). Diante do que ouviu, Jezabel, que já havia em outros episódios
demonstrado a sua influência e força no reino, na mesa de quem quatrocentos e
cinquenta profetas de Baal e quatrocentos e cinquenta profetas de Aserá comiam,
que tomava decisões sem pedir a aprovação do seu manipulável e omisso marido (1
Rs 19.1), possuidora de um temperamento difícil e cruel em suas deliberações (1
Rs 19.2), toma para si as dores de Acabe e declara: Governas tu, com
efeito, sobre Israel? Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei
a vinha de Nabote, o jezreelita. (1 Rs 21.7). Jezabel se coloca aqui como
aquela que satisfará a cobiça de Acabe. Uma esposa sábia não adota tal postura,
antes, aconselha o seu marido sobre os princípios do contentamento.
Sem escrúpulos, sem
temor a Deus, sem piedade e sem misericórdia, Jezabel articula um plano onde
Nabote seria vitimado por uma terrível calúnia. Usando o nome e o sinete de seu
marido, ela escreveu cartas aos anciãos e aos nobres da cidade e que habitavam com
Nabote, onde dizia o seguinte:
Apregoai um jejum e
trazei Nabote para a frente do povo. Fazei sentar defronte dele dois homens
malignos, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra
o rei. Depois, levai-o para fora e apedrejai-o, para que morra. Os homens da
sua cidade, os anciãos e os nobres que nela habitavam fizeram como Jezabel lhes
ordenara, segundo estava escrito nas cartas que lhes havia mandado. Apregoaram
um jejum e trouxeram Nabote para a frente do povo. Então, vieram dois homens
malignos, sentaram-se defronte dele e testemunharam contra ele, contra Nabote,
perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e contra o rei. E o
levaram para fora da cidade e o apedrejaram, e morreu. Então, mandaram dizer a
Jezabel: Nabote foi apedrejado e morreu. Tendo Jezabel ouvido que Nabote fora
apedrejado e morrera, disse a Acabe: Levanta-te e toma posse da vinha que
Nabote, o jezreelita, recusou dar-te por dinheiro; pois Nabote já não vive, mas
é morto. Tendo Acabe ouvido que Nabote era morto, levantou-se para descer para
a vinha de Nabote, o jezreelita, para tomar posse dela. (1 Rs 21.9-16)
É interessante
observar que o maligno plano de Jezabel se reveste de um caráter espiritual,
com direito a proclamação de um jejum e com o argumento de que Nabote teria
blasfemado contra Deus (e contra o rei). É possível “espiritualizar” até a
cobiça. Em nome de Deus, e com a máscara da falsa espiritualidade, muitas
barbáries e injustiças são realizadas sob a influência do “espírito de
Jezabel”, muitas cobiças são alimentadas à custa da destruição de vidas,
casamento e famílias.
Assim como Nabote,
os que são vitimados por causa de sua obediência a Deus, e diante da cobiça
alheia, são por Ele devidamente justificados e vingados. O cobiçoso Acabe e a
cruel Jezabel receberiam o prêmio da injustiça (1 Rs 21.17-29).
OUTRAS ADVERTÊNCIAS
BÍBLICAS SOBRE A COBIÇA
A Bíblia nos
adverte sobre os males da cobiça, e nos ensina a não alimentar tal sentimento:
mas deixaram-se
levar pela cobiça no deserto, e tentaram a Deus no ermo. (Sl 106.14)
Inclina o meu
coração para os teus testemunhos, e não para a cobiça. (Sl 119.36)
Tais são as veredas
de todo aquele que se entrega à cobiça; ela tira a vida dos que a possuem. (Pv 1.19)
O cobiçoso cobiça
todo o dia, mas o justo dá e nada retém. (Pv 21.26)
Pois é do interior,
do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os
furtos, os homicídios, os adultérios, (Mc 7.21)
E disse ao povo:
Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem
não consiste na abundância das coisas que possui.(Lc 12.15)
Mas a prostituição,
e toda sorte de impureza ou cobiça, nem sequer se nomeie entre vós, como convém
a santos, (Ef 5.3)
Penso que Romanos
13.9-10 resume toda a questão em torno da cobiça:
Pois isto: Não
adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro
mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é
o amor.
Há pessoas que
nunca irão prosperarão na vida, pois viverão sempre na mediocridade da cobiça.
Estarão sempre descontentes, irritados, frustrados e infelizes. De tanto olhar
e desejar a vida e as coisas do próximo, conquistarão nada de forma
legítima para si mesmos, correndo ainda o risco de perderem o pouco que
conquistarem.
Quem ama não
cobiça. Quem ama busca o bem do próximo. Quem ama cumpre a Lei do Senhor.
Escrito por Pr. Altair Germano
Fonte: http://www.altairgermano.net/2013/01/subsidio-para-licao-biblica-vinha-de.html
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