sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

0 O estado entre a morte e a ressurreição, segundo Geisler




A BASE HISTÓRICA PARA A SOBREVIVÊNCIA CONSCIENTE DA ALMA NO ESTADO INTERMEDIÁRIO
“Irineu (c. 125-c. 202)
O corpo morre e é decomposto, mas não a alma, ou o espírito. Pois morrer é perder força vital, e tornar-se, consequentemente, sem fôlego, inanimado e sem movimentos, e decompor-se naqueles componentes dos quais também se originou a sua existência. Mas este evento não acontece com a alma, pois ela é o sopro da vida; nem com o espírito, pois o espírito é simples e não composto, de modo que não pode ser decomposto, e ele é a vida daqueles que o recebem (AH, 5.7.1).
Como o Senhor “se afastou no meio da sombra da morte”, onde estavam as almas dos mortos, e, contudo, posteriormente, Ele ressuscitou no corpo, e depois da ressurreição foi levado ao céu, fica claro que as almas dos seus discípulos também […] entrarão no lugar invisível que lhes foi destinado por Deus, e ali permanecerão até a ressurreição, esperando por ela; então, recebendo os seus corpos, e ressuscitando em sua totalidade, isto é, de modo corpóreo, assim como o Senhor ressuscitou, eles assim irão à presença de Deus” (ibid., 5.31.2).
Justino Mártir (c. 100-c. 165)
Uma vez que a sensação continua para todos os que já viveram, e a punição eterna está armazenada (isto é, para os ímpios), tome cuidado para não negligenciar ser convencido, e agarre-se à sua fé de que estas coisas são verdadeiras (FA, 18).
Os ímpios, nos mesmos corpos, se unirão outra vez com seus espíritos que agora deverão enfrentar a eterna punição; e não somente, como disse Platão, por um período de mil anos (ibid., 8).
Atenágoras (final do século II)
Nós somos persuadidos de que, quando deixarmos esta vida, teremos outra vida, melhor do que esta, e celestial, não terrena (uma vez que habitaremos perto de Deus, e com Deus, livres de todas as alterações ou sofrimentos na alma, não como carne, ainda que tenhamos carne, mas como espíritos celestiais); não cairemos com os demais, numa vida pior e no fogo; pois Deus não nos fez como ovelhas ou como animais de carga, uma mera obra secundária. Jamais pereceremos, nem seremos aniquilados (PC, 31).
Orígenes (c. 185-c. 254)
O ensinamento apostólico é que a alma, tendo uma essência e vida própria, depois da sua partida deste mundo será recompensada, segundo o seu merecimento, sendo destinada a obter uma herança de vida eterna e bênção, se as suas ações o merecerem, ou será entregue ao fogo eterno e à punição, se a culpa de seus crimes for resumida a isto. E, além disto, haverá um tempo de ressurreição dos mortos, quando este corpo, que agora está semeado “em corrupção, ressuscitará em incorrupção”, e aquele que está semeado “em ignomínia, ressuscitará em glória” (DP, prefácio).
Epitáfio de Catacumba do Século III
“Alexandre não está morto, mas vive entre as estrelas, e o seu corpo descansa nesta sepultura” (citação em Schaff, CC, 7.86).
Metódio (c. 260-311)
E a carne que morre; a alma é imortal. Assim, se a alma é imortal, e o corpo for o cadáver, aqueles que dizem que existe uma ressurreição, mas não na carne, negam qualquer ressurreição; porque não é o que permanece que fica em pé, mas o que caiu e está deitado que é estabelecido; de acordo com o que está escrito: “Aquele que cai não se levanta outra vez ? E aquele que se desvia não retorna?” (DR, 1.7).
João de Damasco (676-754)
Novamente [Deus disse] a Moisés: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó: Deus não é Deus dos mortos (isto é, aqueles que estão mortos e já não existirão), mas dos vivos, cujas almas realmente vivem em sua mão, mas cujos corpos retornarão à vida por meio da ressurreição (EEOF, 4.27).
Tomás de Aquino (1225-1274)
“Foi para o bem da alma que ela foi unida a um corpo […] No entanto, é possível que ela exista separadamente do corpo” (ST, 1.89.1).
Martinho Lutero (1483-1546)
“No intervalo [entre a morte e a ressurreição], a alma não dorme, mas está desperta e desfruta da visão de anjos e de Deus, e conversa com eles” (LW, 25.32).
“Jacó Armínio (1560-1609)
A origem [da alma] […] é a partir do nada, criada por infusão, e infundida por criação, com um corpo sendo devidamente preparado para recebê-la, a fim de que possa se moldar à forma da matéria, e, depois de unida ao corpo por um elo nativo, possa também, formar uma unidade com ele. […]  A substância [da alma] […] é simples, imaterial e imortal. Simples, ao meu ver, não no que diz respeito a Deus; pois ela consiste de ato e poder (ou capacidade), de ser e essência, de sujeito e acidentes; mas é simples no que diz respeito a coisas materiais e componentes.
Ela é imaterial, porque pode subsistir por si mesma, e, ao se separar do corpo, pode operar por si própria. Ela é imortal, na verdade, não por si própria, mas pela graça sustentadora de Deus. ( W JA , 11.26.63) “
A Confissão de Fé de Westminster (1648)
Os corpos dos homens, depois da morte, retornam ao pó, e veem corrupção: mas as suas almas, que não morrem, nem dormem, tendo uma subsistência imortal, retornam imediatamente ao Deus que lhes deu esta subsistência; as almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas em santidade, são recebidas nos mais altos céus, onde contemplam o rosto de Deus em luz e glória, esperando a completa redenção de seus corpos. E as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde permanecem em tormento e completa escuridão, reservadas para o juízo do grande dia (30.2.1).
Jonathan Edwards (1703-1758)
As almas dos verdadeiros santos, quando eles deixam seus corpos na morte, partem para estar com Cristo […] Elas não ficam reservadas em algum lugar diferente do mais alto céu; um lugar de descanso, onde estão guardadas até o dia do juízo, como imaginam alguns […] mas vão diretamente ao céu propriamente dito (“FSDO”, in: WJE, 3).
Charles Spurgeon (1834-1892)
A luz da natureza é suficiente para nos dizer que a alma é imortal, de modo que o infiel que duvida é um tolo pior até mesmo do que um pagão, pois, antes que a revelação fosse feita, a tinha descoberto — existem alguns lampejos de sabedoria nos homens de entendimento que ensinam que a alma é algo tão maravilhoso que deve ser eterna (SSC, 66).” (GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Vol 2 pp. 32; 693-696).
Inúmeras passagens bíblicas ensinam que a alma sobrevive à morte em uma condição desligada do corpo. Entre elas, estão as seguintes.
Gênesis 25.8
O Senhor disse a Abrão que ele seria “congregado ao seu povo”. Ele foi sepultado em uma cova específica — “velho e farto de dias”. A expressão em itálico significa mais do que simplesmente “ir para a sepultura”:
(1) O corpo retorna ao pó — a alma é “congregada” às pessoas queridas desta que faleceram.
(2) Deus disse que ele iria a um lugar de “paz”.
(3) Jesus chamou de “seio de Abraão” (Lc 16.22) o lugar para onde ele foi, um lugar de alegria consciente.
(4) “Congregado” implica em uma reunião de espíritos, não meramente uma desintegração do corpo (como seria o caso com somente “ir à sepultura”).
(5) Isto também aconteceu no momento da morte de Jacó; Jacó ainda estava na cama naquela ocasião, de modo que as palavras de Gênesis 49.33 não poderiam referir-se ao sepultamento do seu corpo: “Acabando, pois, Jacó de dar mandamentos a seus filhos, encolheu os seus pés na cama, e expirou, e foi congregado ao seu povo”
Gênesis 35.18
“E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), [Raquel] chamou o seu nome Benoni; mas seu pai o chamou Benjamim”. A sugestão é de que a sua alma estava  partindo para algum outro lugar; de outra maneira, a narrativa teria dito que a sua alma estava morrendo, ou sendo destruída. Novamente, o ato de a alma deixar o corpo é chamado de morte. Este momento de morte real deve ser distinguido da morte legal (ou clinica), que é determinada pelos índices do funcionamento orgânico. Uma pessoa pode ou não estar realmente morta na ausência de índices consideráveis.
As assim chamadas “experiências de quase-morte” (em inglês, “near-death experiences” [NDEs]) — em que a alma supostamente deixa o corpo, tem um aparente encontro com o outro mundo, e então retorna ao seu corpo aqui — não são verdadeiras experiências de morte. Quando a alma realmente deixa o corpo, a pessoa está morta, e se a sua alma retorna, a pessoa ressuscita. Muitas pessoas que afirmam ter tido tais experiências encontraram exemplos e ensinamentos contrários às Escrituras, e Deus não realizaria (na realidade, não poderia realizar) um milagre (por exemplo, uma ressurreição) que confirmasse qualquer coisa contrária à sua Palavra. Consequentemente, concluímos que tais experiências são puramente psicológicas ou demoníacas.
Salmos 16.10,11
“Não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há abundância de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente”. Aqui Davi fala de uma alegria consciente na presença de Deus depois da morte; no entanto, a ressurreição de Cristo, que ele antevê ( “Santo”, cf. At 2.26,27), não ocorreu durante outro milênio. Na realidade, a ressurreição final é descrita, em outras passagens, como tendo lugar nos últimos dias (Jo 11.24; cf. Dn 12.2). Em conformidade com isto, a alma deve estar em felicidade consciente antes de reunir-se com o corpo, pois ela deverá ter felicidade “eterna” na presença de Deus depois da morte.
Eclesiastes 3.21
Salomão escreveu: “Quem adverte que o fôlego dos filhos dos homens sobe para cima e que o fôlego dos animais desce para baixo da terra?”. A implicação é de que, enquanto o espírito de um animal perece com o seu corpo, o espírito humano sobrevive à morte (vejaEc 12.5-7, em seguida).
Eclesiastes 12.5-7 “ O homem se vai à sua eterna casa, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; [lembrese dEle] antes que […] o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Aqui, novamente, o espírito existe depois da morte, na presença de Deus, e vive com Ele para sempre; somente o corpo retorna à terra da qual veio (Gn 2.7; cf. SI 104.29).
Mateus 22.31,32
“E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos”. Uma vez que Abraão ainda não tinha ressuscitado, mas foi mencionado como “vivo”, Jesus deve estar querendo dizer que a sua alma está viva, entre a morte e a ressurreição.
Lucas 16.22,23
“O mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio”. Esta passagem retrata não somente a felicidade consciente das almas salvas e desencarnadas, mas também o lamento consciente das não-salvas14. Observe que os nomes verdadeiros (como Lázaro) jamais são usados em parábolas, e as parábolas são normalmente introduzidas, como tais, por nome (por exemplo, cf. Mt 13.3).
Lucas 23.43
“E disse-lhe [ao salteador arrependido] Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.
O corpo do homem estava na sepultura, mais tarde, naquele mesmo dia, mas a sua alma estava com Cristo no paraíso, que Paulo descreveu (em 2 Co 12.1-4) como um lugar de felicidade surpreendente, indescritível e inexprimível — o “terceiro céu”, na presença do próprio Deus.
Não existe justificativa para o fato de que a tradução equivocada da versão das Testemunhas de Jeová seja “Em verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso [depois da ressurreição]”. Praticamente todas as traduções aceitáveis rejeitam esta interpretação, e por bons motivos:
(1) Faz mais sentido que a promessa de Jesus se cumprisse naquele mesmo dia, e não em um futuro distante.
(2) A palavra “hoje” (gr. semeron) é usada onze vezes no Evangelho de Lucas e nove vezes no livro de Atos, significando o cumprimento do plano de Deus no presente.
(3) O cumprimento no mesmo dia combina com outra frase que Jesus proferiu sobre a cruz — “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” —, que implica em uma felicidade consciente com o Pai.
(4) O cumprimento no mesmo dia é coerente com a referência que Jesus faz a um estado intermediário imediatamente após a morte, em Lucas 16.22-24.
Lucas 23.46
“Clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou”. Novamente, as palavras de Jesus não somente deixam claro que Ele estava consciente entre a morte e a ressurreição, mas também que estaria com o Pai no céu (cf. 24.44; 2 Co 12.2,4).
João 19.30
“Jesus […] disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito”. Aqui, novamente, Jesus entregou seu espírito do Pai, dando a entender que conscientemente estaria com Ele. Esta afirmação também é respaldada pelas palavras que Ele disse, que estaria com o Pai quando morresse (cf. 14.12).
Atos 7.56,59
[Estevão] disse: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus […]” E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito Isto mostra que o espírito (1) é separado do corpo. 2) sobrevive à morte, e (3) estará com o Senhor. Observe que, no momento da morte de Estevão, o Senhor estava no céu para receber o seu espírito.
1 Corintios 5.5
“[Que esta pessoa] seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espirito seja salvo no Dia do Senhor Jesus”. Aqui, diferentemente da carne, Paulo fala do espírito humano, que sobrevive à morte e pode ser “salvo”, ensinando, outra vez, que os seres humanos podem sobreviver em um estado desencarnado.
2 Corintios 5.1-3,8
Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus […] Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Apesar das perguntas sobre se a “habitação” que é do céu (o corpo celestial) é uma referência ao corpo intermediário ou ao corpo da ressurreição, pelo menos três fatos são evidentes:
(1) Existe alguma coisa espiritual (imaterial) que sobrevive à morte.
(2) Para os crentes, esta alguma coisa espiritual (espírito/alma) sobrevive conscientemente em um lugar de felicidade (“com o Senhor”).
(3) Até que receba outro corpo, o espírito/alma está, de alguma maneira, “nu” ou incompleto (v. 3).
Filipenses 1.21
“O viver é Cristo, e o morrer é ganho”. Não existe sentido razoável em que a morte possa ser ganho, se a pessoa é aniquilada (desligada da existência) ou separada da consciência no momento da morte; na aniquilação, a morte significa perda—não somente a perda da vida, mas também a perda da existência19. E um engano supremo afirmar que nada é melhor do que alguma coisa. Nada é nada, então não pode ser melhor do que alguma coisa.
Filipenses 1.23,24
“Mas de ambos os lados [vida e morte] estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne”. Esta passagem deixa pouca dúvida de que Paulo ensinou que o homem espiritual, separado da sua “carne”, irá sobreviver à morte e “estará com Cristo” em um estado consciente. Além disto, a inconsciência entre a morte e a ressurreição dificilmente pode ser descrita como uma condição “muito melhor”; a não-existência é um estado de nada, de vazio.
Hebreus 12.22,23
Chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial […] à universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados. Esta referência é, sem dúvida, ao céu, e a um ponto antes da ressurreição final; os espíritos humanos justos estão ali em uma condição perfeita enquanto seus corpos, obviamente, ainda estão na sepultura.
Apocalipse 6.9,10
E, havendo [o Cordeiro] aberto o quinto selo, [eu, João] vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?
João chama estes mártires desencarnados, cujos corpos ficam na terra, de “almas” no céu. Na sua visão, elas não somente estavam conscientes, mas orando e interessadas no plano de Deus sobre a terra. Fica claro, novamente, que a alma (imaterial) conscientemente sobrevive à morte desligada do corpo (material), com que espera reunir-se na ressurreição.
Apocalipse 19.20
“E a besta foi presa e, com ela, o falso profeta, que, diante dela, fizera os sinais […] Estes dois foram lançados vivos no ardente lago de fogo e de enxofre”. Mil anos depois, eles ainda estavam conscientes, pois “o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (20.10). Na visão de João, eles ainda estavam conscientes, e continuarão conscientes eternamente; as pessoas que não estão conscientes não podem ser atormentadas.
Apocalipse 20:4
João disse: “E vi [no céu] as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus e pela palavra de Deus”. Este é, provavelmente, o mesmo grupo mencionado em Apocalipse 6.9; aqui também estão em uma condição consciente, celestial e desencarnada.
RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES CONTRA A SOBREVIVÊNCIA CONSCIENTE
Muitos argumentos foram apresentados contra o ensinamento bíblico de que a alma existe em um estado consciente, entre a morte e a ressurreição.
Objeção Um: Baseada nas Descrições Bíblicas da Morte com o um “Sono ”
Jesus disse: “Lázaro, o nosso amigo, dorme; mas vou despertá-lo do sono” (Jo 11.11). Paulo usou a mesma palavra para referir-se aos entes queridos falecidos: “Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: Nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem” (1 Ts 4.15). “Dormir” não implica um estado de inconsciência?
Resposta à Objeção Um
Esta opinião deve ser rejeitada por vários motivos.
Primeiro, como demonstrado anteriormente, a alma permanece consciente depois da morte .
Segundo, somente o corpo morre, portanto somente o corpo pode ressuscitar. Jesus referiu-se à ressurreição do corpo como o despertar de um sono (Jo 5.28,29; cf. 11.11,14).
Terceiro, considerando o que Jesus disse, “dormir” e “estar morto” significavam a mesma coisa (cf. Jo 11.11,14); o corpo está morto, mas a alma, não.
Quarto, “dormir” é uma figura de linguagem apropriada sobre a morte, uma vez que ambas têm a mesma postura; ambas são temporárias, e ambas são seguidas por um despertar e um levantar-se novamente. Portanto, estes textos não respaldam o conceito de que a alma perde a consciência na morte.
Objeção Dois: Baseada na Analogia com Animais
Formas superiores de animais têm almas, uma vez que a mesma palavra hebraica para alma (nephesh) é usada a respeito de animais, assim como a palavra espírito (ruah; cf. Ec 3.21)38. Se as almas dos animais não sobrevivem à morte, por que não deveríamos supor que a mesma coisa é verdadeira com os seres humanos?
Resposta à Objeção Dois
Existem diferenças significativas entre as almas humanas e as dos animais.
Primeiro, os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gn 1.27), e dominam sobre os animais (v. 28).
Segundo, os seres humanos ressuscitarão39, ao passo que não existe evidência de que isto acontecerá com os animais.
Terceiro, a Bíblia afirma claramente que a alma humana está consciente depois da morte, mas a alma do animal não está (veja Ec 3.21). A luz destas substanciais discrepâncias, a analogia não resiste.
Objeção Três : Baseada em 2 Corintios 5.1
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. Nesta passagem, Paulo parece estar dizendo que uma pessoa recebe o seu corpo ressurreto imediatamente depois da morte. Se isto for verdade, então não haveria estado intermediário envolvendo uma alma consciente e desencarnada. Esta afirmação de Paulo não dá nenhuma indicação da existência de qualquer intervalo entre a morte e a recepção deste corpo permanente, o corpo da ressurreição.
Resposta à Objeção Três
Existem pelo menos duas outras possíveis interpretações desta passagem que não negam um estado intermediário desencarnado. A interpretação de um corpo transitório é sustentada por aqueles que alegam que um corpo espiritual intermediário é fornecido na morte; com isto, a alma jamais desencarna. Outros opinam que Paulo não afirma categoricamente que o corpo é recebido no instante da morte, mas simplesmente antecipa o estado da ressurreição final. Esta última interpretação se encaixa melhor na declaração de Paulo a respeito do corpo da ressurreição final em 1 Corintios 15.42-44. Esta interpretação de um corpo transitório entra em conflito com as outras referências das Escrituras a um estado desencarnado entre a morte e a ressurreição. Assim, em 2 Corintios 5.1, em lugar de dar a entender que a alma está inconsciente ou que recebe um corpo intermediário, Paulo provavelmente está ensinando que, depois da morte , vem a antecipação final do corpo ressurreto permanente. Isto também se encaixa na sua afirmação anterior: “isto que é mortal se revista da imortalidade” (v. 53).
Objeção Quatro: Baseada na Visão Hilomórficade Alma /Corpo
Nós afirmamos anteriormente42 que o homem é uma unidade hilomórfica (lit. “forma/matéria”) de alma e corpo; como tal, a consequência parece ser que uma alma não pode sobreviver sem um corpo. Se a encarnação é um veículo necessário para a alma, como poderia ela sobreviver sozinha?
Resposta à Objeção Quatro
Se a alma e o corpo fossem idênticos, então um não poderia sobreviver sem o outro. No entanto, o corpo e a alma são uma unidade, não uma identidade; este é um dos principais problemas com o monismo antropológico. A alma é para o corpo o que o pensamento (imaterial) é para as palavras escritas no papel (material) — o pensamento, expresso por meio de palavras, permanece mesmo quando o papel já não existe.
A Bíblia ensina que a alma sobrevive quando o corpo morre. Sim, a alma é incompleta sem o corpo, e ela espera a ressurreição, quando será completa outra vez (2 Co 5.1); mas a sobrevivência, como uma alma nua, não é impossível. Deus e os anjos são puro espírito (Jo 4.24; Hb 1.14), eles existem sem um corpo. Além disto, entre a sua morte e a sua ressurreição, Cristo existiu sem o seu corpo. Conseqüentemente, a objeção fracassa.
Objeção Cinco: Baseada nos Argumentos a favor do Monismo Antropológico
Os argumentos básicos das Escrituras a favor do monismo antropológico (uma identidade corpo/alma) se originam da natureza dos seres humanos e de uma suposta unicidade de corpo e alma. O argumento é de que os seres humanos têm uma única natureza — uma natureza humana (cf. At 17.26) — e que esta natureza é compartilhada igualmente por todos os seres humanos. Portanto, alma e corpo devem ser uma única natureza, e não duas naturezas.
Resposta à Objeção Cinco
Estes dados podem ser interpretados de outra maneira, a saber, como hilomorfismo, uma unidade forma/matéria, em lugar de uma identidade. Por exemplo, existe uma unidade entre um padrão e uma veste, mas os dois não são idênticos, e o primeiro sobrevive, enquanto a veste perece. Além disto, é verdade que nós temos uma única natureza, mas ela tem duas dimensões, como foi demonstrado acima. As duas não podem ser idênticas, porque uma delas é material e a outra é imaterial; uma delas é perecível e a outra não perecerá.

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