Culto de Santa Ceia na antiga Assembleia de Deus no Campo de São Cristóvão-RJ, hoje ADMAF (Assembleia de Deus Missão Apostólica da Fé). Compõem a foto, pastores como Lawrence Olson (in memorian), Gesiel Nunes Gomes, Altomires Sotero da Cunha e Túlio Barros Ferreira (in memorian).
Por Cleison Brugger
O que tenho sabido de pessoas querendo se desligar do rol de membros das Assembleias de Deus não está no gibi! dentre estas pessoas, há questões de todos os tipos: insatisfação, frustração, inadequação, perda de identidade, crise ou a simples procura de algo mais consistente ou, digamos, mais atraente. Não, não estou falando de novos convertidos. Estou falando de crentes que sentam nos bancos das Assembleias de Deus há, pelo menos, 10, 15, 20 anos. Crentes que conhecem bem o ministério em que estão, mas que não conseguem sair simplesmente pela afinidade que tem com os irmãos ou pelo amor que tem pela igreja. Uma característica positiva da Assembleia de Deus é que, na sua grande maioria, seus membros são fiés a ela, ou pelo menos eram. O que mudou?
É fato que a Assembleia de Deus cresce aos milhares todos os anos, contudo, boa parte dos novos membros que são adicionados são graças aos filhos dos crentes que, chegando aos 14, 15 anos, se decidem pelo batismo. Mas a bem da verdade, o número de membros das Assembleias de Deus está diminuindo. A Assembleia de Deus está perdendo seus membros, e não são para igrejas neopentecostais, mas na grande maioria, para igrejas históricas ou pentecostal monergista, como é o caso da Igreja Cristã Nova Vida. Os crentes estão procurando fora o que não acham (ou perderam) dentro. Esses dias, ouvi de uma irmã antiga de um ministério da Assembleia de Deus: "já não me sinto em casa neste ministério em que fui criada e que estou há tantos anos. Não me identifico mais com a igreja". Isso é realmente triste! a Assembleia de Deus é uma das ÚNICAS IGREJAS que consegue unir gerações e manter famílias por décadas, como é o caso da "família Malafaia", famosa pelo pastor Silas Malafaia, mas que já existia na AD muito antes de ele ser conhecido; a "família Nascimento", conhecida pelos grandes cantores que a compõem, a "Família de Paula" e tantas outras. O que houve? bem, creio ter algumas razões para este retrocesso:
1) Os cultos assembleianos não são mais os mesmos
Quem já participou de um culto em uma Assembleia de Deus na déc. 1970-80, não reconhece um culto assembleiano hoje. Havia uma valorização pelos hinos do hinário (a Harpa Cristã), uma importância era dada para o ensino e exposição das Escrituras, o Coral se apresentava, a banda ou a Orquestra também, os irmãos testemunhavam, era uma verdadeira festa na presença de Deus. Mas hoje, o hinário foi trocado pela "adoração" do Ministério de Louvor, o culto é cansativo pois dezenas de departamentos DEVEM cantar, são milhares de lembretes e avisos, ofertas para tudo e mais um pouco e um tempo mínimo para a Palavra, tempo este que o pregador quase nunca obedece e sempre passa do horário que o culto estava programado para terminar, que normalmente nas ADs, são às 21:00hs.
2) Cultos ao Ar Livre
Quem se lembra dos cultos ao Ar Livre, como eram chamados, que os irmãos faziam nas praças e calçadas? eu lembro e já tive a oportunidade de participar de muitos! parecia antiquado, mas pelo menos saíamos as ruas para propagar o evangelho. Diferente de hoje que, depois que construiram templos majestosíssimos, tudo o que o povo menos quer, é sair do conforto e alcançar o perdido onde ele realmente está.
3) Trocaram cultos apreciados pelos assembleianos, como os tradicionais "cultos de departamento", pelas "campanhas" e pelos "Culto de Libertação, ou da Vitória, ou do Milagre etc".
Quem lembra do "culto das crianças" ou do "culto da Mocidade" ou do "Culto da CIBE?" Eu adorava participar! se hoje desempenho algumas funções em minha igreja local, é porque aprendi quando criança nestes cultos abençoados. Mas, infelizmente, muitas igrejas trocaram estes cultos pelos "Cultos da bênção, da vitória, do milagre, da conquista, da libertação etc". A igreja vive em campanhas intermináveis! Infelizmente, é difícil, em nossos dias, passar em frente à uma Assembleia de Deus e não encontrar alguma faixa que anuncie alguma "campanha" ou algum "culto da Vitória" ou "do Milagre". Quem acostumou a comer bem, não comerá a miséria que hoje se tem dado.
4) Onde foram parar as vigílias?
Vigília. Esse era um dos cultos mais vibrantes nas Assembleias de Deus. Já perdi a conta de quantos cultos de Vigília já participei e de quantas madrugadas passei em oração e adoração com minha congregação local. Contudo, parece que as coisas mudaram, e para pior. Parece que alguns perderam o gosto pelas coisas de cima. Anularam as vigílias e ganhamos uma igreja fraquejante.
5) Pastores visitavam seus membros
Era normal receber o pastor em casa. Isso começou desde muito cedo, ainda com Gunnar Vingren, Daniel Bérg e Nels Nelson. Eles visitavam seus irmãos e ovelhas, viam a situação de suas vidas, oravam com eles, aconselhava-os e faziam com que aqueles crentes se fortalecessem mais no Senhor e, no fluir disto, fossem bons crentes em suas igrejas. Mas, e hoje? muitos mal sabem o nome do pastor, simplesmente porque quando acaba o culto, ele corre para o seu gabinete ou para o seu carro importado. Visita no lar? bem, ligue para a secretaria e marque um horário com ele em seu gabinete, é a resposta que recebemos.
Você até pode dizer que estou sendo saudosista, e você não está errado! a Assembleia de Deus ainda possui em seu rol de membros, incontáveis senhores e senhoras da época de Paulo Leivas Macalão e Cícero Canuto de Lima. Qualquer mudança é fatal para eles! não quero dizer com isso que não devemos interagir com o nosso tempo, mas quero asseverar que os "bons contumes" devem permanecer nesta igreja que, outrora, era tão conceituada e tão amada pelos seus membros. Com muito lamento, sei que existem igrejas pelo Brasil completamente frias, paradas, que dormem. E, pouco a pouco, os crentes procuram outra casa espiritual, para que possam se refugiar. Há uma gama de crentes tristes, desanimados, sem o tão proclamado "fogo pentecostal" que arde em todo assembleiano. Isso não é culpa da igreja. Sem medo de errar, digo que isso é culpa da liderança, dos homens que sentam nas cadeiras do centro, nos púlpitos das ADs. Isso é culpa das brigas por ministérios, por presidência de convenção, da soberba de pastores, da imaturidade de líderes, do nepotismo que impera, da falta de discernimento espiritual. Liderança corrompida, corrói a doutrina e devasta a vida da igreja.
http://cleisonoliveira.blogspot.com.br/2011/10/os-anos-de-ouro-das-assembleias-de-deus.html
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