domingo, 25 de novembro de 2018

0 Reflexão – O pecado perdeu sua nocividade?





Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei. 1 João 3:4

Introdução –A melhor definição teológica para pecado é “hamartia” - Termo grego (que significa "errar o alvo"), geralmente aplicado à falha ou erro de julgamento que leva à queda do herói trágico. Vários outros termos teológicos poderíamos usar nesta introdução, porém basta dizer que “pecado” é tudo aquilo que ofende a santidade de Deus e macula o ser humano, tornando-o impuro e o impossibilitando de ser templo do Espírito Santo.

Amenizando o pecado
Por incrível que pareça, as pessoas (PASMEM!) muitas delas cristãs e até pastores e pregadores do evangelho estão empenhados em tornar o pecado mais ameno, ou menos ofensivo a Deus. Como se estivéssemos dizendo: Calma pessoal, o pecado não é tão “negro” assim como nossos pais na fé pintaram! Eles exageraram bastante e nós vamos corrigir isso.
Fico espantado quando vejo pregadores tentando tirar o termo “pecado” do vocabulário do evangelho, enquanto implantam outros eufemismos, no afã de não ofender os pecadores, muitos destes cristãos professos.

                            Uma geração que adotou o pecado
Assim como se adota um animal de estimação, a nossa geração adotou o pecado, o alimenta, afaga e convive com ele dia a dia; como se nada estivesse acontecendo.
Desde pequenas falhas de caráter até grandes erros crassos e extremamente ofensivos a Deus, nossa geração pratica no seu cotidiano, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Muitos ainda usam um jargão bíblico tirado do seu contexto, a fim de se desculpar: “Não julgueis”.

Estamos nos tornando uma raça mal cheirosa às narinas de Deus. Semelhantes a Sodoma e imitando os atos de Gomorra; nem ao menos nos damos conta de que o nosso Deus não muda no seu trato para com o pecado. Para Deus, pecado é pecado, pois ele não muda. O que era pecado há dois ou três mil anos atrás, continua sendo hoje. Jamais pensemos que Deus irá punir severamente os habitantes de Sodoma e Gomorra, enquanto passa a mão em nossos erros, estamos totalmente enganados.

O que vejo literalmente são pessoas (muitas delas cristãs) que estão adotando um estilo de vida totalmente desregrado e fora dos padrões estabelecidos por Deus; usando a desculpa esfarrapada de que o cristão precisa “se divertir um pouco”. Com isso estamos vendo a inserção de todos os tipos de entretenimento em nosso meio. Desde passeios a sítios – onde as pessoas vão jogar bola, tomar banho com roupas coladas ou seminuas (mostrando suas vergonhas); reunião de crentes para comemorar aniversários e outras festividades inventadas por eles mesmos, em ambientes mundanos e cheios de pecado e palavrões; outros reúnem multidões para levar à praia para ver as belezas da natureza (mulheres e homens seminus); ou festas nos próprios templos (alguns tem se transformado num shopping cristão), etc.

Nesse contexto desenfreado, considera-se errado aquele que não participa destas coisas. É tido como estranho, chato e divisor da obra, todo aquele que procura manter-se fora destes passatempos pecaminosos. Não estou dizendo que ir a uma praia em si seja pecado, ou que levar a família a um sítio em si seja, ou mesmo que uma igreja reunir-se numa chácara para um “RETIRO ESPIRITUAL” seja. Mas sejamos sinceros e honestos com nós mesmos e com Deus; pois quando vamos a uma praia nos dias de hoje (onde impera uma extrema nudez e sensualidade) o ambiente não nos afeta negativamente? Se sim, então porque insistimos em levar nossas igrejas para lá? Sabendo que com isso estamos maculando a santidade da Noiva do Cordeiro? Ou quando levamos as pessoas a um passeio e todo mundo cai na piscina com o corpo meio a mostra, podemos afirmar 100% que não haverá maldade ali? Ninguém olhará para aquela irmã ou aquela moça que se destaca um pouco mais? Como disse Paulo à igreja de Corinto: Façamos uma autoanalise sincera diante de Deus e vejamos se aquilo que chamamos de diversão agrada ou ofende a Deus.

Conclusão – Todo cuidado com o pecado ainda é pouco em nossa vida diária. Pois o pecado é sagaz, o diabo é astuto e nossa carne é fraca. O que vemos literalmente são pessoas brincando com o pecado como se ele fosse um bichinho de estimação.
CUIDADO! Pois você está aninando uma cobra venenosa e perigosa (PECADO) que vai te picar quando menos você esperar.

Bom domingo a todos,

                                       João Augusto de Oliveira


sábado, 24 de novembro de 2018

0 Sumário geral dos eventos escatológicos





O estudo comparativo dos livros de Daniel, Apocalipse, 1 e 2 Tessalonicenses, 2 Pedro, Zacarias, Joel e capítulos de livros, como 24 e 25 de São Mateus; 38 e 39 de Ezequiel, permite-nos organizar um sumário geral cronológico dos eventos que estão para acontecer, a partir do rapto da Igreja para o Céu.
Não se pode ser dogmático nesse assunto, como donos exclusivos da verdade. Muitas passagens escatológicas são de difícil harmonia e interpretação, mesmo para os mais abalizados no assunto.
É evidente, pois, que o calendário profético como estudo aqui apresentado, não é nada final, nem completo no campo escatológico, pelas razões acima expostas. Maiores estudos e maior iluminação do Espírito através da palavra profética, adicionarão novos detalhes, que enriquecerão tal conhecimento. Vejamos a seguir um sumário dos eventos escatológicos, qual calendário da profecia.
O rapto da Igreja. Também chamado Consiste dos santos ressuscitados e dos vivos transformados, todos trasladados para o Céu por Jesus. O Arrebatamento terá lugar nos céus, nas nuvens (1Co. 15.51-52; 1Ts. 4.14-16).
Julgamento da Igreja no Tribunal de Cristo, para galardão. Uma evidência disso, a esta altura dos acontecimentos, é que o “linho fino”, das vestes da Igreja, são “os atos de justiça” dos santos (Ap. 19.7-8) – resultados do julgamento no Tribunal de Cristo.
As Bodas do Cordeiro (Ap. 19.7-9). As bodas ocorrerão entre o Arrebatamento e a revelação pessoal de Jesus em glória. Uma evidência disso é que, ao descer o Senhor, as bodas já ocorreram, como se vê, comparando Apocalipse 19.7-9 com 19.11-14. Assim, enquanto os juízos divinos caem sobre a terra, durante a Grande Tribulação haverá festa no Céu.
Retirada daquele que restringe o pecado. Trata-se da pessoa do Espírito Santo. O pecado e seus males terão então livre curso. Esse afastamento do Espírito Santo é quanto à ação do pecado. A sua operação na salvação dos pecadores é evidente que continua, como se vê em Apocalipse (ler 2Tessalonicenses 2.3-10).
Surgimento do Anticristo no cenário mundial (Ap. 13.1-2). O início da carreira do Anticristo será algo insignificante. É denominado chifre pequeno em Daniel 7.8. Mas logo depois, numa demonstração de força, ele derrubará três reis, isto é, ocupará três países (Dn. 7.24). E prosseguirá na escalada do poder, tornando-se governante de uma confederação de dez países (Dn. 7.24; Ap. 17.12).
Surgimento do Falso Profeta. O Anticristo (a mesma Besta de Apocalipse 13.1-8) será um líder político; um ditador mundial. O Falso Profeta será seu ministro de cultos, que estará à frente da igreja mundial de Satanás (Ap. 13.11-16).
O pacto de 7 anos do Anticristo com Israel. Israel será então uma nação forte a ponto do Anticristo fazer um pacto com ela. A princípio, Israel gozará de imunidades, reconstruirá seu templo e reiniciará a prática dos sacrifícios (Dn. 9.27). Após os primeiros três anos e meio o Anticristo anulará o pacto feito e começará a perseguir os judeus.
Os juízos do Céu sob os sete selos de Apocalipse 6. À essa altura dos acontecimentos, a terra estará sendo atingida em cheio pelos juízos divinos sob os sete selos do capítulo 6 de Apocalipse.
1º selo. O Anticristo e seu falso milênio, através de uma paz e um progresso ilusório (Ap 6.2). Ele se apresentará como o salvador do mundo.
2º selo. Guerra através da terra e muito sangue derramado, à medida que o Anticristo galga o poder sobre as nações (Ap. 6.4).
3º selo. Fome mundial sem precedentes, resultante da guerra e suas consequências (Ap. 6.5-6).
4º selo. Um quarto da população da terra é eliminado por fome, peste e guerra (Ap. 6.8).
5º selo. Mártires e mais mártires nesse tempo (Ap. 6.9-11).
6º selo. Catástrofes físicas nos céus e na terra. Um grande terremoto fará a terra tremer. Fumaça e cinza escurecerão o sol (Jl. 12.30-31; Ap. 6.12-13). Deus será visto no seu trono de juízo, o que apavorará os ímpios (Ap. 6.14-17). Fim dos primeiros três anos e meio de Tribulação.
7º selo. Acha-se no capítulo 8.1-5 de Apocalipse. Está ligado a novas catástrofes na terra e comoções nos céus.
As duas testemunhas e sua missão nos primeiros três anos e meio. Isso ocorrera nos primeiros três anos e meio de pacto do Anticristo com Israel (Ap. 11.3-12).
000 judeus salvos em Israel. Salvos dentre as 12 tribos para testemunharem na terra. Mais tarde eles aparecem no Céu, triunfantes (Ap. 14.1-5).
O Anticristo continua a se fortalecer à frente do bloco de dez nações.
O bloco de nações do Norte – “Gogue e Magogue” (a Rússia) também continuará com suas provocações e desafios, logrando adesões do bloco árabe.
A igreja falsa mundial continuará se projetando, com a união de todas as religiões.
A pregação do evangelho do reino. Será pregado em toda parte pelos judeus salvos (Mt. 24.14).
Gogue e Magogue invadem Israel. Noutras pala­vras: a Rússia e seus aliados invadem Israel, mas são destruídos sobrenaturalmente por Deus (Ez. capítulos 38 e 39). Hoje só se fala em conflito Leste-Oeste; então será Norte- Sul (Dn. 11.40).
O Anticristo romperá seu acordo com Israel e começará a persegui-lo. Ele colocará uma imagem sua no templo dos judeus e exigirá adoração. Talvez seja nesse tempo que ele será mortalmente ferido e logo a seguir curado pelo poder satânico (Ap. 13.3). Ele estabelecerá seu palácio em Jerusalém (Dn. 11.45).
A igreja falsa mundial que predominou na terra sob a égide do Anticristo, por três anos e meio, será destruída pelos dez países sob a chefia do próprio Anticristo (Ap. 17.16-18). Em seu lugar surgirá imediatamente a adoração compulsória da Besta, promovida pelo líder religioso denominado Falso Profeta. O termo Falso Profeta implica religião (Ap. 13.8,11-17).
Uma vez destruída a super-igreja falsa, na metade da Tribulação, o único culto permitido será o da adoração da Besta (Ap. 13.8). Computadores cada vez mais sofisticados controlarão a população da terra, de modo que quem não adotar a nova religião não possa comprar nem vender, seja para sustento da família, seja para comerciar.
As duas testemunhas serão mortas no início desse período, mas ressuscitarão à vista de todos e ascenderão ao Céu.
Talvez nesse tempo os 144.000 judeus serão martirizados, como dá a entender Apocalipse 14. De igual modo serão martirizados os gentios que professarem sua fé em Cristo.
Mais juízos sobre a terra sob as sete
1ª trombeta. Saraiva, fogo e sangue sobre a terra. Um terço da vegetação destruída (Ap. 8.7).
2ª trombeta. Algo como uma grande montanha cai no mar. Um terço da vida marinha e das embarcações são destruídas (Ap. 8.8-9).
3a trombeta. Rios e fontes de água contaminados. Um terço de toda a água da terra poluída (Ap. 8.10-11). Isso certamente contribuirá para a posterior secagem do Eufrates em Apocalipse 16.12.
4ª trombeta. Escuridão na terra. Desaparece um terço do brilho do sol, lua e estrelas (Ap. 8.12).
5a trombeta. A invasão da terra por demônios em forma de gafanhotos gigantes. Os habitantes da terra são atormentados por cinco meses. Apenas 144.000 são poupados (Ap. 9.1-11).
6a trombeta. Uma horda de cavalos e cavaleiros infernais, isto é, seres infernais invadem a terra, comandados por quatro anjos decaídos que estavam presos junto ao rio Eufrates. João diz que o número deles era de 200 milhões (literalmente, no original). Morre um terço da população da terra (Ap. 9.13-21).
7a trombeta. Esta introduz os últimos e os piores juízos de Deus sobre o reino do Anticristo, sob as sete taças.
Uma grande multidão de israelitas fieis fugirá para os montes do deserto de Edom, no Sul de Israel, onde estarão protegidos de destruição (Mt. 24.16; Ap. 12.6). Elias protegido aí, no passado, pode ter sido figura desse episódio.
Os últimos juízos divinos sobre o mundo. São as sete taças da ira divina, descritas em Apocalipse, capítulos 15 e 16. São flagelos e catástrofes em escala mundial e de efeitos destruidores jamais conhecidos.
1a taça. Chagas malignas sobre os adoradores da Besta (Ap. 16.2).
2a taça. O mar inteiro contaminado e tornado em sangue (Ap. 16.3). A vida marinha desaparece.
3a taça. Rios e fontes de água doce contaminados (Ap. 16.4). Este juízo decorre do derramamento de sangue pelo homem, através dos milênios.
4a taça. O aumento de temperatura do sol, queimando os homens (Ap. 16.8-9). Este castigo resulta em blasfêmia das massas, em vez de arrependimento.
5a taça. Trevas reais envolvem o reino do Anticristo (Ap. 16.10-11). Este juízo acarretará problemas imprevisíveis na administração do Anticristo, seu reinado e seus negócios. Mais blasfêmias em massa, da humanidade, em vez de arrependimento.
6ª taça. O rio Eufrates seca, assinalando os fatos iniciais da Batalha de Armagedom. Essa secagem agilizará o avanço dos exércitos do Oriente, na sua marcha para Israel. Espíritos demoníacos incitarão as nações, que pela instrumentalidade de Satanás, concentrarão seus exércitos em Israel. A essa altura, todos já estão plenamente conscientizados de que o Senhor está para descer. Os estrategistas concluirão que o poderio combinado dos exércitos do mundo inteiro destruirá Israel e o próprio Deus. A loucura do homem, causada pelos demônios, os levará a esse ponto. Seu alvo principal é Jerusalém. O grosso das tropas ficará em Armagedom, ao norte de Israel (Ap. 16.14-16), e parte também em Edom, ao sul (Is. 34.5-8; 63.1-6).
7a taça. Um terremoto mundial convulsionará violentamente toda a terra, anunciando o fim do mundo (Ap. 16.17-21). Espetaculares mudanças ocorrerão na superfície da terra, destruindo cidades, abaixando montanhas, elevando planícies e alterando todo o contorno dos mares.
A quase destruição de Israel. Os judeus lutarão desesperadamente. Será grande o morticínio em Israel (Zc. 13.8). A capital (Jerusalém) será tomada, com requintes de perversidade, vandalismo e abuso contra a população, especialmente mulheres (Zc. 14.2). Quando não houver mais esperança de salvação para os judeus, eles clamarão a Deus (Is. 64.1-12), e nesse momento Jesus descerá visivelmente com seus santos. Todos verão isso (Ap. 1.7; Jd v. 14). A presença e a palavra da boca do Senhor eliminarão num instante os exércitos do Anticristo (2Ts 2.7; Ap. 19.11-21).
Eventos geofísicos. No momento em que Jesus tocar o Monte das Oliveiras, este se dividirá ao meio, produzindo um grande vale (Zc. 14.4). Certamente toda área de Jerusalém e cercanias se tornarão em planície, ficando Jerusalém num planalto, uma vez que da fonte que brotar em Jerusalém, águas correrão para o Mar Morto e o Mar Mediterrâneo igualmente (Ez. 47.8-12). O Mar Morto onde atualmente não há vida, será um viveiro de peixes.
Julgamento das nações Os que escaparam da Tribulação serão agora julgados. A base do julgamento será a maneira como as nações trataram os “irmãos de Jesus” (os judeus). Nações serão poupadas e ingressarão no Milênio. Nações serão destruídas ali mesmo, isto é, seus habitantes serão eliminados (Mt. 25.21-46).
O final da carreira do Anticristo e do Falso Profeta. Serão imediatamente lançados no lago de fogo e enxofre, após a descida de Jesus à terra.
O remanescente judaico que escapar de Armagedom. Dois terços dos judeus morrerão na investida destruidora das forças do Anticristo. Um terço remanescente se arrependerá aceitando Jesus como o seu Messias (Zc. 13.8-9; 12.10). Esse remanescente constituirá o núcleo dos “filhos de Abraão”, que ingressarão no Milênio em seus corpos mortais, iniciando o reino milenar do Messias, gerarão filhos carentes de salvação, uma vez que a salvação não é transmissível.
Satanás aprisionado. O agente divino para isso certamente será o arcanjo Miguel (Ap. 20.1-3). E o epílogo do ato por ele iniciado em Apocalipse 12.7-12.
O reino milenar de Cristo (Ap. 20.4-6). O Milênio será o glorioso reinado de Cristo na terra por mil anos, prevalecendo a justiça e a paz. Ingressarão no Milênio as nações que forem poupadas no Julgamento das Nações, bem como os judeus que escaparem da campanha do Armagedom (Zc. 13.8).
O final da carreira de Satanás (Ap. 20.7-10). Sua carreira nefanda termina ai, após um rastro de muitos milênios de males de toda espécie perpetrados contra a humanidade.
O Juízo Final (Ap.11-15). Todos os mortos ímpios ressuscitarão aqui, e serão julgados conforme suas obras e enviados para o seu destino eterno: o lago de fogo e enxofre. Nessa ocasião, a Morte também encerrará sua missão (Ap. 20.14).
Novos céus e nova terra. (Ap. 21 e 22). Aqui, o pecado terminou o seu curso. Os salvos já estarão glorificados. Os perdidos estarão no seu lugar – o Inferno. Céus e terra serão renovados. Tornar-se-ão como eram no princípio – sem pecado e mal.
Então, Deus será tudo em todos (1Co 15.28). Para sempre continuará o eterno e perfeito estado.
Concluindo este ligeiro estudo de Escatologia Bíblica, o autor deste livro diz para si mesmo o que disse o patriarca Jó, no passado: “Porventura desvendarás os arcanos de Deus, ou penetrarás até a perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber?” (Jó 11.7-8).
Isto significa que este tratado que o leitor tem em mãos é simplesmente uma minúscula parcela do grandioso assunto em apreço.
Diante de tudo o que acabamos de estudar neste livro, vêm-nos à mente as últimas palavras da noiva, em Cantares de Salomão 8.4: “Vem depressa, amado meu!” e, do mesmo modo as últimas palavras do Noivo Celestial, à sua eleita, em Apocalipse 22.20: “Certamente venho sem demora”.
Ao nosso grande e eterno Deus, infinitamente amoroso, sábio e poderoso, seja toda glória, agora e no dia da eternidade! Amém!
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Pr. Antonio Gilberto

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

0 O que a Transfiguração de Jesus Ainda Tem a nos Dizer?




Thomas Lieth

A Transfiguração de Jesus

Lucas 9.23-36: 23Jesus dizia a todos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. 24Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará. 25Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder-se ou destruir a si mesmo? 26Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier em sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos. 27Garanto a vocês que alguns que aqui se acham de modo nenhum experimentarão a morte antes de verem o Reino de Deus”. 28Aproximadamente oito dias depois de dizer essas coisas, Jesus tomou a Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar. 29Enquanto orava, a aparência de seu rosto se transformou, e suas roupas ficaram alvas e resplandecentes como o brilho de um relâmpago. 30Surgiram dois homens que começaram a conversar com Jesus. Eram Moisés e Elias. 31Apareceram em glorioso esplendor e falavam sobre a partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém. 32Pedro e os seus companheiros estavam dominados pelo sono; acordando subitamente, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. 33Quando estes iam se retirando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. (Ele não sabia o que estava dizendo.) 34Enquanto ele estava falando, uma nuvem apareceu e os envolveu, e eles ficaram com medo ao entrarem na nuvem. 35Dela saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido; ouçam-no!” 36Tendo-se ouvido a voz, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram isto somente para si; naqueles dias, não contaram a ninguém o que tinham visto.
O evangelista Mateus relata que “seis dias depois” Jesus levou três dos seus discípulos “em particular, a um alto monte” (Mt 17.1). O que havia acontecido seis dias antes? A resposta encontra-se na passagem imediatamente precedente. Relata-se ali que Jesus conversara com seus discípulos sobre as implicações de segui-lo. “Garanto a vocês que alguns dos que aqui se acham não experimentarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo em seu Reino” (Mt 16.28).
Esse versículo tem provocado controvérsias. Com efeito, essa declaração do Senhor Jesus não pode referir-se à sua futura volta em poder e glória e também não ao milênio, porque então sua declaração de que alguns não experimentariam a morte até aquele evento seria difícil de explicar. Penso, por isso, que ela se refira antes à transfiguração ocorrida seis dias depois e aos eventos subsequentes. O Senhor Jesus disse algo como: “Falta pouco tempo para o reino de Deus ser apresentado aos seus olhos”. Portanto, não se trata do reino de Deus em poder e glória, mas do reino de Deus que se inicia em Jesus Cristo. Jesus falou do reino de Deus em relação à sua vida e obra na terra, como por exemplo em Lucas 17.21b: “... o Reino de Deus está no meio de vocês”. Ou então como Paulo expressa na carta aos Colossenses: “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado” (1.13). E isso não se refere apenas ao futuro, mas já ao presente. A transfiguração ocorrida pouco depois foi algo como um primeiro passo, uma espécie de aceno de Deus: o reino de Deus está chegando! O Salvador prometido está empreendendo sua marcha triunfante.
No entanto, agora os relatos de Mateus e Marcos, de um lado, diferem daquele de Lucas, do outro, na indicação do número de dias após o qual essa transfiguração ocorreu. É verdade que para o assunto em si isso não importa, mas ainda assim quero comentar o ponto brevemente para esclarecer que não há razão para desconfiarmos das declarações da Bíblia. Mateus e Marcos falam de exatamente seis dias. Já Lucas fala de aproximadamente oito dias. Na interpretação bíblica sempre temos de levar em conta o que é e o que não é dito. Se, por exemplo, minha esposa disser que ontem eu comi macarrão, isso de modo algum significa que eu não tenha também comido batatas. Ou se alguém me perguntar por quanto tempo estarei viajando pela Alemanha em setembro, responderei: “Mais ou menos duas semanas”. Alguém poderá interpretar isso como 14 dias, outro talvez como 10 dias, meus filhos esperam que sejam 16 dias... Lucas fala aqui de aproximadamente oito dias. Portanto, ele não fornece uma indicação exata e, em contraste com Marcos e Mateus, ele talvez não tenha contado apenas os dias entre os dois eventos, mas incluído o dia em que cada um aconteceu. Não podemos saber com toda a precisão, mas não se trata de uma contradição. Não há o que abalar na Palavra de Deus. E se existirem aparentes contradições, é apenas porque não as interpretamos corretamente.
Não é de admirar que Jesus leve justamente Pedro, Tiago e João para o monte, porque esses três discípulos formavam algo como o núcleo duro dos apóstolos. Os três estiveram presentes também em outros eventos, por exemplo no jardim do Getsêmani, quando Jesus se retirou com os três e estes infelizmente adormeceram enquanto o seu Senhor e Mestre lutava em oração. Tudo indica que Tiago, João e Pedro realmente dormiam muito bem, porque dormiram não apenas no Getsêmani, mas também aqui, na transfiguração (Lc 9.32a). Também é interessante notar o simples fato de que Jesus tenha levado companhia para o monte da transfiguração. Afinal, ele também poderia ter ido sozinho. Esse procedimento lembra o princípio do testemunho no Antigo Testamento, segundo o qual uma questão requer duas a três testemunhas (Dt 17.6; 19.15). Penso que Jesus sempre deu valor a isso. Ele praticamente nunca se apresentou sem testemunhas, de modo que sua vida e obra ficaram tão bem documentadas como nenhum outro evento que aconteceu mais de 200 anos atrás.
Assim chegamos ao evento em si: “Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a luz” (Mt 17.2). As diversas traduções da Bíblia usam termos diferentes para o fenômeno da transfiguração. De qualquer modo, porém, ocorreu ali algo totalmente incomum – eu diria que algo alheio à terra. Apesar disso, porém, aconteceu na terra e diante dos olhos de três testemunhas. Tentemos iluminar um pouco o fenômeno. Até então, Pedro, Tiago e João haviam conhecido Jesus exclusivamente como homem. É certo que Jesus era um homem extraordinário, mas ainda assim um homem. E agora, naquele monte, os discípulos viram pela primeira vez o seu Senhor em sua glória divina. Lucas relata que aquilo aconteceu enquanto Jesus orava. Jesus frequentemente se retirava para buscar o diálogo com o seu Pai celeste. Ele vivia continuamente em íntimo contato com Deus por meio da oração.
Muitos de nós não conseguem mais aproveitar o silêncio e o retiro em oração com Deus.
Muitos de nós não conseguem mais aproveitar o silêncio e o retiro em oração com Deus.
Como já se mencionou, os discípulos haviam adormecido. Seria esse talvez também um problema fundamental para nós, hoje? Não é frequente a fadiga nos acometer quando se trata de ir a uma reunião de oração? Não é comum desviarmos nossa atenção e deixar de orar? Não sendo cansaço, são os nossos pensamentos que de repente fogem por aí, ou é o telefone que toca, ou a correria da vida diária. Creio que muitos de nós – eu inclusive – não conseguimos mais aproveitar o silêncio e o retiro em oração com Deus. Como fica a nossa hora silenciosa com Deus? Quando digo hora silenciosa, não me refiro a leitura bíblica e oração apressadas. O Senhor Jesus quer que oremos. Ele nos convoca claramente a fazê-lo. E como o entristeceu constatar repetidamente que seus discípulos se deixavam vencer pelo sono e eram desviados de orar: “Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?” (Mt 26.40). E Jesus sabe o quanto necessitamos da oração: “Vigiem e orem para que não caiam em tentação” (Mt 26.41). Estou convicto de que quanto mais um filho de Deus orar, tanto menos espaço ele dará ao pecado, e quanto mais uma igreja orar, tanto mais poderoso será o seu testemunho. Do outro lado, porém, há alguém que quer impedir justamente isso: o Diabo, que quer sufocar qualquer oração na origem. Por isso é melhor você ir ao culto sem relógio e, mais ainda, sem telefone. Jesus não só ensinou uma oração aos seus discípulos, mas também lhes deu o exemplo por meio da sua própria vida de oração.
Enquanto Jesus orava, sua face passou a brilhar como o sol e suas vestimentas se tornaram claras como a luz. Talvez essa transfiguração também tenha sido uma clara resposta do Pai à oração do seu Filho. Não temos registro daquilo que Jesus orou, mas sabemos sobre o que ele conversou com Moisés e Elias. Isso permite supor que também sua oração tenha tratado do caminho que ele tinha pela frente, mesmo porque Jesus também havia pouco antes confrontado seus discípulos com o primeiro anúncio da sua paixão. Ele vinha preparando seus discípulos – daí também a conversa sobre como segui-lo –, mas Jesus mesmo também precisava de alguém que o preparasse. Quem imagina que o Filho de Deus tenha simplesmente subido à cruz “numa boa” tem uma noção completamente errada. Sua luta em oração no Getsêmani revela muitíssimo sobre isso. Jesus buscava a proximidade do Pai, buscava forças, recursos e confirmação, e exatamente isso é o que ocorreria aqui na presença dos três discípulos. Aliás, foi a única vez antes da sua morte e ressurreição que o Senhor Jesus se manifestou em glória. Ali, na transfiguração, sua face mudou e sua divindade transpareceu majestosamente. Por um momento, Jesus não foi apenas homem, mas pela primeira vez sua natureza divina ficou visível para alguns dos seus discípulos. Para os discípulos, essa transfiguração foi uma amostra do futuro em que veriam o Senhor Jesus em toda a sua glória, tal como se lê em 1João 3.2: “... o veremos como ele é”.
Prosseguindo no texto: “Naquele mesmo momento, apareceram diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus” (Mt 17.3). A transfiguração em si já é extraordinária, mas o acontecimento não para por aí, porque agora também aparecem Moisés e Elias. E como se não bastasse, eles não apenas aparecem, como falam com Jesus. É claro que agora podemos tentar interpretar isso de alguma forma simbólica e dizer que Moisés e Elias constam aí apenas como exemplos e nem apareceram realmente. Muito provavelmente os discípulos apenas foram ofuscados pelo sol por trás. Não! Não precisamos reinterpretar nem humanizar nada. Ali, naquele monte e durante a transfiguração do Senhor Jesus, Moisés e Elias de fato apareceram. Tomemos o relato simplesmente da forma como nos foi transmitido.
Lucas também diz que Moisés e Elias igualmente apareceram glorificados, seja como for que aquilo se tenha apresentado na prática. Fato é que ambos se despediram da terra de forma extraordinária e ambos são considerados no judaísmo como precursores do Messias. A respeito de Moisés consta que Deus mesmo o sepultou e que seu túmulo permanece desconhecido até hoje (Dt 34.5-6). E Judas 9a relata que o arcanjo Miguel teve uma contenda com o Diabo e negociou a respeito do corpo de Moisés. Percebe-se que Deus mesmo exerce autoridade e vigilância sobre o corpo do seu servo Moisés. Tanto mais será fácil para Deus fazer Moisés aparecer glorificado no monte da transfiguração. Elias, por sua vez, foi arrebatado; portanto, Deus mesmo o buscou para junto de si no céu (2Rs 2.11). Tanto o que ocorreu com Moisés e Elias como também a transfiguração são mistérios e uma intervenção pessoal de Deus, que se sobrepõe a todas as leis da natureza e ainda mais à toda lógica humana. Trata-se da atuação visível de Deus em seu Filho.
Moisés e Elias também desempenham um papel significativo na história de Deus e dos homens, de modo que naturalmente existe um motivo para esses dois aparecerem ali e não, por exemplo, Arão e Enoque. O que Moisés representa? Moisés foi aquele a quem Deus entregou as tábuas da lei, e não é sem motivo que no judaísmo os cinco livros de Moisés são chamados de “a Lei”. Moisés é a personificação da lei. E quem representa no judaísmo muito particularmente os profetas? Elias. O único profeta que não morreu, mas foi arrebatado, o profeta que conduziu o povo para longe do culto a Baal e que também é posto em conexão com a volta do Senhor Jesus (cf. Ml 4.5). Portanto, Moisés e Elias representam a lei e os profetas. Tanto a lei como os profetas apontam para o Salvador que viria. Na verdade, a meta por excelência da lei e dos profetas é que o reino de Deus tem seu início em Jesus Cristo.
A transfiguração ilustra o fato de que a antiga aliança foi cancelada porque Jesus cumpriu a lei, e também a profecia atingiu seu alvo com a instituição da nova aliança em Jesus. Agora é a graça que ocupa o centro. Não mais Moisés e Elias, mas apenas Cristo! Ali, durante a transfiguração, Jesus é confirmado por Deus Pai como aquele do qual testificam a lei e os profetas – o Messias, o Salvador do mundo.
Lucas relata do que tratou o diálogo entre Jesus, Moisés e Elias. Eles falaram sobre “a partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém” (Lc 9.31). Tratava-se, portanto, de um cumprimento, a saber: o cumprimento da lei e dos profetas. Tratava-se da missão do Senhor Jesus, daquilo que ainda o aguardava: a luta atroz no Getsêmani, a tortura, o escárnio, a negação, a traição, o abandono por Deus e a crucificação... Sim, tratava-se literalmente de vida e morte! Jesus estava para encarar uma luta que requeria o pleno respaldo do seu Pai. A transfiguração esclarece por um lado que se trata da absoluta vontade de Deus que seu Filho percorra esse caminho e leve a termo o que Deus começou em sua graça e amor aos homens. Por outro lado, Deus quer fortalecer e encorajar o seu Filho por meio daquilo. Por isso, Jesus também pôde testificar aos seus discípulos: “Aproxima-se a hora, e já chegou, quando vocês serão espalhados cada um para a sua casa. Vocês me deixarão sozinho. Mas eu não estou sozinho, pois meu Pai está comigo” (Jo 16.32). Jesus sabe que, mesmo sendo traído por um Judas e negado por um Pedro, seu Pai no céu segura nas mãos as pontas da história da salvação e não o deixará efetivamente só.
Neste ponto também se diz que Jesus encontrará seu fim terreno em Jerusalém e não, por exemplo, em Nazaré. Por que isso seria importante? Lembro-me aí do dramático evento naquele monte em Nazaré (Lc 4.29-30). Ali a morte de Jesus não era admissível: não naquele lugar, naquele momento e daquele modo. Ele haveria de morrer em Jerusalém, durante a festa da Páscoa e na cruz, conforme predisseram a lei e os profetas (Gl 3.13; Dt 21.23). Jesus sabia disso: ele já havia anunciado sua morte: “Como vocês sabem, estamos a dois dias da Páscoa, e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26.2). Prever a morte não é tão difícil, mas dizer quando, onde e exatamente como já requer bem mais. Jesus sabia aonde o seu caminho o conduziria, e a transfiguração foi como uma confirmação de que esta era a única via possível e correta para a reconciliação.
Prosseguindo no nosso texto, no versículo 4: “Então Pedro disse a Jesus: Senhor, é bom estarmos aqui. Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias”. Reação típica de Pedro: outra vez ele toma ousadamente a iniciativa e, contrariamente a todo o código de obras, ele quer remodelar o monte inteiro. Pedro não se prostra em adoração, como seria adequado naquela situação. Dos outros dois discípulos nem se fala. Obviamente, Pedro quer segurar-se na glória que ele experimenta ali. Ele deseja um paraíso na terra, mas isso nunca deu certo e também não foi prometido.
Até o fim, Pedro e os outros discípulos não entenderam bem a trajetória de sofrimento e salvação do seu Senhor. No entanto, isso não pretende ser uma acusação – creio que também nós, que temos em mãos a Palavra de Deus completa, não entendemos bem o que aconteceu e o que ainda acontecerá. Tal como em outras passagens da Escritura Sagrada, somos confrontados aqui com as debilidades humanas dos seguidores de Jesus. Na verdade, até me alegro com isso, já que me demonstra que não sou o único fracassado. E, acima de tudo, isso nos mostra que o importante não é ser perfeito no discipulado, mas sincero, honesto e fiel. E isso Pedro era. Sua intenção de erigir três tendas lembra muito fortemente práticas religiosas. Não tenho nada contra locais de adoração e de peregrinação, mas quando o que importa é apenas beijar uma pedra, acariciar a face de uma estátua ou quebrar um ramo de oliveira, então aquilo simplesmente está a quilômetros do evangelho. Jesus não quer tendas, mas o nosso coração. Deus não quer veneração de relíquias, mas obediência. Não precisamos ir até a Igreja da Natividade em Belém ou à Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém quando Deus está tão perto de nós. O que Deus quer é uma igreja viva e não uma catedral morta. Deus prefere dez adoradores sinceros em um depósito a 2.000 peregrinos apressados na Igreja do Santo Sepulcro.
Também é interessante notar que os discípulos não reconheceram apenas o Senhor Jesus transfigurado, mas também Moisés e Elias, embora obviamente nunca os tivessem visto. Não havia imagens deles, com certeza não portavam crachá nem uma rosa na lapela. Pedro, porém, nem pergunta quem seriam aquelas duas estranhas figuras, mas imediatamente as identifica como Moisés e Elias. Também aqui podemos sondar e tentar tirar conclusões. Seria possível que realmente nos reconheçamos na glória, que até reconheçamos irmãos que nunca vimos antes? Será que nós também reconheceremos Moisés e Elias? Reconheceremos os nossos parentes crentes? Sim, creio que nos reconheceremos, mas isso não quer dizer que necessariamente saibamos que aquele foi o meu pai e aquela a minha esposa, aquele outro o meu irmão irritante e esse o meu chefe injusto. Na glória seremos uma só grande família. Todos nos relacionaremos mutuamente e, principalmente, não sentiremos falta de nada. Trata-se de um lugar de eterna bem-aventurança (cf. Is 65.17s).
Reconheceremos os nossos parentes crentes? Sim, creio que nos reconheceremos.
Reconheceremos os nossos parentes crentes? Sim, creio que nos reconheceremos.
Em Mateus 17.5 lemos: “Enquanto ele ainda estava falando [Pedro com seu projeto de construção], uma nuvem resplandecente os envolveu...”. Nessa nuvem Deus está presente, que acaba com todas as ideias humanas e religiosas, e toma a palavra. E como já foi antes no batismo do Senhor Jesus, também aqui o Pai enfatiza e confirma sua autoridade e identidade: “Este é o meu Filho amado de quem me agrado. Ouçam-no!”. Isso é exatamente o que o Deus onipotente já havia ordenado de antemão ao povo de Israel por intermédio de Moisés: “O Senhor, o seu Deus, levantará do meio de seus próprios irmãos um profeta como eu; ouçam-no” (Dt 18.15). Por meio da transfiguração confirma-se agora que Jesus Cristo é esse profeta (cf. Jo 6.14). Pedro se equivocou tremendamente quando pensou poder nivelar Jesus, Moisés e Elias por meio da construção de tendas. Deus não disse de dentro da nuvem: “Este é um profeta especial”, mas: “Este é o meu Filho amado”. Em princípio, ainda poucos dias antes o próprio Pedro havia confessado essa posição especial do Senhor Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16).
Em última análise, Jesus não é ninguém menos que o próprio Deus! Tudo o que Deus diz aqui com toda a clareza lembra muito nitidamente as palavras de Deus em Isaías a respeito do Servo de Deus, que personifica o sacrifício sofredor e propiciatório (p.ex. Is 42). Se então encararmos essa via de salvação, também fica claro que o propósito de Pedro em erigir três tendas recebeu aqui uma inequívoca reprovação. Isso volta a demonstrar que Deus não se agrada de religiosidade. Com certeza a intenção de Pedro era boa, mas seu propósito é a via da religião e a necessidade era que Jesus fosse à cruz. É uma situação similar àquela em que Jesus falou da sua morte iminente e o mesmo Pedro disse: “Nunca, Senhor! Isso nunca te acontecerá!”, e Jesus respondeu rispidamente: “Para trás de mim, Satanás!” (Mt 16.22-23). A ida à cruz foi absolutamente necessária e forçosa. Nada deveria impedir Jesus – nem o Diabo, nem os discípulos. Por incrível e incompreensível que pareça, esta foi a irrevogável vontade de Deus, que seu Filho subisse ao madeiro da maldição – por você e por mim.
“Ouçam-no!”. Isto se dirige a todos os homens em todos os tempos e lugares. É a Jesus Cristo que devem ouvir, e somente a ele! Moisés e Elias sabiam que também a sua salvação dependia da paixão do Senhor Jesus. Por mais irracional que possa parecer, Elias e Moisés devem ter desejado acima de tudo que Jesus persistisse em sua ida ao Calvário e que completasse a obra do seu Pai. É que não se trata apenas da sua e da minha salvação, mas daquela do mundo inteiro. Sem a morte do Senhor na cruz, sem o seu sangue derramado e sem a sua ressurreição, também Moisés e Elias teriam ficado presos em seus pecados (cf. Jó 4.17; Rm 3.10). Todo homem precisa de uma morte vicária, e Jesus é esse nosso substituto, também para os homens da antiga aliança (cf. Hb 9.15; Rm 3.25-26). Para remir a nossa culpa, Deus permitiu que seu próprio Filho derramasse seu sangue na cruz. Até então, Deus havia suportado em sua paciência os pecados dos homens, para agora perdoá-los por amor de Jesus e assim demonstrar a sua justiça. Fica assim estabelecido que somente Deus é justo e que só absolverá de sua culpa aquele que crer em Jesus.
No versículo 6 lemos a reação dos discípulos: “Ouvindo isso, os discípulos prostraram-se com o rosto em terra e ficaram aterrorizados”. Ficaram estarrecidos diante da santidade de Deus. Creio que se fôssemos confrontados diretamente com a face de Deus, ou mesmo só com a sua voz, também estremeceríamos em reverência. Quanto mais ela destruirá intimamente o homem que não tiver salvação em Jesus Cristo! O mais duro dos homens se desfará diante da face de Deus e desejará acima de tudo se esconder. Como ficou o apóstolo João quando Deus revelou a ele as coisas futuras? “... ouvi por trás de mim uma voz forte, como de trombeta... Voltei-me para ver quem falava comigo. Voltando-me, vi... entre os candelabros alguém ‘semelhante a um filho de homem’... Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu fulgor. Quando o vi, caí aos seus pés como morto” (Ap 1.10-17). João já tinha visto muito ao longo da vida – a transfiguração, a crucificação, o Jesus ressurreto e sua ascensão. O que ainda poderia abalar esse homem? E ainda assim a santidade de Deus o faz cair como morto em reverência. Como são então consoladoras as palavras do Senhor que ele diz a João: “Então ele colocou sua mão direita sobre mim e disse: ‘Não tenha medo’” (Ap 1.17). Talvez naquele momento João tenha lembrado da transfiguração do seu Senhor e Salvador, porque também naquela ocasião Jesus havia encorajado os seus discípulos: “Mas Jesus se aproximou, tocou neles e disse: ‘Levantem-se! Não tenham medo!’” (Mt 17.7).
Em Jesus não precisamos ter medo do Deus capaz de destruir tanto a alma como o corpo no inferno (Mt 10.28). Em Jesus também não precisamos temer o mundo porque nele vencemos o mundo (1Jo 5.4-5). Essa palavra de Jesus é um consolo tanto para a vida presente como esperança para o futuro: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).
Com isso chegamos ao último versículo do nosso texto: “E erguendo eles os olhos, não viram mais ninguém a não ser Jesus” (Mt 17.8). Os três discípulos haviam subido o monte com o homem Jesus e ali foram testemunhas da sua divindade. Além disso, apresentaram-se diante deles os representantes máximos da lei judaica e dos profetas – Moisés e Elias. Os discípulos ouviram a assustadora voz de Deus e o testemunho vinculado a ela: “Este é o meu Filho amado de quem me agrado. Ouçam-no!”. Não tiveram coragem de olhar para cima, mas então sentiram as mãos do Senhor Jesus e ouviram sua voz que dizia: “Não tenham medo!”. É a mão cheia da graça de Deus que toca neles, e é seu apelo a confiar nele. Jesus nos permite levantar e até nos possibilita olhar para a face da glória de Deus.
Aqui, na transfiguração, coloca-se literalmente diante dos olhos dos discípulos aquilo que importa: eles não viram mais ninguém além de Jesus. Aonde se dirige o nosso olhar? Que o Senhor nos conceda também jamais perdermos de vista o essencial – a graça em Jesus Cristo tão somente! Amém!
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domingo, 18 de novembro de 2018

0 Evidência Inicial: Perspectiva Histórico-Bíblica sobre a doutrina Pentecostal do Batismo no Espirito Santo





SUMÁRIO

Dedicatória                                                         
Colaboradores                                                   
Introdução do Editor                                                

 A Evidência Inicial na Perspectiva Histórica

1.   A Evidência do Espírito: As Igrejas Primitivas e Orientais
Stanley M. Burgess
2.   A Evidência do Espírito: As Igrejas Ocidentais Medieval e Modernas
Stanley M. Burgess
3.   Edward Irving e o sinal permanente do Batismo no Espírito
David W. Dorries
4.   Línguas Iniciais na Teologia de Charles Fox Parham
James R. Goff, Jr.
5.   William J. Seymour e a evidência bíblica
Cecil M. Robeck, Jr.
6.   Hermenêutica Pentecostal Primitiva: Línguas como Evidência no Livro dos Atos Gary B. McGee
7.   Exposições Populares de Evidência Inicial no Pentecostalismo
Gary B. McGee
8.   A Evidência Inicial e o Movimento Carismático: Uma Avaliação Ecumênica
Henry I. Lederle

Parte II: A Evidência Inicial e o Texto Bíblico:

Quatro Perspectivas

9.      Alguns Novos Direcionamentos Hermenêuticos na Doutrina do Pentecostalismo
Clássico da Evidência Inicial
Donald A. Johns
10.    Um olhar Pentecostal Unicista da Evidência Inicial
Jimmy L. Hall
11.    Normal, mas não Norma: A Evidência Inicial e o Novo Testamento
Larry. W. Hurtado
12.    Evidências do Espírito, ou o Espírito como Evidência? Algumas Reflexões NãoPentecostais
Ramsey Michaels
Adendo à Reimpressão de 2008
Línguas Evidenciais: Um Ensaio sobre o Método Teológico
Robert P. Menzies
Índice Remissivo                                               .
Índice de Fontes Primitivas                                               .

INTRODUÇÃO DO EDITOR

Em 1969 um astuto observador do cristianismo ao redor do mundo, observou: “Quando falamos dos Pentecostais, não estamos lidando com uma ‘seita’ obscura, nascida quase setenta anos atrás numa pequena cidade do centro-oeste, mas lidando com um movimento que abraça o mundo inteiro. [...][1]
De fato, quando visto a partir de uma perspectiva internacional o Pentecostalismo pode agora ser considerado como o reavivamento mais influente do Século XX.[2] É interessante notar, entretanto, que poucos poderiam ter previsto na primeira década deste século que suas energias espirituais um dia agitariam as confortáveis pretensões de muitos cristãos sobre o ministério do Espírito Santo, acendendo uma significativa dispersão missionária, ou dominando a atenção de especialistas em crescimento de igreja além de muitos oficiais den minacionais das igrejas históricas. Aind , este movimento de renovação do Espírito superou barreiras raciais, culturais, e sociais, redespertando a vida da igreja focando na necessidade de todo crente de ser batizando no Espírito para o testemunho cristão, e encorajou o ministério dos dons do Espírito (1Co 12-14) dentro de muitas comunidades de fé.

No cenário norte-americano, ele veio a ser identificado com rótulos tais como, Apostólico,
Fé Apostólica, Assembleias de Deus, Igreja de Deus (Cleveland, Tennesse), Igreja de
Deus da Profecia, Igreja de Deus em Cristo, Comunhão das Assembleias Cristãs,
Evangelho Quadrangular, Evangelho Pleno, Estandarte Bíblia Aberta, Assembleias Pentecostais do Canadá, Holiness Pentecostal e Pentecostal Unido. A estes, poderíamos ter adicionado os nomes de milhares de congregações independentes.

A ocorrência do reavivamento no Bethel Bible School (Escola Bíblica Betel) em Topeka, Kansas, em janeiro de 1901, mergulhou o radical pregador holiness Charles F. Parham e seus seguidores num movimento de renovação que logo se espalhou por todo o centrooeste. Os reavivamentos subsequentes extraíram sua inspiração dos acontecimentos em Topeka, porém, mais notavelmente, do influente reavivamento da Rua Azusa, em Los Angeles. E a despeito das origens imprecisas do avivamento, a notícia se espalhou com uma velocidade surpreendente, especialmente depois de 1906. Apoiadores zelosos logo anunciaram a notícia de que a “chuva serôdia” pentecostal estava sendo derramada nos últimos dias antes do retorno iminente de Cristo, tal qual o profeta veterotestamentário Joel havia predito (Jl 2:28-29). Reavivamentos importantes no País de Gales (1904), na Índia (1905) e na Coréia (1907) foram considerados exemplos comparados com a chuva de poder do Espírito Santo que os crentes logo relataram de lugares tão distantes como o Chile, a África do Sul, Estônia, Alemanha, Escandinávia e Inglaterra. Os participantes no movimento incipiente testemunharam receber o batismo do Espírito exatamente como os cristãos primitivos tinham no livro de Atos.

Para os primeiros pentecostais, a igreja do Novo Testamento em todo seu poder apostólico e pureza estava sendo restaurada. A edição de setembro de 1906 de The Apostolic Faith [A Fé Apostólica], publicada por líderes na missão da Rua Azusa, de onde o jovem movimento começou a adquirir dimensões internacionais, anunciou animadamente que “o Pentecostes certamente veio e com ele as evidências bíblicas estavam se seguindo, através de muitos sendo convertidos, santificados e cheios do Espírito Santo, falando em línguas como aconteceu no dia de Pentecostes […] e o verdadeiro avivamento apenas começou[3]. De fato, em apenas algumas décadas, o pentecostalismo provou ser uma força espantosa e vigorosa na cristandade, surpreendendo por seus notáveis sucessos na evangelização.

As raízes históricas do pentecostalismo são atribuídas a John Wesley e John Fletcher, que sustentavam que cada crente deveria ter uma experiência pós-conversão de graça. Os defensores Holiness wesleyanos definiram isso como a santificação do crente, proporcionando a libertação do defeito na natureza moral que provoca o comportamento pecaminoso. Os cristãos, portanto, poderiam espelhar o “perfeito amor” de Jesus, tendo recebido uma perfeição de motivos e desejos (1 Co 13). Rotulado como o batismo no Espírito Santo (a “segunda bênção”), ele elevou os cristãos a um patamar de maturidade espiritual (gradualmente ascendente). Seguidores da controversa marca da santidade do batismo pelo Fogo consideraram três exp riê cias de graça, com o segund          para a santificação e o terceiro (batismo do Espírito Santo e fogo) para a capacitação espiritual. Alguns da tradição Reformada, no entanto, discernindo a santificação como um processo ao longo da vida, definiram a experiência subsequente (batismo no Espírito Santo) equiparando-a com poder para o testemunho cristão.


Enquanto muitos adotaram vários tons de teologia holiness no século XIX e professaram ser “santificados”, surgiram naturalmente perguntas sobre as “evidências” (tanto internas quanto externas) dessa experiência.

Quando Parham e seus alunos de Topeka testemunharam falar em línguas (ou seja, xenolalia [línguas estrangeiras não-aprendidas]), eles acreditavam ter encontrado a solução para a questão da evidência, tendo sido providos com línguas estrangeiras para agilizar a evangelização do mundo. Junto com as línguas veio um amor maior pelos perdidos, bem como a capacitação para testemunhar. Tendo discernido um paradigma para a expansão da igreja no livro de Atos, os pentecostais concluíram que os dados bíblicos confirmam a necessidade de línguas (mais tarde consideradas por muitos como sendo glossolalia). Embora Marcos 16:17-18 e 1 Coríntios 12-14 também tenham servido como fontes vitais no desenvolvimento da teologia pentecostal, o apelo ao “padrão” no livro de Atos permaneceu primordial, fornecendo o modelo apostólico para este movimento mundial.

O pentecostalismo, portanto, é certamente mais do que as designações de seus seguidores, a composição sociológica de seus constituintes, o misto de políticas que caracterizam suas estruturas organizacionais e o culto entusiástico que marcou seus ajuntamentos. Independentemente de outras características que possam ser legitimamente citadas, não se pode compreender inteiramente a dinâmica subjacente ao movimento sem examinar o seu ritmo espiritual: o núcleo enfatiza o batismo no Espírito Santo e “sinais e maravilhas” (exorcismos, curas, profecia, línguas e interpretações, palavra de conhecimento, etc.). Para milhões de pentecostais, o batismo do Espírito significa capacitação para o testemunho cristão; e uma grande parte deles insiste em que esta obra da graça deve ser acompanhada do falar em línguas como exemplificado pelos primeiros discípulos em Atos 2, 10 e 19. De fato, as oportunidades de liderança em muitas denominações pentecostais e congregações locais são frequentemente oferecidas apenas para àqueles que tiveram a experiência com a glossolalia, talvez marcando o único momento na história cristã, quando este tipo de experiência carismática foi institucionalizada em uma escala tão grande.

Deste ponto de vista, a glossolalia representa uma “linguagem de espiritualidade experiencial, em vez de teológica[4], catalisando um despertamento mais profundo da orientação e dos dons do Espírito na consciência do indivíduo para glorificar a Jesus Cristo e construir sua igreja. Como então a teologia pentecostal e a teologia evangélica diferem? Obviamente, eles compartilham muitas crenças: a confiança na credibilidade e autoridade das Escrituras, a compreensão forense da justificação pela fé, a Trindade (com exceção do Pentecostalismo Unicista), o nascimento virginal, a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, bem como outras doutrinas-padrão da igreja primitiva, a Reforma Protestante e, mais tarde, ao reavivamento Protestante. As crenças pentecostais sobre o batismo do Espírito e as manifestações contemporâneas dos dons do Espírito, no entanto, geralmente se recusaram a encaixar confortavelmente dentro dos limites racionalistas de grande parte da  teologia e da espiritualidade evangélica.
 
Além disso, os pentecostais precisam envolver-se em mais reflexão teológica para explorar todas as dimensões da obra do Espírito Santo na teologia bíblica, corrigindo a dimensão negligenciada do ministério do Espírito na teologia cristã[5]. É que os pentecostais foram levados por uma urgência escatológica de evangelizar e dedicaram pouco tempo ou interesse em discussões acadêmicas de teologia. Com notáveis exceções nos últimos anos, eles geralmente deixaram uma exposição bíblica e teológica sob a responsabilidade de outros estudiosos evangélicos, confiantes na integridade desses homens ao lidar com as questões cotidianas, mas assumindo ingenuamente que os ensinamentos pentecostais poderiam ser facilmente integrados com algumas dessas formulações sem minar as crenças do pentecostalismo. Ainda mais prejudicial, ao negligenciar a reflexão e a pesquisa, bem como ao continuar a enfatizar a experiência pessoal acima da pesquisa acadêmica, os pentecostais permitem que um anti-intelectualismo subjacente continue a minar a força do movimento.

Assim como a qualidade da vida humana é aprimorada pela nutrição e pelo exercício, a continuidade da vitalidade das doutrinas-chave (ex., o batismo no Espírito Santo) nas comunidades de crentes é sustentada através do estudo contínuo das Escrituras e da reflexão teológica, além da prática da piedade. Vários fatores importantes, portanto, estão por trás da publicação desta coleção de ensaios.

Primeiro, o papel da glossolalia no batismo do Espírito permaneceu um ponto de controvérsia ao longo dos anos. Enquanto isso, os historiadores obtiveram mais clareza sobre movimentos carismáticos do passado. e examinaram novamente as perspectivas teológicas das figuras imponentes do Pentecostalismo primitivo tais como Charles F. Parham e William J. Seymour, ao passo que também estudaram o desenvolvimento dos ensinamentos distintivos do Pentecostalismo e os pontos de vista dos carismáticos – os parentes mais próximos dos pentecostais – sobre o papel da glossolalia na vida do crente. Além disso, uma nova geração de estudiosos bíblicos pentecostais aborda sua tarefa com um conhecimento muito mais teológico e exegético do que seus antepassados, sem diferenciar necessariamente as marcas da doutrina. Por conseguinte, esses estudos podem enriquecer a autocompreensão doutrinária do movimento pentecostal.

Segundo, enquanto as declarações confessionais da maioria das denominações e agências pentecostais citam as línguas como a evidência inicial do batismo no Espírito, a prática real de falar em línguas diminuiu dentro das fileiras. O estatístico David B. Barrett sugere que somente 35% de todos os membros das denominações pentecostais realmente falaram em línguas ou a continuaram como uma experiência contínua[7]. Se essa porcentagem é apenas remotamente precisa, ela ainda demonstra uma certa ambivalência sobre a natureza constitutiva das línguas mesmo dentro das fileiras do clero, a hesitação foi detectada – uma pesquisa recente de ministros dentro das Assembleias Pentecostais do Canadá encontrou:

Um grupo de ministros pentecostais está emergindo, que é visivelmente diferente da norma tradicional. Eles têm 35 anos ou menos e são bem educados nas áreas de teologia. Eles basicamente afirmam todas as doutrinas importantes, mas são menos dogmáticos em seu apoio a eles. Por exemplo, alguns del s ão insistiriam que alguém nã       é cheio do Espírito, a menos que ele ou ela tenha falado em línguas.

E de importância considerável é o fato de que os líderes da igreja nas denominações como as Assembleias de Deus (EUA), Igreja de Deus (Cleveland, Tennesee) e Igrejas Bíblia Aberta têm achado necessário ao longo dos anos instar seus ministros a permanecer fiéis na pregação e no ensino da indispensabilidade do batismo pentecostal com a evidência do falar em línguas para cada crente.

Ao analisar o impacto do pentecostalismo primitivo sobre a recente renovação carismática nas igrejas, o historiador H. Vinson Synan observa que “embora a maioria dos novos pentecostais não tenha adotado a teologia da evidência inicial de Parham, tendiam a orar e a cantar em línguas de modo ainda mais ardente do que os seus antigos irmãos e irmãs pentecostais clássicos”.[9] Pode-se concluir que os pentecostais tradicionais, portanto, se tornaram frios espiritualmente e precisaram ser ressuscitados. Embora esta possibilidade não deva ser ignorada, o registro da história da igreja demonstra que a certeza doutrinal também diminui quando questões cruciais não são respondidas de maneira adequada. Ironicamente, as doutrinas podem então deixar de ser sinalizadores de vitalidade espiritual e teológica para “chiboletes” de aceitação, servindo novas e potencialmente decisivas funções dentro do corpo de Cristo.

O perigo do engessamento doutrinário é ilustrado a partir de um relato do famoso missionário jesuíta, Matteo Ricci (1552-1610). De acordo com um historiador, quando Ricci e sua comitiva chegaram à China, eles mal encontraram um traço de cristianismo deixado do trabalho de missionários anteriores. Quando Ricci ouviu falar de pessoas que adoravam a cruz, foi-lhe dito que “nem mesmo os que o adoravam sabiam por que o fizeram, só que sobre tudo o que comiam ou bebiam, faziam uma cruz com o dedo”.[10] Embora os detalhes desta história estejam incompletos, eles advertem diretamente sobre o perigo da forma que ultrapassa o significado. A probabilidade da glossolalia desaparecer completamente ou sobreviver somente na forma – a trágica paródia dos crentes recitando sílabas glossolálicas sem a exibição do fruto e do poder do Espírito em suas vidas – deve trazer a cada pentecostal alguma hesitação. Felizmente, os dons da erudição podem fornecer discernimento sobre o batismo do Espírito que podem melhorar a nossa compreensão desta pedra angular da crença e da experiência pentecostais.

Terceiro, a maior parte do mundo eclesiástico sabe pouco deste distintivo pneumatológico. A maioria dos cristãos não acredita numa experiência pós-conversão do Espírito Santo e provavelmente não está familiarizado com o ensino. Eles também podem não estar cientes de que milhões de crentes em todo o mundo, compreendendo um enorme setor do cristianismo contemporâneo, professam fervorosamente que o batismo do Espírito será inevitavelmente sinalizado por declarações glossolálicas – denotando um fator crucial em sua ligação espiritual e comunhão ecumênica única. Espera-se que esses ensaios históricos e bíblicos ajudem os observadores externos a compreender a dinâmica espiritual deste movimento em rápido crescimento e a compreender melhor as questões que se relacionam com seu ensino mais distintivo.


Explorar a doutrina pentec stal do batism do Espírito e as evidênci s iniciais requer cuidadosa reflexão e avaliações honestas de sua formulação histórica, bem como dos imperativos fundamentos exegéticos. Por esta razão, os contribuintes deste volume apresentam uma variedade de opiniões, particularmente nos ensaios bíblicos. Todos os escritores vêm de um contexto pentecostal, com exceção de David W. Dorries (Batista do Sul), Henry I. Lederle (Reformado) e J. Ramsey Michaels (Batista Americano). Cada um foi convidado a expressar livremente as conclusões de sua própria pesquisa; por essa razão, as opiniões não representam necessariamente as de outros contribuintes, do editor ou do publicador.

A primeira unidade do livro concentra-se no desenvolvimento histórico da doutrina. Apesar da orientação restauracionista do pentecostalismo, os apologistas pentecostais, começando por Charles Parham, se voltaram rapidamente para as páginas da história da igreja para se identificarem com os predecessores movimentos carismáticos dos Montanistas aos Irvingitas[11]. Em dois capítulos, Stanley M. Burgess avalia os históricos precedentes de vínculos com o pentecostalismo moderno. David W. Dorries examina a pneumatologia de Edward Irving, uma figura significativa do século XIX que testemunhou um renascimento do charismata, incluindo as línguas, que Irving viu como o “sinal permanente” do batismo do Espírito. James R. Goff Jr., por sua vez, fornece uma visão perspicaz da evolução teológica de Charles F. Parham. Com suas amarras pré-milenistas e sua confiança em línguas xenolálicas como prova do batismo no Espírito Santo, Parham imaginou a rápida evangelização do mundo. Ao traçar essa conexão entre o batismo do Espírito, as línguas e a escatologia, ele moldou o curso do movimento pentecostal, embora a influência real de sua liderança em outros aspectos diminua rapidamente. Não obstante, a importância de William J. Seymour, pastor da Missão de Fé Apostólica na Rua Azusa em Los Angeles, rivaliza com o de Parham. Cecil M. Robeck, Jr., revisa cuidadosamente os passos da peregrinação espiritual de Seymour e os contornos de seus pensamentos sobre as evidências iniciais.

Meu primeiro capítulo examina as maneiras pelas quais os primeiros pentecostais, de acordo com o precedente hermenêutico de outros restauracionistas, olharam para o livro de Atos para a verdade teológica. Através de sua análise de passagens-chave, Atos tornou-se um modelo de fé e prática. Embora os pentecostais tenham chegado a conclusões diferentes sobre a importância da glossolalia no batismo no Espírito, aqueles que alegaram que Lucas está ensinando evidências iniciais (através de implicações) em sua narrativa, desafiaram as perspectivas tradicionais sobre a interpretação bíblica moldada pela escolástica protestante. O capítulo seguinte permite que os apologistas pentecostais precedentes falem por si mesmos e contenham excertos de uma variedade de publicações. Finalmente, Henry I. Lederle levanta perspectivas carismáticas sobre a questão e apela ao diálogo entre os pentecostais e os carismáticos para encorajar uma maior unidade no corpo de Cristo – um objetivo lógico dado ao seu estreito parentesco.

A segunda unidade inclui quatro ensaios exegéticos sobre a evidência inicial por diferentes ângulos. O capítulo de Donald A. John contém uma análise contemporânea e pentecostal clássica da doutrina e oferece alguns caminhos-chave hermenêuticos que devem ser considerados para um estudo mais aprofundado. A visão do batismo do Espírito ensinada por muitos (mas não por todos) dentro da grande família do Pentecostalismo Unicista é fornecida por J. L. Hall[12]. Não adotando  batismo no Espírito Santo com subsequente à conversão, Hall liga o evento ao arrependimento do pecado e ao batismo em água na salvação do crente. O capítulo de Larry W. Hurtado, ao mesmo tempo em que defende as manifestações atuais dos dons do Espírito, desafia os fundamentos bíblicos de uma obra de graça subsequente e a afirmação de que as línguas devem acompanhá-la. Ele sugere que a glossolalia pode ser normal na vida dos cristãos, mas não deve ser esperada para todos. Finalmente, J. Ramsey Michaels, olhando para o debate à partir da posição de um não-pentecostal, expressa calorosamente o apreço pelo testemunho do pentecostalismo do poder do Espírito. Ele sugere, no entanto, que ao invés de apelar a um fenômeno particular como prova (ex., glossolália), os escritores do Novo Testamento afirmaram a posse do Espírito pelos cristãos como a evidência empírica para a realidade de Deus e seu funcionamento em indivíduos e Comunidades de crentes.

Esses ensaios, sem dúvida, desencadeiam muitas respostas. A fé e os pressupostos de alguns serão confrontados com descobertas históricas recentes ou oposição a exposições bíblicas da doutrina. Outros, no entanto, podem descobrir um novo significado para suas experiências carismáticas de glossolalia, ou talvez possam ser forçados a reconsiderar suas suposições sobre o batismo do Espírito. Em todo caso, se este exame limitado do batismo pentecostal e da doutrina da evidência inicial suscitarem mais discussões, diálogo, pesquisa e melhor entendimento dentro do corpo de Cristo, terão abundantemente cumprido seu propósito.
Tradução: Ícaro Alencar
[1]  P. Damboriena, S. J. Tongues as on Fire: Pentecostalism in Contemporary Christianity
[Línguas como que de Fogo: O Pentecostalismo no Cristianismo Contemporâneo], (Washington, D.C.: Corpus Book, 1969), vii.
[2]  E. E. Cairns, An Endless Line of Splendor: Revivals and their Leaders from the Great Awakening to the Present [Uma Linha Infinda de Esplendor: Avivamentos e seus Líderes do Grande Despartamento ao Presente], (Wheaton: Tyndale House Publishers, 1986), 177;
G. B. McBee, “The Azusa Street Revival and 20th Century Missions” [O Avivamento da
Rua Azusa e as Missões Mundiais do Século XX], International Bulletin of Missionary Research 12 (Abril de 1988): pp. 58-61.
[3]     Pentecost Has Come [O Pentecostes Chegou], Apostolic Faith (Los Angeles), Setembro de 1906, 1.
[4]     Para uma breve descrição dos movimentos pentecostais e carismáticos, suas semelhanças e diferenças, bem como as tensões entre eles, veja S. M. Burgess, G. B. McGee, e P. H. Alexander, The Pentecostal and Charismatic Movements [Os Movimentos
Pentecostal e Carismático], Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (Grand Rapids: Zondervan, 1988), DPCM, 1-6.
[5]     Para uma discussão detalhada, veja P. A. Pomerville, The Third Force in Missions [A Terceria Força em Missões], (Peabody, Mass.: Hendrickson, 1985), 79-104.
[6]     Para uma descrição do Pentecostalismo clássico, veja H. V. Synan, “Classical Pentecostalism” [Pentecostalismo Clássic ], DPCM, 219-21. Veja também Gary B. McGee,
“The Indispensable Calling of the Pentecostal Scholar” [O Chamado Indispensável do Edurito Pentecostal], Assemblies of God Educator 35 (Julho a Setembro de 1990): 1,3-5, 16.
[7]     D. B. Barrett, “Statistics, Global” [Estatísticas, Globais] DPCM, 820.
[8]     C. Verge, “Pentecostal Clergy and Higher Education” [O Clero Pentecostal e a
Educação Superior], Eastern Journal of Practical Theology [Revista de Teologia Prática
Oriental], (Eastern Pentecostal Bible College, Peterborough, Ontário, Canadá) 2 (Primavera de 1988): 44.
[9]     H. V. Synan, “The Touch Felt Around the World” [O Toque Sentido ao Redor do Mundo] Charisma (Janeiro de 1991), 85.
[10]  A. C. Moule, Christians in China Before the Year 1550 [Cristãos na China antes do Ano de 1550], (New York: Macmillan, 1930), 4.
[11]  C. F. Parham, A Voice Crying in the Wilderness [Uma Voz Clamando no Deserto],
(Baxter Springs, Kan.: Apostolic Faith Bible College, reimpr. da 2ª ed., 1910), 29; B. E
Lawrence, The Apostolic Faith Restored [A Fé Apostólica Restaurada], (St. Louis: Gospel Publishing House, 1916), 32-37; S. H. Frodsham, With Signs Following [Com os Sinais que se Seguiram] (Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1926), pp. 230-36.
[12]  J. L. Hall, The United Pentecostal Church and the Evangelical Movement [A Igreja
Pentecostal Unida e o Movimento Evangélico], (Hazelwood, Mo.: Word Aflame Press,
1990); para crentes unicistas (“Apostólicos”, “Pentecostais”) sem relação com a Igreja
Pentecostal Unida Internacional, consulte Clarion, a publicação oficial do Apostolic World Christian Fellowship [Comunidade Cristã Apostólica Mundial ] com sede em South Bend, Indiana.


 

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