sábado, 7 de maio de 2016

0 04 Características da nossa geração




Texto: Provérbios 30

Quando resolvi escrever sobre este tema tive que tomar precauções para me fazer compreendido por aqueles que lerão a web. Tomo também o cuidado de dizer que quando falo uma geração ou nossa geração, não estou em absoluto referindo-me sobre cada pessoa que está viva hoje generalizadamente. Quero me expressar dizendo que há uma maneira de pensar e de agir que faz parte da maioria das pessoas. Essa maneira ou comportamento foi ditado e regido por uma série de fatores sociais, familiares, midiáticos e religiosos que foram geradores desse modo de vida nas pessoas.
E ao falar dessas características que abordarei, não quero dizer com isso que todas as pessoas demonstrem esse comportamento. Apenas faço uma constatação geral e em tese, também parcial do assunto. Cada geração tem suas vantagens e desvantagens em relação a que a precedeu e a que virá. Cada geração traz benefícios e malefícios que, de uma forma ou de outra, passarão à próxima por herança social ou genética.
O que é uma geração para início de conversa? Como defino geração? Ao acessar em minha biblioteca dicionários antigos, encontrei esses significados e eles são o resumo de um texto maior. A palavra portuguesa para “geração” vem do latim “generatione” e anotei apenas os significados que dão base ao meu escrito, que são:
·         Sucessão de descendentes em linha reta (pais, filhos, netos).
·         Linhagem, ascendência. 
·         Genealogia.
·         Conjunto de todos os viventes.
·         Duração média da vida humana.
Para restringir o campo de minha escrita, escolhi a definição que declara que uma geração é
a duração média da vida humana. Isso nos facilita o entendimento no texto de Provérbios, pois nos coloca exatamente no ponto certo.
Agur, filho de um “vidente” (palavra que na época evocava a pessoa de um profeta), foi certamente uma pessoa importante e sábia, pois foi considerado à altura de sua sabedoria ser registrada no livro bíblico. Ele está observando as pessoas que vivem em sua época a cerca de 3 mil anos atrás e percebe, já naquele tempo, que elas demonstram uma tendência comportamental para certas ações que ele considera ruins até para os padrões de seu tempo em Israel.
Ao descrever sua geração, Agur faz constatações que, se não soubéssemos em que tempo ele escreve, poderíamos apostar que foram escritas hoje. Duas claras conclusões iniciais tiramos do que ele escreveu. Primeira – estamos vendo a descrição de comportamento da Antiguidade (em termos de História). Segunda – está diante de nós uma prova substancial de que o ser humano não evolui, pois vemos os mesmos tipos de ações (ou piores) hoje (em termos bíblicos e sociológicos).
O que este homem vê? Como ele descreve sua geração ou sociedade em termos de comportamentos gerais? Agur obviamente não está dizendo que todos de sua época agem assim, mas está constatando uma tendência geral por parte da maioria, ou quem sabe, uma minoria proeminente.

A GERAÇÃO DESCRITA EM PROVÉRBIOS 30: 11-14:

1.      (v.11) – Uma geração que perde seus vínculos familiares.
Já ali se podia perceber a corrosão dos vínculos familiares. Ele faz menção das relações entre pais e filhos como destituídas do devido respeito entre si. Hoje mais nitidamente ainda vemos que a relação dos filhos com o pai está muito estremecida e distante de um nível aceitável. Até mesmo a relação com a mãe, que sempre foi mais preservada pelos filhos, está enfraquecida grandemente.
Não coloco a culpa nos filhos ou nos pais. Em todas as gerações houve pais que rejeitaram seus filhos e filhos que odiaram os pais. Mas certamente a culpa está em algum lugar ou em alguma coisa. Arrisco a dizer que podemos culpar o sistema humano de relações desenvolvidas a cada geração. O que isso significa? Que a cada tempo, as pessoas escolhem como vão lidar com a família nos mais diversos níveis.
Poderíamos dar uma olhadinha pela história e facilmente iríamos comprovar que as relações de família, os casamentos e as uniões sofrem mudanças a cada geração e a cada ramo das sociedades existentes. Isso é preponderante para o desenvolvimento das sociedades e nações que vemos hoje. Para alcançarmos o grau social que desfrutamos, não somente no ocidente, mas em todo o mundo, as relações familiares em sua maioria, tiveram de passar por grandes mudanças, sem nos ater se isso foi bom ou não.
Mas o fato observado por Agur continua sendo o mesmo aqui: a instituição da família está se deteriorando e dando lugar a outra coisa. Apenas que essa outra coisa não se constitui em algo melhor, infelizmente.

2.     (v.12) – Uma geração que não reconhece seus pecados.
Agur continua seu olhar social e vê que as pessoas em seu tempo se consideravam puras e que sua relação ou entendimento sobre o erro ou o pecado era limitada por uma consciência que não conseguia enxergar o que era mais óbvio: todos somos em algum nível pecadores e culpados de coisas que fazemos.
Não há quem não erre. Não há quem não peque. Por melhores que somos ainda vamos cometer erros e pecados dos quais seremos culpados. O problema está em relativizarmos ou minimizarmos o pecado como se outros cometessem e nós não. Ao dissolvermos nossos pecados em um amontoado de pretensas qualidades, não vemos nitidamente como deveríamos ver.
Assumirmos uma falsa postura de “santos” especiais não nos torna melhores que as outras pessoas. Considerarmos que existem aqueles que são piores do que nós somos também não nos ajuda a lidarmos com nossas iniqüidades pessoais. A coisa mais sensata a fazer diante de Deus é confessar nossos fracassos e pecados e diante de nosso próximo nos esforçar para não parecer que nos consideramos superiores.
Somente aqueles que não se conhecem é que têm uma consciência que engana a si mesmos. Apenas os que se esforçam para apresentar uma falsa aparência é que olham para dentro de si procurando virtudes que não estão lá. Somente os que reconhecem os seus erros podem alcançar misericórdia de Deus e do seu Filho.

3.     (v.13) – Uma geração orgulhosa.
Nosso observador também vê em sua sociedade o orgulho como parte que lhe integra. Todos sabem os resultados de uma vida orgulhosa. Todas as religiões fazem reprimendas sérias a esse estado de alma. O orgulho é o prenúncio de uma grande queda. Todos os que foram “vítimas” dele conhecem o estado final desse tipo de vida. O orgulho se volta contra o seu possuidor.
Agur percebe que em sua época os homens têm grande altivez e arrogância. Como se dá isso? Pelos olhos. Para ele, os altivos e orgulhosos são assim porque sua arrogância começou pelas coisas que eles viam. O orgulho se inicia pelo olhar, um olhar insaciável, que tudo o que vê deseja é o estopim deste tipo de vida. Para esses, não há limitações morais nem éticas, pessoais ou divinas que os impeçam de seguir avante em seus desejos desenfreados.
O de olhar altivo deseja alcançar as alturas; não que isso seja errado por si só ou que não devamos ter uma boa ambição que nos eleva das baixas condições de vida para uma maior, mas está claro pela experiência que os orgulhosos e arrogantes não dão importância a quem derrubam, machucam ou destroem em seu caminho.
Costumo dizer que quando somos orgulhosos ou arrogantes não apenas achamos as pessoas em nosso caminho como inimigos, mas que encontramos um inimigo ao qual não podemos vencer: Deus. As Escrituras declaram enfaticamente em vários lugares que Deus é o principal opositor dos orgulhosos, e não somente isto, Ele os abate.

4.     (v.14) – Uma geração desafeiçoada e insensível.
Finalmente Agur olha e vê o resultado ao qual chegou sua geração depois de apresentar essas distorções que ele considerava como decisivas para o fim dela própria: pessoas sem afeição natural, ou seja, pessoas insensíveis e cruéis. Quando ele descreve que uma geração pode ser tão cruel e violenta com o seu próximo ao ponto de agir na direção contrária da bondade e da solidariedade, Agur percebe que este seria o destino final de uma sociedade.
Quando não houver mais bondade humana e nem a solidariedade, o amor ao próximo se foi há muito mais tempo. Quando nos tornarmos tão insensíveis ao nível do sofrimento humano não nos causar mais incômodo, já não restam mais vínculos sociais, familiares e nacionais, somente uma irracionalidade animalesca tomando conta das ações dos homens.
Quando isso ocorrer, guerras, batalhas sangrentas, torturas, homicídios violentos, abusos hediondos e afins se tornarão uma normal constante da forma cotidiana de agir do homem. Um retorno grotesco ao que alguns pensadores chamavam de “estado primitivo” da humanidade. Num estado assim, o ser humano guiado unicamente pelo desejo e violência particular, acaba por anular a paz, as relações entre os iguais e por mergulhar seus companheiros numa espiral de morte/destruição/crueldade que solapa os fundamentos de qualquer lugar onde antes existiu um dia uma sociedade livre.
Podemos constatar isso hoje quando olhamos para países e sociedades em várias partes do globo que estão se exterminando por conta da ganância de seus líderes ou chefes, da mutilação do povo sendo usada para impor um reinado do medo, do assassinato em massa de religiosos em explosões e incêndios, por guerras civis ou internas com vistas a perpetuar ditadores no poder ou apenas com manipulações da máquina do governo para se obter benefícios ilícitos.

Tendo essa perspectiva, entendemos que a sociedade de Agur não está distante da nossa em quase nada e que somos muito parecidos com ela, a pergunta que faço é: se aquela sociedade não existe mais hoje (porque foi levada cativa pelos Assírios, não porque se desenvolveu) e continuarmos a trilhar um caminho semelhante ao dela, acontecerá algo melhor conosco ou com nossa sociedade?
Pensem nisso!





Por Carlos Kleber Carvalho
Pr. Sênior CBBI
Julho 2012

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