segunda-feira, 14 de maio de 2018

0 Smith Wigglesworth - Um homem de Fé





O Pastor e historiador Roberts Liardon, em seu livro “Os Generais de Deus”, já começa a falar de Smith Wigglesworth chamando-o de O Apóstolo da Fé. E abre o capítulo referente a esta importante figura religiosa britânica reportando um acontecimento digno de ser relatado:

Quando meu amigo disse: ela está morta, ele estava apavorado. Eu nunca tinha visto um homem tão assustado em toda a minha vida... O que devo fazer, perguntou ele. Você pode até achar que o que eu fiz em seguida tenha sido algo absurdo, mas corri até a cama e a arranquei de lá. Carregando-a nos ombros, levei-a até a parede e a ergui, firmando o seu corpo contra aquela parede, já que ela estava realmente morta. Olhei firmemente para o seu rosto e disse: Em nome de Jesus eu repreendo este espírito de morte... Repentinamente, todo o seu corpo começou a tremer, desde o alto da cabeça até a sola do pé... E continuei: Em nome de Jesus, eu te ordeno que andes, disse a ela...tornei a repetir: Em nome de Jesus...Em nome de Jesus, ande! E ela andou.

A ressurreição de mortos era apenas uma das facetas extraordinárias do ministério de Wigglesworth.


Smith Wigglesworth nasceu em Menston, Yorkshire, na Inglaterra aos 8 de junho de 1859 e faleceu em Wakefield o dia 12 de março de 1947. Ele se constituiu em uma importante figura religiosa britânica do fim século 19, além de ser por demais importantes na história do início do pentecostalismo.

Este inglês, ungido e escolhido por Deus, nasceu em uma família pobre. Aos seis anos já trabalhava duro, ajudando o pai, colhendo nabos em uma plantação. Aos sete acompanhou o pai no trabalho em uma fábrica de tecidos de lã que havia em sua cidade. Nas horas de folga, capturava pássaros cantadores e os vendia no mercado da cidade, para ajudar ainda mais no sustento da família. Os pais de Wigglessworth nunca se preocuparam em ensinar o menino a orar.  Mas sua avó era cristã e fazia questão de levá-lo à igreja. Ele ia e ficava observando os adultos baterem palmas e cantarem hinos ao Senhor. Assim, aos oito anos, ele já tinha uma boa noção do louvor e começou a participar mais ativamente nos cânticos e passou a entender o que Jesus havia feito por ele, por intermédio de sua morte e ressurreição.

Aos treze anos a família do menino se mudou para Bradford, onde ele começou a participar ativamente da Igreja Metodista Wesleyana. Sua vida espiritual ganhou um novo significado ele, que nunca tinha ido à escola, tendo aprendido a arranhar a leitura em uma velha bíblia, nunca saia de casa sem levar consigo, no bolso o seu Novo Testamento. Alguns jovens foram convidados pela igreja para participarem de uma reunião especial de pregação, entre eles, Smith Wiglessworth. No seu momento, depois de muito orar e pedir ajuda a Deus, ele subiu ao púlpito e pregou durante quinze minutos. Terminada a pregação ele não tinha a menor idéia do que falara, porém surpreendeu-se com os aplausos e gritos de entusiasmo das pessoas.

Quando tinha dezessete anos, um homem que trabalhava junto com ele resolveu ensinar-lhe a profissão de encanador Esta parte foi fundamental na vida de nosso missionário, porém o que marcou mesmo foi o amigo ensinar e explicar a ele o significado e a importância do batismo nas águas.

O casamento de Wigglesworth teve papel mais do que fundamental em sua vida. Ele conheceu e se apaixonou por Mary Jane Featherstone, conhecida por Polly. Ela vinha de família metodista, de posses e tinha deixado o luxo da sociedade para pregar junto com o pessoal do Exercito de Salvação, onde ficou por pouco tempo em razão de seu envolvimento com Smith. Em 1882 eles se casaram. Sua esposa, Polly, o ensinou a ler, e ele nunca leu outro livro senão a Bíblia. Assim como no caso de outras pessoas que experimentaram milagres de cura, uma cura pessoal, de um caso de peritonite, voltou a sua atenção à cura divina. Até que recebeu o batismo com o Espírito Santo, em 1907, ele tinha um negócio secular, com hidráulica, e ajudava sua esposa em uma missão. Ela era uma pregadora, e estava constantemente dando testemunho a outras pessoas, ganhando almas para o reino.

Durante seus cultos, Polly Wigglesworth pedia seu esposo para pregar, mas ele se desconcertava e desconcertava também aos que assistiam por seu medo de falar. Uma vez, os homens da congregação sentiram de impor as mãos sobre ele e orar. Apesar de seus melhores esforços e dos esforços que outros faziam, continuou sendo um fracassado orador. Finalmente, declarou que nunca falaria em público outra vez. Entretanto, quando recebeu o batismo no Espírito Santo, sua vida foi transformada. Naquela época, sua esposa não acreditava na história de falar em línguas, e ela o desafiou a pregar no domingo seguinte, conhecendo a sua falta de habilidade lingüística. A unção caiu e ele falou com grande clareza e coragem. Polly estava tão surpreendida, que repetia gritando: Esse não é o meu Smith… O que aconteceu com esse homem? Rapidamente um simples trabalhador sem instrução foi transformado em um impressionante pregador de fé.

Wigglesworth entendia que a enfermidade e as doenças eram do diabo, de modo que foi conhecido pela maneira com que tratava as pessoas enfermas, em demonstrações físicas surpreendentes e emocionantes. Por volta de 1890, Smith viajou pra Leds, para comprar material para a sua loja de hidráulica. Estando na cidade resolveu ir a uma igreja onde estavam sendo realizados cultos de cura divina e ficou bastante impressionado com o que viu. A sua primeira experiência com cura divina aconteceu em 1900. Ele, que desde a infância, sofria com problemas de hemorróidas. Um ministro do evangelho que o visitava soube de seu sofrimento, orou por ele e declarou em fé que ele seria curado dessa enfermidade. Smith, que tinha que fazer banhos de assento diários, com sais medicinais, ficou convencido de que era a vontade de Deus curá-lo e parou com os banhos. Descobriu, então, que estava completamente curado e nunca mais sofre com o problema.

O evangelista Lester Sumrall lembra a primeira vez que foi testemunha de Wigglesworth em ação. Certa vez ele conduzia um culto de cura na Califórnia, quando lhe trouxeram um homem com câncer, em estado terminal. Ele estava tão perto da morte que o médico que o ajudava foi com ele para monitorar seus sinais vitais. Smith, com sua natureza rude, disse ao médico: O que está acontecendo? O doutor lhe respondeu: ele está morrendo de câncer.  Sem dar tempo de nada, Smith bateu no estômago do homem com tal força que ele desmaiou. O médico rapidamente o atendeu e gritou: “Ele está morto! Você o matou! A família exigirá explicações! Wigglesworth não se moveu. Ele simplesmente respondeu: Ele está curado. E sem preocupar-se, seguiu orando por outras pessoas no culto. Dez minutos mais tarde, o homem, com sua roupa de hospital, chegou pelo corredor, procurando por Wigglesworth, totalmente curado. Isto não impressionou nem um pouco ao apóstolo, pois era, exatamente, o que ele esperava. E continuou orando pelos outros que necessitavam.

Em outra ocasião, no Colégio Sião, uma mulher paralítica, frágil, chegou para que orassem por ela. Smith Wigglesworth orou, quase com impaciência. Como era habitual, imediatamente, ordenou que caminhasse. Ela, duvidando, começou a olhar ao redor. Sem nenhum tipo de aviso, Wigglesworth foi por detrás dela e a empurrou. Quando ela, tropeçando, começou a correr, ele a seguia pelo corredor gritando: Corra, senhora, corra... ela correu o bastante para sair do alcance dele. Eventualmente, conseguiu alcançar a saída e correu pelas ruas, aparentemente tão assustada quanto curada.

Para Albert Hibbert, o amigo mais próximo de Smith Wigglesworth, o evangelista dizia: Eu não maltrato as pessoas, eu maltrato o diabo. E se as pessoas se põem no caminho, não posso fazer nada…não se pode tratar gentilmente com o diabo, nem dar a ele conforto; porque ele gosta muito da comodidade. Smith Wigglesworth também passou por tempos de sofrimento: perdeu sua amada esposa seis anos depois de sua transformação em um grande homem de fé, com uma unção especial. Em 1913, sua esposa Polly morreu sem nenhuma razão aparente, quando estava a caminho de uma reunião em que ela iria pregar.

Quando voltou a sua casa, Wigglesworth foi ao quarto onde se encontrava, na cama, o corpo de sua esposa morta. Ele repreendeu o espírito de morte e ordenou à vida, que regressasse. Polly abriu os seus olhos e disse: Por que você fez isso, Smith? Eu não desejava voltar à terra. E depois de uma conversa carinhosa, ele a deixou ir para o céu.

Catorze pessoas foram documentadas como ressuscitadas, voltando à vida de entre os mortos, através do ministério de Wigglesworth. Ainda que, de forma não oficial, esse registro poderia chegar a vinte e três pessoas. Não existia nada tão grande para a sua fé. Desde ressuscitar mortos, dores de cabeça a cânceres eram tudo o mesmo para ele. Há algo demasiadamente difícil para Deus?

Smith Wigglesworth, anos depois, se tornou um homem de tal magnitude, que o evangelista de cura Oral Roberts, disse uma vez diante de outros companheiros evangelistas: devemos a este homem uma dívida impossível de calcular.

No dia 12 de março de 1947, Smith estava indo ao funeral de um ministro amigo seu. Durante o caminho ele tinha comentado com amigos que estava se sentindo maravilhosamente bem. Com alegria, visitou alguns lugares que ele tinha visitado com sua querida Polly e falou sobre milagres que tinham ocorrido quando pregavam na cidade. Ao chegar à igreja, encontrou o pai de uma menina pela qual ele havia orado quatro dias antes. A família já tinha aceitado que a menina iria morrer, mas Smith tinha grande fé na sua cura. Tão logo viu o homem perguntou se a filha estava bem. Esperava uma resposta positiva, mas a resposta veio meio relutante, dizendo que ela estava um pouco melhor. Bastante desapontado, Smith Wigglesworth suspirou profundamente, inclinou a cabeça e morreu.


Sua vida foi um exemplo de fé, de determinação, de vontade de servir a Deus e amar o próximo. Nunca, em sua casa, entrou um só remédio. E só leu, durante toda a sua vida, um único livro. A Bíblia sagrada.


FONTE: http://vozdodeserto1.blogspot.com.br/2012/03/biografias-smith-wigglesworth.html


quarta-feira, 9 de maio de 2018

1 O verdadeiro pentecostalismo de William Seymour





Um século após o grande avivamento de Azusa Street, o movimento pentecostal-carismático soma mais de 600 milhões de adeptos. Entretanto, são poucos, sobretudo pentecostais, que conhecem as origens históricas do pentecostalismo. Muitos sequer sabem quem foi William Joseph Seymour, ou sua mensagem e ideais.
Além do mais, uma das questões ainda menos esclarecida para o leitor brasileiro refere-se ao conteúdo teológico-doutrinário dos sermões pregados por Seymour. O fato de haver “supostos” excessos naquelas reuniões promovidas por ele, não deveria ser motivo para considerá-lo como sem discernimento, ou como pastor que não instruía seu rebanho. Quem assim lhe rotula, deve por consequência responsabilizar Paulo pelo uso imoderado dos carismas por parte dos coríntios. A crítica dirigida a Seymour é normalmente relacionada ao fato de que alguns no decorrer dos cultos da Rua Azusa, caíam no chão se contorcendo. Ora, ninguém menos que Lloyd-Jones relata tais experiência em meio aos avivamentos. Para o doutor, reações físicas como esta são cabíveis onde há um grande e genuíno mover do Espírito[1]. Lloyd-Jones entende que é até esperado tais comportamentos diante do mover e do poder do Espírito de Deus, e diante das declarações do velho pregador da capela de Westminster há um eloquente silêncio dos conservadores.
O propósito deste breve artigo é trazer em poucas linhas um resumo sobre a vida de Seymour e suas principais influências, bem como em sequência apresentar o extrato de alguns de seus sermões. Responder a perguntas sobre a coerência de suas pregações, ou qual sua abordagem em relação aos dons e a questão de ordem no culto, estão contempladas neste ensaio. Por conseguinte, para qual linha teológica pende sua mensagem salvífica? E o batismo no Espírito Santo assim como a questão das línguas como única evidência? Essas são algumas das questões que abordaremos no decorrer do texto que se segue. Ao trazer a lume trechos da pregação de Seymour, ainda que sejam poucas palavras, descobriremos um homem lúcido, coerente e bíblico em suas mensagens.
WILLIAM SEYMOUR: SUAS ORIGENS E EDUCAÇÃO
Seymour foi o carismático pastor de “Azusa Street”. Filho dos ex-escravos Simon Seymour e Phillis Saba Seymour, nasceu aos dois dias de maio de 1870 em Centerville, St. Mary’s Parish, no estado da Lousiana. Cresceu sob influências católicas e foi naturalmente batizado no romanismo. Ainda jovem, teve um encontro com Cristo em uma igreja Metodista. Aos 25 anos, chegando à Indianópolis, passa a frequentar assiduamente o movimento de santidade (um grupo de dissidentes da igreja wesleyana, conhecidos como “Holiness”), entre os anos 1895-1905. No ano de 1905 em Houston, Texas, Seymour conhece Charles F. Parham[2], professor de teologia em Topeka, Kansas. Parham também teve sua trajetória na igreja Metodista, porém rompeu com a mesma, sem abandonar o movimento de santidade.[3]
O breve período de seis semanas em que Seymour tendo frequentado às aulas teológicas, ainda que do corredor, por ser negro num tempo de segregação racial, absorveu a teologia pentecostal ensinada por Parham. Ao notar o talento e vocação de Seymour, Parham o acompanha nas incursões pelas comunidades afro-americanas, onde Seymour pregava constantemente. Estas ocasiões serviam para Parham dirigir algumas críticas com o intuito de aprimorar o talento do jovem pregador. A partir desses relatos fica fácil então concluir que Parham imaginava Seymour como seu aliado, ou seja, aquele instrumento que disseminaria a teologia pentecostal entre os negros dos Estados Unidos. No entanto, os planos foram mudados quando Seymour recebeu um convite para pastorear uma igreja em Los Angeles. Parham o aconselhou a recusar, mas Seymour  estava convicto de que esse era um chamado da parte de Deus[4]. Assim, ele chega em Los Angeles em 22 de fevereiro de 1906.
De inicio, Seymour é rejeitado na igreja devido sua mensagem carismática, bem como pelo fato de que embora pregasse o batismo no Espírito Santo com evidência no falar em outras línguas, ele mesmo ainda não havia experimentado tal experiência. Sua convicção de que tal obra do Espírito não ficara confinada à era apostólica estava fundamentada apenas nos textos bíblicos. As portas então se fecharam e sem recursos para deixar a cidade, Seymour solicita ajuda. O casal Edward e Marttie Lee os convida para que se hospedasse na casa deles, e ali, todas as noites passaram a se reunir na sala de estar para orar. O grupo de oração logo cresceu, surgindo a necessidade de um lugar maior. Desta forma, as reuniões passaram a ocupar um espaço na casa de Richard e Ruth Arberry. Em 9 de abril de 1906 em uma das reuniões de oração, durante um grande mover do Espírito Santo, pessoas começam a orar e cantar em línguas. Dentre os batizados que falavam em línguas estava Edward Lee[5]. Três dias após, Seymour recebe o batismo no Espírito Santo e fala em línguas[6].  A partir desse ponto a casa já não comporta o ajuntamento, surge então a necessidade de um lugar maior. Diante dessa necessidade é que surge um velho salão já utilizado por outras denominações no passado, em Azusa Street. O local é simples, as instalações são precárias, mas foi ali que Deus escolheu para que a mensagem pentecostal se espalhasse até os confins da terra.
Sendo assim, podemos perceber que as principais influências de Seymour, são: Teologia Wesleyana, com algumas influências do movimento Holiness. Muito daquilo que aprendeu adveio do período de 10 anos em que frequentou o movimento, bem como seu passado pelo Metodismo. Seu breve contato com Parham foi mesmo suficiente para que absolvesse a doutrina pentecostal.
Como iremos perceber a partir de alguns dos trechos de suas mensagens neste artigo, os fatores determinantes que movem a alma deste homem são: salvação de almas, santidade, batismo no Espírito Santo e comunhão com seu Senhor.
Ao lermos suas mensagens transparece que não estamos diante de um pregador como Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones ou até mesmo G. Campbell Morgan. Seymour não tinha habilidade exegética de Morgan, cujos sermões não eram preparados antes de ler e reler o texto sagrado em média cinquenta vezes. Por outro lado, percebemos que Seymour toma o cuidado de referenciar sua pregação com amplo embasamento bíblico, pois são inúmeras citações. De fato ele não foi um Spurgeon, mas também não foi um leigo. Seymour tinha plena convicção de seu chamado, e consciência de cuja doutrina pregava, demonstrando que entendia biblicamente a fé que defendia. Como Campbell Morgan[7], Seymour apenas não possuía formação acadêmica, no entanto, o avivalista era um grande conhecedor das doutrinas centrais da fé. A estrutura homilética de suas mensagens é simples, pois os sermões são temáticos, mas a mensagem é bíblica, objetiva e claramente incisiva.
A EXPIAÇÃO PRECIOSA
“Filhos de Deus, participantes da preciosa expiação, estudemos e vejamos o que há nisto para nós.” “Primeiro, através da expiação recebemos perdão por nossos pecados.”
“Segundo, Somos santificados pelo sangue de Jesus, Hb 2.11. Você não será envergonhado ao dizer a homens e demônios que é santo, pois está vivendo uma vida santa e pura, livre do pecado, uma vida que dá a você poder sobre a carne, mundo e forças das trevas. O diabo não gosta desse tipo de testemunho. Através da expiação fomos libertos do pecado. Embora vivendo nesse mundo, estamos assentados nos lugares celestes em Cristo.”
É digno de nota observar que, embora Seymour dê muita ênfase ao viver santo, não ensinava como forma de se obter mérito. Ao lermos seus sermões, percebemos que o avivalista tinha ciência que santificação é obra do Espírito Santo.
“Terceiro, Cura para nossos corpos.”
Neste tópico Seymour cita o Salmo 103 em que Davi agradece ao Deus que cura, e o texto em que diz: “por suas feridas fomos sarados”, pois Seymour acreditava que a obra que Cristo realizara no calvário além de trazer a cura para alma, era também abrangente ao ponto de curar o corpo; fato que Seymour testemunhou quase que diariamente, dentre as tantas curas presenciadas, há testemunhos em que até membros amputados ou mirrados foram milagrosamente restaurados, como o precedente bíblico do homem com a mão ressequida a quem Jesus curou[8]. Em Azusa Street, era praticamente normal as pessoas receberem cura sem mesmo a mediação humana por imposição de mãos.
“Quarto, recebemos o batismo com o E. Santo[…] e por seu poder falamos em outras línguas.”
Nesse quarto tópico Seymour fala do batismo no Espírito Santo como um dos benefícios advindos da expiação. É importante observar que, o avalista tinha ciência que essa era uma obra cujo mérito não está no receptor, mas no doador. Sendo assim, no tocante o falar em línguas, encerra o tópico com as palavras: “Necessitados que o Deus trino capacite-nos a fazê-lo.”
Esse é um entendimento que se harmoniza com o padrão bíblico: […] e começaram a falar noutras línguas conforme o Espírito lhes concedia que falassem!
Assim, Seymour encerra o sermão afirmando que
“Nós que somos os mensageiros da preciosa expiação, devemos expô-la na totalidade: justificação, santificação, cura, batismo com E. Santo e todos demais sinais que se seguem. Como devemos escapar se negligenciarmos tão grande salvação? Deus está agora confirmando sua palavra pelos sinais e maravilhas que seguem a pregação do evangelho em Los Angeles!”[9]  
Algumas observações devemos considerar neste sermão: Ele é bíblico, pois enaltece a Cristo e sua obra redentora, assim como todos os benefícios advindos desta obra. Em Azusa Street havia pregação do evangelho, salvação de almas e libertação. Embora os inimigos do poder de Deus tentassem silenciar a obra depreciando o culto bem como a doutrina pentecostal propagada por lá, é fato que os sinais se seguiam e eram incontestáveis. Seymour não era versado em filosofia, não conhecia a arte da dialética bem como seus silogismos, nem tampouco fez uso dos estratagemas de Schopenhauer. O sucesso e vitória obtidos por Seymour não foram resultantes de longos debates, mas sim dos fatos, autênticas obras operadas pelo poder do Espírito Santo.
ENTRANDO NO SANTUÁRIO
Seymour tem plena consciência que, tratando-se da salvação, o pecador nada pode fazer por si, pois declara:
“O pecador vem ao Senhor todo envolto em pecado e trevas. Não pode fazer coisa alguma, pois está morto. A vida tem que ser colocada dentro de nós antes que possamos apresentar alguma vida ao Senhor.” Devemos obter justificação pela fé. Há um cordeiro sem manchas e sem defeitos diante de Deus para o pecador. E quando ele se arrepende dos pecados e volta para Deus, o Senhor tem misericórdia dele por causa de Cristo, concedendo-lhe vida eterna, perdoando-lhe de seus pecados.”[10]   
Nessas poucas palavras de Seymour percebemos quão nítido é seu entendimento da doutrina da salvação. O pregador de Azusa Street expõe a grande verdade: “A salvação pertence ao Senhor.”
OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
Seymour preza por ordem e decência no culto.
“Que Deus ajude seu precioso povo a ler 1ª Co 14 dando aos mesmos a verdadeira interpretação da palavra. Devemos usar nossos dons para a glória de Deus, e não adorarmos os dons em si. O Senhor nos deu poder para usarmos para sua própria glória e honra.”
“Muitas vezes quando recebemos a benção pentecostal, comumente falamos em outras línguas. Mas devemos aprender a silenciar. Frequentemente quando o Senhor envia uma onda de poder sobre nós, todos podemos falar em língua por um instante, mas devemos nos conter enquanto a palavra esta sendo pregada, porque queremos ser obedientes a palavra em que diz que tudo deve ser feito com ordem e decência.”[11]
É notória a preocupação de Seymour no sentido em que os dons sejam usados para glória de Deus, assim como o temor em que a igreja não venha fazer dos dons um fim em si mesmo.
Outro fato muito interessante é o desejo em que haja ordem e decência no culto. Seymour entendeu claramente o apóstolo Paulo no texto de 1ªCo 14, ou seja, todos (os portadores do dom) podem falar em língua ao mesmo tempo, isto é, no momento de adoração, pressupondo que a palavra não esteja sendo pregada. Paulo orienta: “Cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.” Este é o momento em que através do louvor o crente dirige sua fala a Deus, e nesse ínterim alguns o fazem em outras línguas, pois Deus não tem dificuldades em entender a todos ao mesmo tempo, ainda que em outras línguas; haja vista milhares de orações e louvores são dirigidas a Ele do mundo todo em milhares de distintos idiomas, e isso ao mesmo tempo, e Deus ouve e entende a todos sem necessidade de intérpretes. Em Atos 2 encontramos as palavras: …e começaram a falar noutras línguas[…] não são galileus todos “esses homens que estão falando”? Como, pois, “os ouvimos”[…] todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus”. Esse é o padrão que ecoa dos registro lucano, falar das grandezas de Deus é louvar ao Senhor por suas obras, e a igreja o fazia coletivamente.
Todavia, no momento em que Deus vai falar à igreja, seja pela exposição da Palavra, ou por algum profeta que fale em línguas e as interprete, a igreja tem que se aquietar, pois diferente do nosso Deus, não temos condições de entender dois ou três nos comunicando mensagens distintas ao mesmo tempo. ”E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.” Isto é profecia, mensagem de Deus para igreja. Pressupomos que quando Pedro começa expor o evangelho, os “Galileus” se silenciam, pois onde o Espírito de Deus age há ordem e decência. Seymour entendia como deveria funcionar o culto pentecostal, com tempo para cantar e orar, momento em que todos coletivamente elevam suas vozes à Deus, e tempo de se aquietar e ouvir a voz do Pai, seja pelo dom de profecia ou pela exposição da Palavra.
FALSIFICAÇÕES
Seymour expõe uma realidade: Em meio aos dons do Espírito há falsificações.
“O povo tem tentado imitar a obra do Espírito por esses dias, assim como fizeram quando o senhor enviou Moisés a faraó no Egito. O povo tem imitado o dom de Línguas.”[12]
Seymour tinha o discernimento típico de quem experimentava intimidade e comunhão com Deus, uma vez que considerava perdido o dia em que não orava ao menos quatro horas, sendo que aos domingos antes do culto noturno, a oração já começava às 13:00 horas. Isso não poderia resultar em outra coisa a não ser em sensibilidades e discernimento para identificar a manifestação carnal e demoníaca em meio a Igreja. O pentecostal que se preza sabe que, infelizmente, nem toda manifestação no seio da igreja é obra autêntica do Espírito, por isso ora por discernimento.
O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
Seymour deixa claro que o propósito do batismo não são as línguas em si, mas o poder, o revestimento para um testemunho eficaz de Cristo.
“Meus queridos irmãos em Cristo que estão buscando o batismo com o Espírito Santo não o façam pelas línguas…” Nós não estamos buscando por línguas, mas estamos buscando o batismo no Espírito Santo. E quando o recebermos, devemos ser cheios do Espírito, assim falaremos em línguas no poder do Espírito.  Amados não estejam tão preocupados quanto ao falar em línguas, mas deixe que o Espírito lhes conceda o que falar, então as línguas virão tão livremente como o ar que respiramos. Então, quando o Espírito vem, a boca se abre pelo poder do Espírito no coração.”[13]
Para Seymour o falar em línguas em si não deve ser a fator motivador à busca do Batismo no Espírito. O avivalista chegou a considerar idolatria a busca deste batismo cujas motivações fossem meramente o falar em línguas[14]. Seymour entendia o verdadeiro propósito, isto é, poder do alto para dar testemunho eficaz de Cristo.
Um outro fato desconhecido de muitos pentecostais era Seymour entender que as línguas não eram o único sinal que evidencia o batismo no Espírito Santo. Para ele, muitos são batizados mas não falam em línguas; acreditava que havia outros sinais que poderiam validar e confirmar a experiência[15]. Este foi um dos pontos em que divergiu de Parham, pois nesse aspecto Seymour pendeu para uma linha teológica que no futuro se tornou padrão no movimento carismático, diferenciando-se do pentecostalismo clássico de Parham.[16]
Uma boa ala do pentecostalismo norte americano bem como europeu, crê que embora as línguas possam ser um sinal que evidencia o recebimento do batismo espiritual, não são “o sinal”. Martyn Lloyd-Jones traz à lume uma decisão resultante da conferência pentecostal europeia realizada em 1939 em Estocolmo, em que os teólogos pentecostais confirmam o que anteriormente fora ensinado por Seymour, ou seja, as línguas são apenas um dos sinais, não o único[17]. Outro ponto digno de nota é que, diferente de muitos pregadores pentecostais da atualidade, Seymour não manipulava psicologicamente seus ouvintes no tocante ao batismo ou falar em línguas, mas os instruía que deixassem o Espírito lhes conceder o que falar. Interessante é que, em Azusa Street, em meio às manifestações da glossolalia, havia também xenolalia como em Atos 2. Pois ao receber o batismo alguns falavam o idioma celestial, enquanto outros, idiomas humanos.
CONCLUSÃO
Seymour indubitavelmente pode ser identificado como aqueles dos quais Paulo fala:
Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.”
Um negro filhos de escravos, em um período de intenso racismo e segregação racial, é levantado por Deus, e torna-se o protagonista de um dos maiores avivamentos. Homem de equilíbrio, pois em meio as suas andanças junto ao movimento da santidade, não se deixou influenciar por ensinos contrários às Escrituras, sabendo assim reter o que é bom. É admirável o entendimento que Seymour tem da doutrina carismática e soteriológica, superando nisso seu mentor Parham. O avivamento promovido através de Seymour não tem a ver apenas com dons, mas antes de tudo com a comunhão dos santos. Enquanto nas demais denominações tais como batistas, metodistas, presbiterianas e comunhões holiness prevalecia a segregação racial, na igreja Missão de Fé Apostólica de Seymour em Azusa Street negros e brancos louvavam a Deus em comunhão plena e livre, ideal pelo qual lutou por toda vida[18].  Como consequência dessa comunhão e igualdade, almas foram libertas das cadeias do pecado mediante a exposição do Evangelho. Os sinais se seguiam confirmando a mensagem, e os efeitos são ainda mais visíveis hoje, depois de um século.
Depois do grande avivamento advindo da Reforma em que a igreja foi liberta dos dogmas e heresias romanistas, por certo o outro grande mover de Deus foi o que ocorreu em Azusa Street. Neste último, a igreja foi liberta das cadeias do cessacionismo. Libertação essa que não se deu por debates, mas sim através da real e fatídica atuação do Espírito. O que começou de forma tímida, hoje é maior força representativa do cristianismo. Pentecostais e Carismáticos somam mais de 600 milhões adeptos mundo afora. Diante desse crescimento, só podemos tributar o sucesso ao mesmo Espírito que de igual forma agiu na Igreja Apostólica, o que nos obriga a reconhecer com todas as honras o trabalho soberano do Santo Espírito de Deus.

NOTAS E REFERÊNCIAS:
[1] LLOYD-JONES. Martyn; Avivamento. São Paulo: PES, 1993, p. 116.
[2] ROBECK JR. Cecil M; The Azusa Street, Mission & Revival. Nashville, 2006, p. 4
[3] MARTIN. Larry; The Topeka Outpouring of 1901, 2000 pp. 23-24.
[4] The Azusa Street, Mission & Revival, 2006, p. 4
[5] Ibid, 2006, p. 5
[7] G. Campbell Morgam: The Answer of Jesus to Job. Ed. Fleming H. Revell, inc., 2013.
[8] J. Edwards Morris, “Azusa Street: They Told Me Their Stories”, 2006.
[9] Azusa Street Sermons, Willian J. Seymour. Christisn File Books, Joplin,
Missoure, 1999, pp. 23, 24,25.
[10] Ibid., p. 27.
[11] Ibid., pp. 53,54,55.
[12] Ibid. p. 39.
[13] Ibid., pp. 63,64, 65.
[14] KEENER. Craig; Gift & Giver. The Holy Spirit for Today. Baker Academic, 2001, p. 182.
[15] The Doctrines and Discipline of the Azusa Street Apostolic Faith Mission of Los Angeles, Willian J. Seymour, pp. 77,88. Texto em que Seymour é categórico ao declarar o que poucos pentecostais captaram: “Quando definimos ser as línguas a única evidência do batismo com o Espírito Santo e com fogo, temos deixado a divina Palavra de Deus e estabelecido nosso próprio ensino.”[…] Mas alguém perguntará, como você sabe quando recebeu o Espírito Santo (batismo)? Ele, o Espírito da verdade, os guiará em toda verdade (Jo 16.13). O dom do Espirito Santo é mais do que falar em línguas. Ele é sabedoria, poder, verdade, e santidade. Ele é a pessoa que nos ensina a verdade”. Pois bem, esta é a visão do pai do Pentecostalismo moderno. Um grande número de igrejas pentecostais norte-americanas e europeias adotou essa linha doutrinária.
[16] HYATT. Eddie L.; 2000 years of charismatic Christianity. Charisma House. Laky Mary, Flórida: 2002, p. 2. Texto onde Hyatt apresenta algumas distinções históricas e teológicas por traz das nomenclaturas: Carismático e Pentecostal.
[17] LLOYD-JONES. Martyn; Prove All Things: the sovereign work of the Holy Spirit. Eastbourne: Kingsway Publications, p. 145. Este texto é uma série de exposições em que Lloyd-Jones expõe, com clareza, sua crença no continuísmo.
[18] SYNAN. Vinson. O século do Espírito Santo. São Paulo: Vida, 2011, pp. 374, 376.

FONTE: http://teologiacarismatica.com.br/o-verdadeiro-pentecostalismo-de-william-seymour/





 

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