Ligações perigosas - política e igreja
Em 1993, um escândalo político atingiu um grupo de parlamentares do Congresso Nacional e foi batizado pela mídia de esquema dos "Anões do orçamento". Tudo começou quando o ex-assessor parlamentar José Carlos dos Santos, preso por tramar a morte da esposa, resolveu denunciar um esquema de manipulação de verbas da União, no qual estariam envolvidos vários congressistas, entre eles o deputado evangélico Manoel Moreira.
O caso de Moreira chamou ainda mais a atenção da mídia, quando sua ex-esposa Marinalva Soares, filha do pastor da Assembleia de Deus em Campinas (SP), Marinésio da Silva Soares, motivada por interesses pessoais, resolveu denunciar o ex-marido por montar um esquema próprio de desvios de verbas. Mais interessante ainda foi para a imprensa na época, a divulgação sensacionalista da vida política e da ascensão social da família Moreira.
Conhecido popularmente como "Mané", o deputado Moreira casou-se com Marinalva em 1973. SegundoVeja (5 de janeiro de 1994), a princípio o futuro sogro foi contra o namoro, mas cedeu aos apelos insistentes do jovem apaixonado. Quando se casaram, Manoel e Marinalva fizeram uma festa com uma lua-de mel simples e foram morar em um apartamento de dois quartos em Campinas. "Eram modestos e pobres" conforme observação da matéria.
Moreira na revista Veja: de modesto e pobre para milhões de dólares |
Se a principio Marinésio foi contra o namoro, tempos depois viu qualidades no jovem e humilde sargento da Aeronáutica, tanto é que "pavimentou a primeira eleição do genro" (Folha de SP, 20 de novembro de 1993). Eleito suplente de vereador, Manoel mostrou habilidades políticas ao conseguir com a bancada do antigo MDB um sistema de rodízio de licenças para sempre assumir o cargo na câmara. Foi chamado para ser secretário da prefeitura de Campinas, e ganhou projeção para ambições maiores.
Em 1982, conseguiu se eleger deputado estadual pelo PMDB. Descrito pela Folha como um político de "prosa fácil, raciocínio rápido e uma humildade que conquistava os colegas", Moreira tornou-se líder do governo Franco Montoro na Assembleia Legislativa. Aproximou-se do vice de Montoro, Orestes Quércia em 1986, e com a vitória do mesmo foi recompensado com indicações para a Companhia Paulista de Força e Luz.
Ainda em 1986 foi eleito deputado federal como parte do esforço das ADs em conseguir eleger um número expressivo de evangélicos para a nova constituinte. Novamente, com certeza, o apoio de Marinésio foi fundamental para mais esse passo tão importante na carreira política. Em 1988 queria ser candidato a prefeito de Campinas. Para conseguir a indicação do PMDB para o pleito, Moreira valeu-se novamente da ajuda do sogro pastor na busca de novos filiados ao partido. Conseguiram a expressiva filiação "em massa dos seguidores da Assembleia de Deus ao PMDB". Foram mais de 9.000 em um único fim de semana. Entretanto, não ganhou a eleição marcada por cenas que, segundo a Folhatrafegou "entre o dramático e o pastelão". As desavenças conjugais começaram em 90, e o resultado foram as denúncias e o desabamento da carreira política de Manoel Moreira.
Nesse ponto, Moreira e Marinalva já não eram mais "modestos e pobres". Em 20 anos de casamento, segundo Veja (27 de outubro de 1993), o casal "saltou do nada para um patrimônio reluzente". A lista de bens incluía "um apartamento em Campinas, avaliado em mais de 1 milhão de dólares, duas mansões e várias empresas". Uma das mansões ficava em Brasília e a outra em Campinas, na qual residia Marinalva e ostentava uma "cinematográfica piscina coberta". Na época o valor da mansão era avaliado em 2 milhões de dólares.
Ao denunciar o esquema do ex-marido, Marinalva também deixou potencialmente exposto para exploração midiática o apoio do ex-sogro e pastor da AD em Campinas Marinésio Soares ao deputado "anão". Evidenciou-se a conjugação de ambições familiares camuflados como defesa dos interesses da instituição religiosa, e o visível enriquecimento ilícito de alguém que foi eleito para "fazer a diferença" no meio político. Ou seja, o discurso de moralidade e representatividade sempre embutidos nessas candidaturas "cristãs", revelou-se apenas um apanágio para a ascensão social de uma minoria familiar.
Para a família Soares tudo desmoronou em pouco tempo. Revelou-se num curto espaço de tempo os bastidores, riquezas, tensões e falcatruas nada "evangélicas" dos líderes e "representantes" do povo crente. E se até aqui as coisas estavam ruins; ficaram piores. Tanto para Moreira, como para Marinalva e igualmente: Marinésio.
Fontes:
FRESTON, Paul. Evangélicos na política: história ambígua e desafio ético. Curitiba: Encontrão Editora, 1994
Acervos digitais da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo.
Ainda em 1986 foi eleito deputado federal como parte do esforço das ADs em conseguir eleger um número expressivo de evangélicos para a nova constituinte. Novamente, com certeza, o apoio de Marinésio foi fundamental para mais esse passo tão importante na carreira política. Em 1988 queria ser candidato a prefeito de Campinas. Para conseguir a indicação do PMDB para o pleito, Moreira valeu-se novamente da ajuda do sogro pastor na busca de novos filiados ao partido. Conseguiram a expressiva filiação "em massa dos seguidores da Assembleia de Deus ao PMDB". Foram mais de 9.000 em um único fim de semana. Entretanto, não ganhou a eleição marcada por cenas que, segundo a Folhatrafegou "entre o dramático e o pastelão". As desavenças conjugais começaram em 90, e o resultado foram as denúncias e o desabamento da carreira política de Manoel Moreira.
Nesse ponto, Moreira e Marinalva já não eram mais "modestos e pobres". Em 20 anos de casamento, segundo Veja (27 de outubro de 1993), o casal "saltou do nada para um patrimônio reluzente". A lista de bens incluía "um apartamento em Campinas, avaliado em mais de 1 milhão de dólares, duas mansões e várias empresas". Uma das mansões ficava em Brasília e a outra em Campinas, na qual residia Marinalva e ostentava uma "cinematográfica piscina coberta". Na época o valor da mansão era avaliado em 2 milhões de dólares.
Ao denunciar o esquema do ex-marido, Marinalva também deixou potencialmente exposto para exploração midiática o apoio do ex-sogro e pastor da AD em Campinas Marinésio Soares ao deputado "anão". Evidenciou-se a conjugação de ambições familiares camuflados como defesa dos interesses da instituição religiosa, e o visível enriquecimento ilícito de alguém que foi eleito para "fazer a diferença" no meio político. Ou seja, o discurso de moralidade e representatividade sempre embutidos nessas candidaturas "cristãs", revelou-se apenas um apanágio para a ascensão social de uma minoria familiar.
Para a família Soares tudo desmoronou em pouco tempo. Revelou-se num curto espaço de tempo os bastidores, riquezas, tensões e falcatruas nada "evangélicas" dos líderes e "representantes" do povo crente. E se até aqui as coisas estavam ruins; ficaram piores. Tanto para Moreira, como para Marinalva e igualmente: Marinésio.
Fontes:
FRESTON, Paul. Evangélicos na política: história ambígua e desafio ético. Curitiba: Encontrão Editora, 1994
Acervos digitais da revista Veja e do jornal Folha de São Paulo.
FONTE: http://mariosergiohistoria.blogspot.com.br/2015/04/ligacoes-perigosas-politica-e-igreja.html
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