Postarei para a edificação
do povo de Deus uma série de cinco estudos bíblicos sobre o risco do calvinismo
exacerbado, no que concerne a soteriologia bíblica. Claro que não concordo com
Armínio em 100% nem com Calvino na mesma proporção, mas acredito que a
interpretação arminiana no que concerne a salvação, eleição, predestinação e
depravação total da raça humana é mais bíblica e aceitável do que a calvinista.
Apreciem essa série e tirem suas conclusões. Esse estudo não é de minha
autoria, por isso estou citando as devidas fontes, como sinal de respeito aos
autores.
João Augusto
de Oliveira
A
Heresia do Monergismo
Se
o Calvinismo pudesse ser descrito em apenas um termo, este
seria Monergismo. O termo vem do grego mono, que significa “um”,
e erg, que significa “trabalho”, e descreve a noção de que a salvação
sofre influência de apenas um agente, a saber, Deus. Conforme R. C.
Sproul, “Uma obra monergística é um trabalho produzido individualmente, por uma
pessoa… Uma obra sinergística é aquela que envolve cooperação entre duas ou
mais pessoas ou coisas”.
Ao
passo em que certamente há um sentido em que a bíblia ensina que Deus é o único
agente a efetuar a salvação, o Monergismo falha ao negar que os seres humanos
são capazes de cooperar no processo de regeneração e salvação [ver
nota 1].
O
Monergismo surge do fato de que os calvinistas sentem-se profundamente
desconfortáveis em reconhecer qualquer sinergia entre a vontade divina e a
vontade humana. Sem dúvida, um calvinista dirá que quando um homem ou uma
mulher parecem cooperar com Deus, isso deve-se ao fato do Senhor ter
primeiramente pré-determinado que ele ou ela assim fizesse, preservando desta
forma o sentido no qual apenas um agente é operante.
Alguns
Calvinistas ensinam que o Monergismo só se aplica à regeneração, e que a
santificação é sinergística. O Batista Reformado Andrew Naselli expressou esta
opinião quando escreveu: “Uma visão monergística de regeneração é bíblica,
mas uma visão monergística de santificação não é”. Outros professores têm sido
mais globalistas em suas aplicações do Monergismo, estendendo-o a todos os
níveis do caminhar cristão. Por exemplo, um professor Calvinista que eu tive
(que pode ser considerado um moderado) foi bem longe ao afirmar que eu nem
sequer tenho livre arbítrio quando se trata de decidir se quero mel ou geleia
de framboesa na minha torrada pela manhã, porque qualquer escolha que eu faço
resulta da vontade/ação prévia de Deus em fazer a escolha para mim. Não há
sinergia real entre o divino e o humano, pois Deus continua a ser o único
agente que verdadeiramente pratica a ação.
O
Monergismo não é totalmente ruim, pois decorre de pelo menos três bons impulsos
teológicos. Primeiro, ele leva a sério o fato de que Deus está no controle
completo de tudo o que acontece (Mateus 10:29). Segundo, ele leva a sério o
fato de que não podemos ganhar a nossa salvação pelas obras, e nunca teremos
nada do que nos gloriar diante de Deus (Romanos 3:27). Em terceiro lugar, o
Monergismo reconhece que todo o bem que fazemos é Deus que opera em nós
(Filipenses 2:13). A questão onde o Monergismo precisa ser criticado é quando
toma essas verdades e as formaliza em um sistema rígido, agregando mais
extrapolações que acabam excluindo importantes ensinamentos bíblicos sobre o
papel da cooperação humana no processo de salvação.
Curiosamente,
a primeira coisa que alertou minha esposa e eu para os problemas em uma
abordagem monergística, foi quando vimos como ela tingiu diversas áreas práticas
da vida cristã. Repetidamente nós estávamos vendo que a mentalidade
monergística define essencialmente a relação entre Deus e o homem (bem como a
graça e a natureza) como duas transações em um jogo de soma zero. Em um
jogo de soma zero, os ganhos de um lado sempre se correlacionam com as perdas
do outro lado. Assim, por exemplo, a mentalidade Monergística sente que se
demasiada liberdade ou eficácia é concedida ao homem ou à natureza, então muito
menos liberdade, soberania ou glória sobram ao próprio Deus. O resultado disso
é em parte análogo ao tipo de dualismo Apolinariano discutido por Colin Gunton
em Yesterday and Today: A Study of Continuities in Christology ou
ainda por Demetrios Bathrellos em The Byzantine Christ. Os Apolinarianos
“não podiam conceber a coexistência e cooperação entre as naturezas divina e
humana e vontades em Cristo que respeitariam a particularidade e a integridade
de ambas” (Bathrellos, p.15). O desconforto Apolinariano em preservar a
particularidade e a integridade do ser humano é ecoado repetidamente em
tratamentos Calvinistas da relação entre o humano e o divino. Por exemplo, no
livro de James White Debating Calvinism, ele argumenta que “o primeiro
elemento do ensino bíblico sobre o Monergismo é a liberdade absoluta de Deus.”
Porque para que Deus seja verdadeiramente livre, Ele deve ser a única energia
operativa.
Da
mesma forma, no clássico Chosen by God, R.C. Sproul chega ao ponto de
afirmar que qualquer coisa diferente do Monergismo faz de Deus menos do que
Deus. Nesta esquema, o Monergismo não é somente a verdade, mas é
necessariamente a verdade, por isso não é mais possível para Deus criar um
universo não-monergístico do que é possível para Ele deixar de ser Deus.
Ironicamente, isso destina-se a libertar Deus, embora, na verdade, acaba por
limitá-lo de forma significativa. Como David Bradshaw observou, sobre
este ponto de vista, a interpretação Agostiniana da predestinação não só é
verdade, mas é necessariamente verdade, pois Deus não poderia criar criaturas
que são capazes de afetar, de alguma forma, os seus julgamentos a respeito da
salvação e danação. No entanto, a posição Agostiniana começou precisamente como
a tentativa de exaltar a vontade divina sobre toda necessidade …. Foram
problemas como esses que levaram Pascal a exclamar que o Deus dos filósofos não
é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O Deus Agostiniano-Tomista, que é
perfeitamente simples e totalmente efetivo, parece estar bloqueado dentro de
uma caixa a partir da qual ele não pode escapar para interagir de forma
significativa com as suas criaturas.
Por
outro lado, São Máximo, o Confessor, argumentou que, porque os seres humanos
são feitos à imagem de Deus, eles possuem o mesmo tipo de poder de
auto-determinação de Deus. “Com respeito a maneira em que a auto-determinação
deve ser entendida, é digno de nota que, para Maximus, a base e o arquétipo da
autodeterminação do homem é a auto-determinação de Deus. Como vimos, Maximus
argumentou que o homem é auto-determinante, porque ele é feito à imagem da
divindade, que é auto-determinante …” (Bathrellos, p. 167).
Monergismo
e Oração
Uma
área prática da vida cristã onde nós percebemos este jogo foi na oração.
Enquanto frequentava igrejas calvinistas, eu frequentemente me deparei com a
ideia de que a oração na verdade não muda as coisas. Isso ressurgia
constantemente em conversas que tive com Calvinistas novatos ou mais velhos
sobre a bênção dos alimentos que ingerimos. Ninguém estava sempre disposto a
admitir que, quando pedimos a Deus que abençoe o alimento, nada realmente
acontece como resultado da oração. Uma pessoa me disse que se a oração fez uma
diferença real, então Deus não seria verdadeiramente soberano e as nossas
orações, portanto, seriam uma “obra”.
Em
acordo com este quadro, na igreja Calvinista que participei por cinco anos, não
lembro-me de nenhuma vez ver o pastor orando e pedindo ao Senhor para abençoar
a Eucaristia antes de administrá-la, embora a igreja se considerasse litúrgica
e sustentasse uma elevada visão da Eucaristia. James Jordan vai ainda mais
longe e declara que “No fato de nos recusarmos a consagrar o pão e o
vinho, afirmamos que a graça do sacramento vem do Espírito, o Senhor que dá a
vida.” Mais uma vez, esta é a mentalidade de um jogo de soma zero, que
pressupõe que qualquer papel que desempenhamos (mesmo uma oração de
consagração) deve necessariamente subtrair da fatia do bolo de Deus.
Esta
abordagem Monergística à oração permeia inúmeros livros e artigos de autores
calvinistas ao tratarem sobre a oração. Por exemplo, na argumentação de Arthur
Pink sobre a oração em seu livro The Sovereignty of God, ele protesta
violentamente contra um artigo sobre a oração em que o autor havia declarado
que “a oração muda as coisas, o que significa que Deus muda as coisas quando os
homens oram.” O Calvinista Joseph Wilson argumentou de forma semelhante em seu
artigo “Does Prayer Change Things?” (1991) Ele escreveu: “Nenhum homem pode
crer na gloriosa doutrina bíblica da predestinação absoluta, e acreditar que a
oração muda as coisas. Os dois são incompatíveis. Eles não andam juntos. Se uma
é verdadeira, a outra é falsa. Se a predestinação é verdade, segue-se, como a
noite segue o dia, que a oração não muda as coisas.” O Calvinista David West
fez o mesmo ponto: “A oração não muda as coisas, nem muda a Deus ou a Sua
mente.” Da mesma forma, o calvinista Dan Phillips comenta, “a oração não muda
as coisas.”
Monergismo
e Ministério Pastoral
A
ideia Monergísta de que “tudo tem que ser 100% Deus” pode levar o dever cristão
normal a uma condição de atrofia. Uma das expressões mais desanimadoras disso é
quando se retira a prioridade de ajudar aqueles que se desviam da fé, uma vez
que se a pessoa é eleita podemos ter certeza de que Deus vai trazê-la de volta,
mas se não for eleita não há nada que possamos fazer de qualquer maneira.
Alguns
Monergistas que eu conheço me disseram que, porque tudo é 100% Deus (ou seja,
não há sinergia divina/humana na obra), a única maneira de ajudar as pessoas
com problemas é pregar para elas e deixar que Deus faça o resto. Quando um
Monergista diz: “só Deus pode executar uma mudança no coração dessa pessoa”,
nove em cada dez vezes ele quer dizer “só Deus, independente de qualquer
instrumentalidade humana, pode mudar o coração dessa pessoa.” Na prática, isso
significa que temos de sentar, “relaxar e deixar Deus agir.”
Alguns
calvinistas mais antigos que conheci têm apelado para princípios Monergistas ao
explicar por que devemos ficar longe de disciplinas como a psicoterapia. Quando
a instrumentalidade humana está envolvida, há sempre a suspeita de que o homem,
em vez de Deus, está no trabalho. Isso encontra expressão na noção comum de que
a única maneira de ajudar uma pessoa perturbada é pregar para ela e, em
seguida, deixar que Deus faça o resto. Tal ponto de vista é o alicerce de um
tipo de aconselhamento praticado em muitas igrejas reformadas conhecido
como Aconselhamento Noutético.
Eu
tenho utilizado alguns exemplos extremos para ilustrar o meu ponto sobre os
problemas do Monergismo. No entanto, esses mesmos princípios são geralmente
assumidos ou estão implícitos até nos escritos de calvinistas convencionais.
Por exemplo, um tratamento padrão dos calvinistas com respeito ao problema do
mal é afirmar que Deus não é responsável pelo mal moral precisamente porque
todo o pecado que Ele preordenou vem a acontecer através de causas secundárias.
Este argumento básico permeia a maioria das teodiceias calvinistas.
Entretanto, as implicações dessa compreensão da relação de Deus com o mundo vão
muito longe. Eu comecei a perceber que esta teodiceia era problemática quando o
grupo dos homens na nossa antiga igreja estava estudando um livro no qual um
autor calvinista afirma que um problema com a visão libertária do livre
arbítrio é que ela faz de Deus diretamente responsável ??por nossas más
decisões, pois o mal aconteceria através da causalidade primária de Deus.
Agora, independentemente se esta é uma implicação legítima da posição
libertária, ela implica claramente que Deus não é responsável pelos atos que
Ele realiza através de meios, e que Ele só pode obter o crédito para o que Ele
faz direta e imediatamente. Mas, tão logo afirmamos que a razão pela qual Deus
não é responsável pelo mal é porque a Sua predeterminação do mal ocorre através
de meios, temos de entender que sempre que Deus trabalha através de meios, a
responsabilidade pelo que é feito recai sobre outros agentes, ou seja, a
criatura. No entanto, se o crédito vai para a criatura para qualquer coisa que
Deus realiza através de meios, então ficamos com um sistema em que podemos
tomar o crédito para a maioria dos atos que Deus realiza neste mundo, uma vez
que Deus realiza a maioria das coisas através de meios.
Leve
isso para fora da esfera da teodiceia e aplique no domínio do cuidado pastoral,
e veja o que acontece. Se o nosso paradigma básico é que o crédito vai para a
criatura para qualquer coisa que Deus realiza através de meios, então é claro
que desejaremos ter uma abordagem hands-off (sem interferência)
quando se trata de socorrer as pessoas, para não reduzir a glória que Deus toma
para Sí. Somente quando Deus age Out of the Blue (inesperadamente,
independentemente) na vida de alguém, e não através de instrumentos humanos
visíveis, Ele toma a glória para Sí, pelo menos, se seguirmos a lógica desta
argumentação.
(Para
mais discussões sobre a busca evangélica para eliminar instrumentalidade,
consulte os artigos ‘Is Will-Power Good or Bad?’ e ‘B.B. Warfield and the
Quest for Immediacy’ e ‘8 Gnostic Myths You May Have Imbibed.’)
Fazer
da salvação uma coisa 100% de Deus (sem a cooperação sinergística) parece, à
primeira vista, ser uma doutrina libertadora, assim como a insistência do
calvinismo de que você nunca pode perder a sua salvação. Fui ouvinte de muitos
sermões calvinistas em que o pastor quis declarar o quão libertador é saber que
você vai perseverar até o fim. No entanto, este ensinamento sobre perseverança
vem com um ônus pesado. No lugar de ser capaz de perder a sua salvação, o
calvinismo apresenta a possibilidade de que você pode não ser realmente um dos
eleitos. Se pressionado sobre a questão de como se pode saber se ele ou ela
está entre os eleitos, um bom calvinista dirá, ou intencionará dizer: (1) “não
pense nisso”; ou (2) ele vai mandar a pessoa se consolar com o fruto de sua
vida. A primeira opção é uma evasiva, pois que conforto pode haver em um
sistema que proclama: “Vocês são eleitos de Deus, mas não fique insistentemente
pensando se o que eu estou dizendo é verdade.”? A segunda opção — ter confiança
nos frutos da vida — é apenas semanticamente diferente daquelas modalidades
para as quais o calvinismo afirma ser uma alternativa. Em um sentido funcional
(despojado de metafísica), ele coloca a salvação em nossas próprias mãos, tanto
quanto em Deus. E como alguém pode saber se esse “fruto” é autêntico ou
suficiente para ser uma indicação clara de eleição?
Monergismo
e Livre Arbítrio
Quando
minha esposa e eu começamos a observar as deficiências práticas de Monergismo,
nós paramos para repensar todo o paradigma. Vimos que o nosso Calvinismo tinha
criado uma dualidade entre a graça e a natureza, a soberania e a liberdade, o
divino e o humano, como se estivessem relacionados tal qual duas equipes em um campo
de futebol americano. Se uma equipe controla quarenta dos cem metros, então, a
outra equipe necessariamente controla os outro sessenta. Quando este é o nosso
paradigma básico, claro que nós sempre tentaremos definir as coisas de modo que
ele será 100% Deus e 0% de homens.
A
alternativa, no entanto, é afirmar que ele é na verdade 100% Deus e 100% homem.
Uma vez que percebemos isso, vemos que há espaço para a natureza ter uma
autonomia qualificada. Afinal, se isso não prejudica a soberania de Deus para que
Ele faça cães 100% canídeos ou para ele fazer galinhas 100% galinhas, então não
há razão para que a soberania de Deus deva ser posta à prova apenas pelo fato
do homem ter livre-arbítrio.
(Como
um aparte, gostaria de salientar que, eu não estou tratando do “livre arbítrio”
no sentido compatibilista, em que somos livres para escolher o que queremos,
sem coerção. Filósofos naturalistas que acreditam que nossas mentes estão
completamente condicionadas por leis bioquímicas não têm nenhum problema ao
afirmar que os seres humanos têm livre-arbítrio nesse sentido. Na verdade, até
os mais radicais deterministas materialistas concordam que somos livres no
sentido de que podemos escolher de acordo com nossas inclinações. No entanto,
se isso é tudo o que entendemos por “livre arbítrio” , então temos confundido a
distinção entre determinismo e liberdade, acabando com qualquer significado
coerente desta última. Ambos os deterministas naturalistas e Calvinistas podem
concordar que a vontade é o efeito de desejos que nunca poderiam ter sido de
outra forma, mas somente o Calvinista adicionará a isso o sofisma de sugerir
que isso seja compatível com as noções comuns da liberdade humana.)
Objeções
e Respostas
Objeção
# 1: Muitas de suas observações sobre o Monergismo são problemas com o
Calvinismo e não com o próprio João Calvino. Os problemas que você diagnostica
ocorrem quando calvinistas levam certas tendências latentes dentro do
pensamento de Calvino a um extremo que o próprio Calvino discordaria. A
solução, portanto, não é rejeitar o Calvinismo, mas voltar a uma boa e mais
autêntica forma de Calvinismo.
Resposta
à Objeção # 1: É verdade que muitas das minhas observações sobre o
Monergismo baseiam-se na forma extremada como os calvinistas tomam os
ensinamentos de Calvino, abandonando o equilíbrio dialético que o próprio
Calvino foi capaz de preservar. No entanto, a própria teologia de Calvino não
pode ser totalmente blindada das críticas que levantei, especialmente no que
diz respeito ao jogo de soma zero entre Deus e a criação. Embora Calvino possa
não ter chegado aos extremos de seus seguidores posteriores, ele forneceu a
estrutura básica que, uma vez aceita, legitima os excessos que tenho
diagnosticado. Isso especialmente se torna evidente se considerarmos a dívida
de Calvino à tradição nominalista medieval, que é um tema que eu comecei a
explorar e será publicado num futuro próximo. No entanto, uma vez que esta
é, em última análise, um questão mais histórica do que teológica, eu não incluí
informações sobre ela dentro destas reflexões.
Objeção
# 2: Você apresentou uma caricatura do Calvinismo. As ideias calvinistas
que você examinou não são ideias calvinistas em absoluto. Para dar um exemplo,
as citações sobre oração representam uma posição minoritária entre os
calvinistas, como a maioria dos pensadores reformados sérios seguirá Calvino em
afirmar que a oração realmente muda as coisas. Da mesma forma, muitas das suas
preocupações sobre a abordagem de soma zero será compartilhada pela maioria dos
calvinistas sérios. Se você tem um problema com o calvinismo, melhor seria você
criticar as Confissões Reformadas (Westminster, Belga, etc.), em vez de olhar
para as expressões extremadas entre aqueles que professam ser Calvinistas.
Resposta
à Objeção # 2: Ao criticar “as ideias” dos calvinistas, não estou falando
apenas de ideias que são necessariamente ensinadas a partir do púlpito de uma
forma explícita. Pelo contrário, eu estou usando o termo “ideias” no sentido
amplo que Charles Taylor descreveu como o “imaginário social”, em A
Secular Age ou que James Davison Hunter se referiu utilizando a linguagem
dos “quadros pré-reflexivos” em To Change the World ou
que James K.A. Smith articulou como sendo o “inconsciente adaptável”
em Desiring the Kingdom. Esses e outros autores tentaram concentrar a
nossa atenção não em ideias que existem como conceitos soltos na cabeça de uma
pessoa, nem ideias que podem ser reduzidas a um conjunto de proposições no papel;
pelo contrário, todos eles estão nos pedindo para dar atenção às ideias que
existem como entendimentos não declarados que compõem o ‘background’ de como um
povo dá sentido ao seu mundo. Tais “ideias” existem na forma de entendimentos
implícitos e não podem nunca ser explicitamente articuladas ou cognitivamente
confessadas. Eles são, como Taylor descreve, a grande base fora de foco que dá
coesão a experiência de grupo, “algo muito mais amplo e mais profundo do que os
esquemas intelectuais podem cogitar quando pensam sobre a realidade social de
um modo desconectado.”
Agora
pegue essas categorias e aplique-as à abordagem de soma zero. O que estou
argumentando é que as comunidades Calvinistas são facilmente tingidas pela
abordagem de soma zero neste nível mais profundo e mais implícito. É
irrelevante que os calvinistas lerão este artigo e dirão: “Eu não reconheço o
tipo de teologia reformada que você está descrevendo, porque você está
apresentando uma caricatura do Calvinismo.” A razão pela qual isso é irrelevante
é porque eu estou diagnosticando conceitos embutidos no inconsciente adaptativo
das comunidades calvinistas ao invés de simplesmente doutrinas explicitamente
expostas no púlpito ou tribuna. Dirijo-me a uma rede de práticas basilares,
suposições e convenções que implicitamente ‘carregam’ certas noções, mesmo
enquanto as formulações doutrinárias não podem afirma-las explicitamente. Dito
de outra forma, eu estou lidando com uma teologia implícita que foge
aos leigos bem como a teologia oficial que é ensinada nos seminários ou na sala
de aula. Assim, quando eu me oponho ao Monergismo, estou contestando o pacote
completo, incluindo os excessos que ele implicitamente estimula e as narrativas
básicas que se tornam atrativas devido às categorias Monergístas. Estas
narrativas inconscientemente mascaram o estado geral das comunidades
Calvinistas porque elas afetam o modo como os leigos inconscientemente percebem
o mundo delas.
Por
Robin Phillips
Fonte:http://orthodoxyandheterodoxy.org/2014/01/22/why-i-stopped-being-a-calvinist-part-4-the-heresy-of-monergism/
Tradução:
Samuel Paulo Coutinho
Notas
do tradutor:
[1]
Os sinergistas arminianos creem que o processo de salvação sem dúvida possui a
cooperação humana, todavia, a regeneração, que é um elemento interno do
processo de salvação, é executada única e exclusivamente por Deus. Para
informações adicionais, ver o artigo Jacó Arminio: Regeneração e Fé.
[2]
O artigo original possui um tópico sobre Adoração que achei melhor não
publicar. Nele, o autor critica a inexistência de elementos físicos (imagens,
por exemplo) na adoração das igrejas Monergistas, como se isso fosse de certa
forma uma consequência da abordagem de soma zero dos calvinistas. Talvez esse
possa realmente ser um dos motivos pelos quais uma minoria de calvinistas não
considerem o uso imagens em seus cultos, todavia, os protestantes em geral, dos
quais a maioria não é Calvinista, rejeitam tanto a abordagem de soma zero
quanto o uso de imagens, o que desacredita o argumento. Mais importante que
isso, embora talvez a arqueologia demonstre que alguns grupos cristãos dos
primeiros séculos utilizassem elementos físicos em seus cultos, os protestantes
em geral, nos quais me incluo, veem tal prática como, no melhor dos casos, algo
sem fundamento bíblico e totalmente desnecessário e, no pior dos casos, como
uma transgressão à escritura: o pecado de idolatria.
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